Seja a minha garota
Seja a minha garota
Por: Carol Moura
Prólogo

PLAYLIST

Hot n’cold – The Baseballs

Angels – The Baseballs

Candy Shop – The Baseballs

Miami – The Baseballs

Candy shop – The baseballs

Follow me – The Baseballs

Quit playing games – The Baseballs

My Girl – The Temptations

The Great Pretender – The Platters

Be my Baby – The Ronettes

Come on, lets go – Ritchie Valens e Los Lobos

Donna – Ritchie Valens e Los Lobos

Mil novecentos e cinquenta e oito foi um ano importante.

Imagine você que neste ano Elvis se alistou no exército para servir aos EUA deixando suas fãs deprimidas. Ritchie Valens apresentava ao mundo a primeira versão de La Bamba, a canção alcançou a 22ª posição na lista das músicas mais ouvidas da Billaboard.

Michael Jackson e Madonna nasceram em 1958.

Tudo bem, naquele momento não era importante para o mundo, mas em alguns anos...

A NASA foi fundada em Washington. A USS colocava a seu primeiro submarino no mar.

E Dominic London colocou os seus olhos na bela e diferente Jamie Everest.

Dom, como sua família e amigos o chamavam, menos Faith Stuart, a namorada de seu irmão mais velho, Tom, esta o chamava de marginal, estava no auge de sua juventude e rebeldia. Ainda seguia os passos do astro James Dean, morto desde cinquenta e cinco. Não era exatamente porque ele queria imitá-lo. Era apenas um jovem querendo aproveitar a vida, mas um tanto inconsequente e encrenqueiro. Seus pais e irmãos sofriam constantemente com seus ataques de revolta e naquele verão a Anne London, sua mãe, havia decidido:

Ou Dominic mudava ou iria para a escola militar.

E escola militar aos dezesseis anos significava uma coisa: Um pequeno adiantamento do terror que viveria em dois anos quando finalmente se alistasse no exército americano.

Ele rezava todas as noites para que a lei mudasse e nunca tivesse que se encaminhar para o suicídio compulsório.

O verão estava acabando, e os habitantes da pequena cidade de Midles Creek, ao sul dos Estados Unidos, estavam voltando às atividades normais. E os adolescentes da localidade, com um pouco mais de cinco mil habitantes, estavam de volta para a Midles High. O diretor da escola aguardava ansiosamente a chegada de Dominic London. Antes do final do ano letivo, Dom e seus amigos haviam pregado uma bela peça nos alunos da escola e o diretor Harrison estava ansioso para punir o rapaz. Assim, ao colocar seus pés no primeiro dia de aula, logo o mais rebelde dos alunos foi chamado na direção. Ele entrou na sala nojenta e fedida do diretor porco e sentou na cadeira em frente a sua mesa com displicência. Uma atitude obviamente desafiadora.

— Bem, senhor London, fico feliz em anunciar que eu não morri ou sofri de amnésia nos últimos meses, então  adivinhe: eu ainda lembro do seu pequeno ato de vandalismo no ginásio da escola no último dia de aula antes das férias.

Dominic sorriu minimamente lembrando-se dos alunos correndo do ginásio para não se molharem com os spriters acionados "acidentalmente" pela fumaça de um pedaço de papel incinerado e colocado próximo demais ao dispositivo.

Foi apenas uma brincadeira para Dominic. Mas para o diretor foi mais um ato de vandalismo. Os vandalismos não se restringiam a pequenas brincadeiras. Vidros quebrados, brigas violentas, beber e fumar nas dependências do colégio, rachas de moto em frente a escola. Dom estava fora de controle.

— Não sorria, senhor London, porque este ano um anjo apareceu em minha vida. — O diretor Harrison avisou com um deleite exagerado. Os olhos do homem, por trás dos óculos, chegaram a fechar tamanho prazer.

Dominic o olhou sem emoção, o diretor sempre tentava pegá-lo, mas suas notas eram excelentes e sua mãe era conselheira do corpo estudantil. Harrison ficava apenas nas tentativas.

— Infelizmente não posso expulsá-lo, pois não tenho provas, sua mãe ficaria no mínimo chateada, e suas notas são excelentes. — o homem disse tirando os óculos e limpando com um lenço, em seguida colocou-os novamente, então começou a mexer em algumas pastas em sua mesa.

Dominic se contorceu levemente em sua cadeira, sempre sentia-se encurralado em qualquer lugar que não fosse seu quarto ou sua moto.

— Aqui está. — O professor levantou mostrando para o rapaz com uma firula exagerada, como se estivesse dizendo: ‘Lero lero’.

Dominic revirou os olhos sentindo o tédio começar a tomar conta, quando aquilo acontecia, ele ficava sem paciência. Poderia estar fazendo qualquer coisa antes das aulas começarem no lugar de estar preso com Harrison e seu complexo de Deus.

— Jamie Everest, recém-chegada. Tinha aulas em casa na cidade em que morava, agora precisa de um tutor.

Dominic arregalou os olhos e sentou-se ereto na cadeira. Harrison assistiu aquilo extasiado.

 — Você não tem ideia do prazer que sinto vendo o seu desespero, London. — Regozijou o homem. Foi a vez do diretor se jogar em sua cadeira e olhar para Dominic com superioridade.

— Eu não sou um tutor. — Dominic finalmente falou, sua voz sempre tão imponente e acompanhada de respostas espertinhas não parecia tão confiante naquele momento.

O diretor sorriu ao perceber o tremor na voz do rapaz. Desestabilizar o marginalzinho era uma vitória.

— Discordo. Você é a melhor opção. — Riu fazendo o maxilar de Dominic se apertar. — Tem excelentes notas, é popular, todo mundo conhece você, por isso ela vai conseguir se enturmar rapidamente. E... — Harrison levantou o dedo — Você vai odiar cada segundo disto. E esta é a parte que mais me diverte, Dominic.

Dom começou a sentir um incômodo nos seus dentes, começavam a ficar doloridos, foi quando percebeu que apertava-os com força demais. Suas mãos também estavam fechadas em punho. Queria socar a cara do diretor. Aquela raiva queimando dentro dele, sempre lá, pronta para sair e causar danos. Não sabia bem o motivo, apenas a sentia. Como se nunca se encaixasse em lugar nenhum.

— Ela é cega? Surda? — Perguntou, tentando relaxar. Se ela estudava em casa tinha algum problema. — Tem alguma deformação? É burra?

— Nada disso. Jamie é muito inteligente mesmo hum... com sua condição, enxerga bem e entre suas aptidões está a prática de piano, dificilmente é surda. — Continuava a analisar a ficha. — Oh! Aqui diz que é muito boa em piano. O que realmente é uma vitória dado o seu diagnóstico.

— Grande coisa. — Resmungou Dominic. Pouco se importava se ela tocava piano, ele também tocava, isso não fazia de ninguém um prodígio.

— Bem, então ela precisa de um tutor para quê? — Questionou sem entender o motivo para a menina precisar de uma babá.

— Você já ouviu falar em dislexia?

Ótimo! Simplesmente perfeito.

— Pela sua cara de desespero, vejo que sim. — O diretor mal cabia em si de tanta felicidade. — Jamie tem dislexia. Não sabemos com exatidão o grau, seus pais não foram hum... muito participativos no momento em que a matricularam, mas a mãe entende que o fato da senhorita Everest ter dislexia e nunca ter convivido em um ambiente escolar pode ser muito estressante para ela, por isso ela...

— Não me interessa o que a mãe dela pensa, não serei tutor desta garota. Não concordo com nada disto. — Cruzou seus braços para pontuar a sua decisão.

— Quando falei mãe, estava me referindo a Anne London. Sua mãe. Conselheira do corpo estudantil. Sua mãe, Dominic. — Explicou como se Dom fosse aquele com problemas de assimilação.

— Isso não pode estar acontecendo. — O rapaz escorregou pela cadeira encolhendo um pouco, para maior satisfação do diretor. O que sua mãe estava fazendo? O que diabos ela queria com aquilo tudo? Castigá-lo? Dar-lhe uma lição?

 — Eu garanto que está. Sua mãe pensa que você sendo excelente em inglês e literatura, poderá ajudar a senhorita Everest uma vez que seu maior desafio são nestas disciplinas, nas outras ela é decente levando em consideração que foi ensinada em casa. Nenhum gênio como você, é claro, mas a menina é aplicada. Dada toda a sua situação é realmente muito inteligente.

— Eu não serei babá de gente problemática. — Dom levantou-se saindo em direção a porta. — Vou falar com a minha mãe, ela vai voltar atrás.

— É isso ou você está fora, London. — E lá estava novamente o gosto doce da vitória na boca de Harrison. — Sua mãe mencionou a escola militar. Eu acho que o uniforme substituirá muito bem a sua jaqueta de couro e o sorriso de merda na sua cara, rapaz.

O ano estava começando e Dominic London tinha certeza que seria o pior de sua vida.

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