01

- Que você seja muito feliz lá, minha querida. – Márcia disse, os olhos cheios de lágrimas em virtude da despedida.

- Dona Márcia, nunca esquecerei o que fez por mim e minha família. – abraçou a mulher e chorou – Eu queria que pudesse ir comigo, me sentiria mais segura.

-Não posso, querida. Quem vai cuidar da minha casa, se eu for embora?

Virgínia assentiu.

A mulher beijou o rostinho de Diego e ajudou os dois a entrarem no quarto do advogado, que esperava pacientemente. Depois que as despedidas foram feitas e que todos estavam no carro, eles partiram, rumo a um futuro incerto que Virgínia temia que fosse um engano.

Ainda não conseguia acreditar que ela e Diego tiveram tanta sorte de se tornar herdeiros de uma grande fortuna que os deixaria seguros pelo resto da vida.

Durante a viagem, o advogado falou um pouco sobre a empresa, a diretoria era formada apenas por homens, por isso Virgínia não poderia se mostrar com medo ou insegura, senão seria massacrada. Ele garantiu que estaria auxiliando-a no que fosse necessário e sempre que ela quisesse.

Poucas horas depois, o carro parava em frente a uma enorme construção antiga que parecia abandonada.

Parecia uma casa mal assombrada, dos filmes de terror.

Era uma casa muito grande, de dois andares, que, nos tempos áureos provavelmente tinha sido muito bonita e imponente no meio de uma propriedade arborizada. As árvores e a grama não viam um aparador há muito tempo.

- Chegamos. - o homem disse, enquanto a ajudava a sair do carro com o bebê.

Virgínia observou a construção que estava nitidamente deteriorada.

- Antes de morrer, a Sra. Vera já não se preocupava mais com a manutenção da casa. Ela estava depressiva e só pensava em reencontrar seu pai. - o homem disse ao perceber o olhar de espanto de Virgínia.

Era triste que tanto o pai quanto a avó tenham morrido brigados, os dois morreram sozinhos, com feridas ainda sangrando.

Eles entraram e o homem foi mostrando cada canto da casa que era grande, com dois andares e precisava urgente de reparos. A escada para o segundo andar tinha alguns degraus com a madeira podre e um verdadeiro perigo, o chão estava quebrado e todo o ambiente cheio de poeira.

Os dois combinaram de iniciar a reforma imediatamente, enquanto Virgínia e Diego se acomodavam no quarto menos ruim, que era o da falecida avó, o cômodo ficava na parte térrea da propriedade.

O advogado instruíra aos empregados que moravam ali para que preparassem o quarto para Virgínia e o bebê, afinal eles precisavam ficar em algum lugar daquela casa enorme.

O homem apresentou os empregados que permaneceram no local por todo aquele período: Celso, o caseiro e Naty, a cozinheira. Eles eram pai e filha. O homem era um senhor de estatura mediana e com a barriga tão proeminente como seu bigode grisalho, ele tinha os olhos bondosos e sorridentes. A garota era simpática e sorria abertamente, era alta, magra e tinha os cabelos castanho-claros presos em um rabo de cavalo.

Virgínia gostou dos dois assim que os viu, Naty disse que adorava cuidar de crianças e já pegou Diego no colo, ninando o garotinho.

- Onde estão as malas, senhora? – o caseiro perguntou, solícito.

- Hm... no carro, mas não se preocupe, sr. Celso, eu posso pegar.

O homem riu.

- Não se preocupe, senhora. Vou levar tudo para o quarto da senhora sua avó. – ele saiu com Alberto para pegar as coisas dos novos donos da casa.

- Ele é muito bonito. – Naty disse para ela – Seu filho é lindo.

Virgínia sorriu e sentiu um aperto no peito ao ouvir aquilo. Todos pensavam que era a mãe do menino, sentia-se usurpando o lugar da irmã, por isso explicou que era tia dele e que a verdadeira mãe de Diego morrera logo após o garoto nascer.

Naty ouviu tudo com tristeza, a menina parecia ser muito amável e carinhosa. Logo se desenvolveu um elo entre as duas e Virgínia sentiu-se mais calma, por perceber que não estaria ali com pessoas ruins.

Quando suas coisas já estavam no quarto e Alberto fora embora, prometendo que voltaria no dia seguinte para que fossem à empresa, ela e Diego foram para o quarto e a tia suspirou feliz ao ver o sobrinho dormindo na enorme cama de casal que tinham arrumado para eles. Ao que tudo indicava, aquilo não era um engano. Eles estavam amparados. Eles tinham se tornado herdeiros de uma grande fortuna.

Diego teria um futuro garantido.

Virgínia não teria mais medo de que levassem ele para sempre.

Eles ficariam bem, apesar da dor de serem sozinhos no mundo.

No dia seguinte, como prometido, Alberto voltou para que ele e Virgínia fossem até à empresa.

A moça sentia-se realmente nervosa.

Nunca entendera de negócios ou coisa parecida. Era uma simples professora do ensino infantil, só sabia lecionar, nada mais.

Escolheu um vestido que usara na sua formatura e era a roupa mais “social” que havia em seu armário: um traje verde-esmeralda, sem mangas, cinturado, justo no busto e solto até os joelhos. Calçou um sapato preto de salto médio e fez uma maquiagem bem leve.

Olhou para o espelho que havia no quarto e achou que estava apresentável para uma reunião importante.

Foi até o pequeno berço que trouxera do interior e observou o sobrinho dormindo. O menino era muito tranquilo, só chorava quando estava faminto. Ele era um presente que sua irmã lhe dera e faria tudo para protegê-lo.

Saiu do quarto e foi para a cozinha, onde Celso, Naty e Alberto estavam.

- Bom dia. – sorriu para todos.

- Você está muito bonita, senhora. – a moça disse, sorrindo.

- Obrigada. Naty, não é necessário que me chame de senhora. – pediu – Aliás, nenhum de vocês, por favor.

- Você já está pronta para ir? – Alberto perguntou.

- Sim. – respondeu para o homem – Vamos.

Entraram no carro do advogado e partiram para a empresa.

- Virgínia, você não pode se mostrar tímida para eles, não esqueça. O conselho diretor é formado por homens velhos, raposas que estão prontas para atacar.

Ouvir aquilo só deixou a moça mais nervosa, mas Virgínia apenas assentiu.

Quando chegaram no enorme prédio envidraçado de dezoito andares, foram até o elevador e subiram ao último andar.

- Bom dia. – uma mulher de meia-idade levantou-se de uma mesa de mogno que havia no canto, ela sorriu para o advogado.

- Bom dia, Laura. Esta é Virgínia Bianchi, neta da sra. Vera.

A mulher sorriu e estendeu a mão que Virgínia apertou.

- Prazer, senhorita. Ainda bem que você conseguiu encontrá-la, eu não aguentava mais esses velhos... – a mulher revirou os olhos e o advogado a reprovou com um pigarro.

Mas Virgínia logo gostou da secretária que parecia ser uma pessoa bem espontânea.

- Eles já chegaram? – o advogado perguntou

- Sim, estão na sala de reuniões. Vou adorar ver a cara deles. – Laura disse, mas Alberto a conteve.

- Laura, eu e Virgínia entraremos, você fica aqui.

Ela percebeu que o rosto da mulher ficou triste por não estar presente num momento tão importante.

Foram até o corredor e entraram em uma sala ampla com uma mesa grande e cadeiras em volta.

- Bom dia. – Alberto disse para os presentes na sala. Todos eram do sexo masculino.

- Demorou hein, Alberto. – um dos homens disse – Então, o que você trouxe?

- Esta é Virgínia Bianchi, neta da sra. Vera. A única herdeira desta empresa.

Os homens a olharam, uns com mera curiosidade, outros, com raiva.

- Bom dia. – ela disse.

- Isso só pode ser uma mentira sua, Alberto! – o mesmo homem que falara antes, disse- Eu exijo que um exame de DNA seja feito!

- Tomas, não há necessidade disso. Há documentos suficientes que provam a relação sanguínea entre elas. – o advogado suspirou – A partir de hoje, ela tomará conta desta empresa, assim como o testamento determina.

Um burburinho tomou conta da sala, mas os homens não puderam mais falar nada e saíram.

- Muito bem, Virgínia. Tudo correu bem.

Ela olhou para o homem em dúvida.

Aquilo era ir bem?

- Eu quero que você me ajude, sr. Alberto. Por favor.

O homem concordou e logo foram para a sala da diretoria, onde Alberto lhe explicou algumas coisas sobre os negócios.

Voltaram para casa já quase no meio da tarde. Virgínia foi logo ver o sobrinho que dormia no quarto.

Ela sorriu para o menino e pensou que agora estavam seguros e seriam felizes.

Ninguém conseguiria separá-los.

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