229. O que restou das palavras não ditas
Lucas Park
Nunca fui um homem que alimenta expectativas ou colhe arrependimentos. Sempre fui convicto das minhas limitações e dos riscos que estive disposto a correr. Nunca me permiti apostar alto demais, nunca arrisquei o que não estava disposto a perder. Pelo menos não antes dela.
Haviam duas dela. A menina que conheci antes de partir e a mulher que encontrei ao retornar. Duas faces da mesma pessoa, e, no entanto, não poderiam ser mais diferentes. E eu, sendo o único filho da puta que teve ambas — e as perdi.
Mas como disse, não costumo chorar pelo leite derramado. Ou pelo menos, não costumava.
Se houvesse um placar no inferno, uma contagem exata para cada vez que a ferisse exclusivamente para proteger meus próprios interesses, meu nome estaria no topo. Cada palavra dita com frieza, cada vez que a empurrei para longe, cada silêncio que escolhi manter... Tudo foi uma decisão calculada, uma estratégia para impedir que esse momento exato acontecesse. Mas, no fim, a