Mundo ficciónIniciar sesión***
Mais tarde naquela tarde, Ayla dirigia por uma cidade vizinha, procurando emprego.
Ela tinha sonhos. Queria estudar medicina. Queria ajudar pessoas. Mas faculdade custava caro, e ela não tinha ninguém para bancar seus estudos. Então precisava trabalhar. Economizar. Construir seu futuro sozinha.
Foi quando viu o prédio.
Alto, moderno, todo de vidro espelhado refletindo o céu nublado. Uma placa dourada na entrada dizia: *VALECLIFF ENTERPRISES*.
E logo abaixo, um papel fixado na porta de vidro: *PROCURA-SE SECRETÁRIA. MEIO PERÍODO*.
Seu coração acelerou.
Aquilo era perfeito. Meio período significava que ela poderia estudar. E a empresa parecia séria, estabelecida.
Respirou fundo e caminhou até a entrada. Mas quando alcançou a porta, hesitou.
*Será que estou qualificada? Será que eles vão me contratar?*
A insegurança a puxou de volta. Talvez fosse melhor procurar algo mais simples. Algo onde não precisasse competir com pessoas mais experientes.
Virou para sair.
— Não vai entrar?
A voz veio atrás dela, grave, educada, carregando um leve sotaque que ela não conseguiu identificar.
Ayla se virou.
E congelou.
O homem parado ali era... impressionante. Alto, impecavelmente vestido num terno preto que devia custar mais que o carro dela. Cabelo escuro penteado para trás, pele pálida, olhos que pareciam enxergar através dela.
E havia algo nele. Algo que a fazia querer recuar e se aproximar ao mesmo tempo.
— Eu... — Sua voz falhou.
Ele inclinou a cabeça levemente, um gesto elegante, quase aristocrático.
— A vaga ainda está disponível. — Um sorriso pequeno tocou seus lábios. — Se você estiver interessada.
Ayla sentiu seu rosto esquentar. Como ele sabia que ela estava ali pela vaga?
— Eu não sei se... se estou qualificada.
— Deixe-me ser o juiz disso. — Ele se aproximou, estendendo a mão. — Lucian Valecliff. Prazer em conhecê-la...
— Ayla. — Ela apertou a mão dele automaticamente. — Ayla Morgan.
A mão dele era fria. Gelada, na verdade. Mas o aperto foi gentil.
E por um segundo — apenas um segundo — ela viu algo passar pelos olhos dele.
Reconhecimento.
Mas desapareceu tão rápido que ela achou ter imaginado.
— Bem, Ayla Morgan. — Lucian soltou sua mão, mas continuou sorrindo.
— Por que não entra? Podemos conversar sobre a posição.
Hesitei.
Meus pés pareciam grudados no chão, como se meu corpo soubesse algo que minha mente se recusava a aceitar. O homem esperava pacientemente, as mãos nos bolsos do terno impecável, uma expressão gentil no rosto aristocrático.
— Você está insegura. — Não era pergunta. Ele simplesmente... sabia. — É compreensível. Entrevistas de emprego são intimidadoras.
— Eu... nunca trabalhei antes. — As palavras saíram antes que eu pudesse filtrá-las. — Talvez eu não seja a pessoa certa para—
— Por que não me deixa decidir isso? — Ele gesticulou em direção à porta de vidro. — Venha. Vou mostrar a empresa, explicar a vaga. Sem compromisso. Se ao final você ainda achar que não é para você, sem problema.
Algo na voz dele era tranquilizador. Paternal, quase.
Respirei fundo e acenei.
— Tudo bem.
O sorriso dele se ampliou, e ele abriu a porta, me deixando entrar primeiro.
O interior da Valecliff Enterprises era ainda mais impressionante que o exterior. O hall de entrada tinha pé-direito altíssimo, piso de mármore polido refletindo as luzes modernas do teto. Funcionários circulavam com pastas e tablets, todos vestidos profissionalmente, todos parecendo saber exatamente o que faziam.
Eu me senti completamente deslocada.
— Café? — Lucian já estava se dirigindo para um canto onde havia uma máquina de expresso reluzente. — Ou chá, se preferir.
— Café está ótimo. Obrigada.
Ele preparou duas xícaras com movimentos precisos, quase elegantes, e pegou um pratinho com biscoitos de uma bandeja próxima.
— Venha. Vou te mostrar como funciona aqui.
Segui-o pelo prédio, tentando absorver tudo. Lucian explicava cada detalhe com paciência — os andares, os departamentos, como funcionava o sistema de elevadores, onde ficavam os banheiros, a copa, a sala de descanso.
Subimos vários andares. Funcionários cumprimentavam Lucian com respeito, e ele sempre respondia educadamente, às vezes parando para me apresentar.
— Esta é Ayla Morgan. Possivelmente nossa nova assistente.
Todos me recebiam com sorrisos calorosos, como se já fizesse parte da equipe. Havia uma sensação de... *família* ali. Não o tipo corporativo frio que eu esperava.
— Senhor Valecliff é um ótimo chefe — uma mulher de óculos me disse, piscando. — Você vai gostar de trabalhar aqui.
Senti meu rosto esquentar.
Quando finalmente paramos num andar mais alto, Lucian empurrou uma porta que levava para uma área externa. Um terraço enorme, com vista para a cidade inteira. O vento soprava suavemente, trazendo o cheiro de chuva distante.
— Prefiro fazer entrevistas aqui. — Ele gesticulou para que eu me sentasse numa das cadeiras de ferro. — Escritórios são sufocantes. As pessoas precisam de ar fresco para pensar claramente.
Sentei, segurando a xícara de café entre as mãos. Lucian se acomodou à minha frente, cruzando as pernas de forma relaxada.
— Então, Ayla. — Os olhos dele eram gentis. — Me conta um pouco sobre você. Já trabalhou antes?
— Não. — Desviei o olhar, envergonhada. — Essa seria minha primeira vez.
— E o que te fez procurar emprego agora?
— Eu quero fazer medicina. — Minha voz saiu baixa. — Mas faculdade é cara. Preciso economizar. Juntar dinheiro. E... não tenho ninguém que possa me ajudar com isso.
Algo mudou na expressão de Lucian. Não pena. Compreensão.
— Seus pais?
— Morreram. Há muito tempo.
— Sinto muito.
O silêncio que se seguiu não foi desconfortável. Era respeitoso.
— Você está estudando? — perguntou ele depois de um momento.







