Capítulo 27
David Bellerose Neto
Eu estava trocando o Matthew em silêncio, tentando entender como, em tão poucos dias, minha vida tinha se dividido em antes e depois. Antes dele. Depois dele. A forma como aquele menino agarrava meu dedo com tanta força parecia um lembrete constante: eu tenho algo pelo qual lutar. Eu tenho novamente uma razão.
Mas o passado… o passado não solta fácil.
O toque do celular cortou aquele momento em dois. Um som comum, mas que virou uma faca quando vi o nome brilhando na tela.
Clarisse.
Meu sangue gelou. Meus dedos pararam no ar. E o mundo, que estava calmo dois segundos antes, pareceu se dobrar sob meus pés, trazendo a tona a dor ainda tão recente.
Lavínia provavelmente vendo meu semblante mudar, perguntou assustada:
— Neto? Quem é?
Engoli seco. Minha boca estava seca como areia.
— É… a Clarisse.
Meu coração não batia — ele tropeçava dentro do peito.
Atendi.
— Alô?
Mas não era a voz dela.
Era a mãe.
Chorando.
Trêmula.
Desesperada.
— Neto… pelo amor de Deus