Gabrielle Goldman
Eu conhecia bem demais aquele olhar. Era o mesmo olhar que me encarava todas as manhãs no espelho: o de quem carrega algo imperdoável nas costas, algo que nem o tempo, nem o amor, nem a redenção jamais seriam capazes de apagar.
A diferença é que, naquele momento, eu me recusei a deixar que ele afundasse sozinho.
Merda... Quem, exatamente, eu pensava que estava tentando enganar?
Aquela reação impulsiva, aquela fuga desenfreada, nunca foi por ele. Nunca seria. Eu era incapaz de sentir dor alheia, não do tipo verdadeiro, profundo, que rasga e sangra. Sempre fui. Aquela corrida desesperada, como um criminoso abandonando às pressas a cena do próprio crime, era só isso: uma tentativa patética de não ver, de não sentir, de não ser arrastada junto para o mesmo