Júlia explicou:
— Devo pedir desculpas por minha impulsividade e falta de juízo de anos atrás. Eu devo isso a ela.
Patrícia quase se engasgou com a boca cheia de vinho e tossiu duas vezes, com o rosto cheio de rejeição:
— Me poupe, amiga. Você sabe que a única matéria que precisei de recuperação foi a da professora Larissa. Só de pensar nela, já fico nervosa. Além disso, ela provavelmente nem lembra de mim. Não posso te ajudar.
Júlia viu que Patrícia estava tentando escapar e não insistiu mais.
Patrícia sorriu de forma astuta:
— Mas, eu conheço alguém que pode ajudar. Você lembra do meu primo José Cardoso?
Júlia tomou um gole pequeno de água e assentiu.
José Cardoso, o mais jovem líder em Física do país, recentemente nomeado um dos dez jovens cientistas mais influentes do mundo pela revista Natural.
Durante a graduação, estudou sob a orientação da professora Larissa em Ciências Biológicas Aplicadas, publicando cinco artigos em dois anos e sendo aclamado como um prodígio no campo.
Depois, mudou de área e passou a estudar Física, o que gerou grande repercussão na época.
E, como prova de seu talento, destacou-se igualmente na nova área, tornando-se uma figura importante no cenário internacional da Física.
Júlia e José estudaram na mesma universidade, mas em períodos diferentes, então ela era uma caloura quando ele já era uma lenda. Foi por Patrícia que Júlia descobriu a relação familiar deles.
Nos últimos anos, ele trabalhava em um instituto de pesquisa no exterior e retornou ao país há três meses.
Patrícia disse excitada:
— Meu primo perguntou sobre a saúde da professora recentemente, mas não teve tempo de visitá-la. Vocês dois podem ir juntos.
Patrícia achou a ideia perfeita, e ligou para José.
Depois de dois toques, ele atendeu.
Júlia ouviu a voz baixa e firme de José:
— O que foi?
Patrícia explicou brevemente a situação. Havia algum ruído ao fundo e ele parecia ocupado, desligando em menos de um minuto.
Mas ele concordou em encontrá-la amanhã, às 14h, no Olívio Bar.
Patrícia apertou a mão de Júlia:
— Descanse bem hoje e deixe o resto para amanhã.
Júlia assentiu:
— Obrigada, entendi.
No dia seguinte, Júlia saiu de casa meia hora antes.
Ao chegar ao restaurante, olhou para o relógio e viu que faltavam dois minutos para as duas.
No horário exato.
Ela entrou e foi levada pelo garçom até uma mesa próxima à janela, onde um homem estava sentado, bebendo café com uma expressão tranquila.
Ele vestia uma camisa branca simples e calças pretas, com óculos de armação dourada, e a luz do sol iluminava seu perfil, parecendo uma pintura.
Em contraste, ela estava de jeans e camiseta branca, com o cabelo preso em um rabo de cavalo, sem maquiagem. Definitivamente, parecia casual demais.
Sentindo o olhar de Júlia, José levantou a cabeça:
— Sente-se, quer beber o quê?
A voz dele era profunda e suave, fazendo Júlia voltar à realidade. Ela se sentou e sorriu com desculpas:
— Desculpe a demora.
Os olhos negros dela refletiam uma leve preocupação.
José ajustou os óculos e respondeu calmamente:
— Você não demorou. Eu cheguei cinco minutos antes. Tenho dados de laboratório para analisar, então só posso te dar trinta minutos. É suficiente?
— Sim, é suficiente.
José foi direto ao ponto:
— Você quer que eu faça o quê quando visitarmos a professora Larissa?
Sua objetividade surpreendeu Júlia de forma positiva. Ela explicou calmamente:
— A professora já saiu do hospital, mas eu não sei onde ela está morando agora. Gostaria que você me levasse até ela. E se ela ficar brava, você poderia me ajudar a acalmá-la? Afinal, ficar irritada faz mal à saúde.
Ao ouvir isso, José pareceu esboçar um leve sorriso.
Júlia continuou:
— Sei que você está ocupado, então pode marcar o horário que for melhor para você.
José assentiu:
— Tudo bem, em dois dias.
Júlia agradeceu a ele e, de repente, perguntou:
— Por que você está disposto a me ajudar?
José a observou por um momento antes de responder:
— Porque você é Júlia Ferreira. A professora Larissa disse uma vez, que na vida dela há três arrependimentos: a vastidão da pesquisa versus a brevidade da vida, não ter filhos, e… Júlia Ferreira.
Júlia ficou em silêncio, sentindo uma dor aguda no coração.
José a observava com uma expressão analítica, sua curiosidade visível, mas logo voltou a uma postura neutra.
Era a primeira vez que via Júlia pessoalmente, mas não era a primeira vez que ouvia seu nome.
O que havia de especial nessa garota para que a professora Larissa a considerasse um de seus maiores arrependimentos?
Júlia abaixou o olhar, imaginando a expressão desapontada e pesarosa da professora ao falar dela
José pegou um papel e escreveu um número:
— Este é meu número de celular.
Júlia olhou para os números bem escritos.
...
— Seu Tiramisu.
O garçom colocou a sobremesa na mesa, dando uma olhada discreta nos clientes à sua frente.
O homem tinha um rosto bonito, mas parecia um pouco impaciente.
Do outro lado da mesa, a mulher usava um vestido vermelho Dior e carregava uma bolsa Hermès branca, claramente uma moça de família rica.
Ela não parecia notar a impaciência do homem, falando sem parar:
— Rafael, soube que você tem problemas no estômago. Nós temos um médico especialista em nossa família, ele pode te ajudar…
Rafael brincava com o isqueiro, respondendo por vezes.
Esse encontro foi arranjado por Fernanda Alves, e já que ele veio, não queria ser rude. Mas ele não estava interessado no que a mulher dizia.
Olhando ao redor, de repente ele viu algo que chamou sua atenção.
A uma distância de quatro ou cinco mesas, Júlia estava sentada com um homem, sorrindo levemente.
O som de voz, que antes ele conseguia suportar, tornou-se irritante. Rafael desviou o olhar com um sorriso sarcástico.
— Eu tenho que ir. — Disse José.
Ele estava com o tempo contado, e trinta minutos era o máximo que ele podia oferecer. Júlia compreendeu e os dois se levantaram juntos.
Ao saírem do restaurante, José abriu a porta para ela, um gesto cavalheiresco.
Júlia sorriu e agradeceu.
Eles chegaram à calçada. José disse:
— Meu carro está ali.
Júlia assentiu:
— Até depois de amanhã.
Ela ficou ali, observando-o partir, e só então virou-se para ir embora.
No instante em que se virou, encontrou um olhar cheio de ironia e frieza.
— Já arrumou outro homem tão rápido?