Capítulo 4

Depois de uma viagem fatigante, Pilar finalmente chegou a fazenda Ruiz Gutierrez; para aquela que, seria por ela, a mais longa e desagradável estadia de toda a sua vida, e isso se confirmou no momento em que os Martinez a apresentaram para o casal Ruiz Gutierrez — pais de Cristina Martinez e Javier Ruiz Gutierrez.

A frieza com que eles a receberam já era esperada por ela e, diante daquela recepção nada calorosa, Pilar limitou-se a ficar no canto da sala em prontidão, a espera de que ela fosse conduzida para a área de serviço ou para um dos quartos do imenso casarão, que também servia como sede da vinícola principal. 

Diante do rosto apreensivo e da expressão cansada de Pilar, Cristina dirigiu-se a sua mãe e perguntou-lhe gentilmente.

— Mãe, em que quarto a senhorita Sanchez ficará enquanto estiver hospedada aqui?

— No último quarto do corredor, à esquerda. — Respondeu olhando detidamente para Pilar.

— Tantos quartos nesta casa, por que a colocará tão distante de nós, mamãe? — Cristina a questionou surpresa.

— Justamente por isso, querida! Javier a quer distante de nós. Esta moça, sem dúvidas, será uma péssima influência para Emma e o quanto mais distante a mantermos afastada dela, melhor. — A senhora Maria Angeles Gutierrez disse sem importar-se com a presença de Pilar no salão. 

Diante daquela resposta nada convencional, Cristina bradou consternada.

— Não acredito que Javier teve a coragem de dizer-lhe uma coisa dessas! Se ele não estava disposto a acolhê-la na fazenda, por que então acatou o meu pedido?

— Ele só aceitou acolhê-la porque infelizmente o teu filho está sendo gerado no útero dessa mercenária — Respondeu desgostosa e acrescentou. — Mas isso não significa que nós sejamos obrigados a querer a companhia dela.

Sem dar a Cristina a chance de consternar, Pilar disse-lhe compreensiva.

— Entendo a posição de sua mãe e de seu irmão por não querer-me circulando pela casa. Como estou aqui na qualidade de serviçal, gostaria de ficar nos aposentos dos empregados. — Observando o semblante contrariado de Cristina, pediu a seguir. — Se assim me permitir, senhora Martinez.

Pablo, que até então acompanhava o diálogo sem se indispor, disse surpreso com o posicionamento dela. 

— Você não é nenhuma serviçal Pilar! 

— Sou sim, senhor Martinez. A partir do momento em que assinei o contrato com o senhor, tornei-me uma serviçal. — Respondeu consciente de sua posição. — Se o senhor e a sua esposa querem que eu tenha uma gravidez tranquila, o melhor mesmo é eu ficar na área dos empregados; pelo menos não vou sentir-me sozinha enquanto estiver vivendo aqui.

O clima entre os membros da família Gutierrez e da família Martinez estava tenso e pouco propício para receber uma recém-grávida, que naquele momento estava deslocada e com os nervos à flor da pele, naquele ambiente sufocante e pouco convidativo, de modo que, mesmo a contragosto, Pablo e Cristina aceitaram os argumentos de Pilar e em seguida ela foi encaminhada para um dos quartos de empregados da família Gutierrez.

Embora o quarto que estava ocupando fosse dos serviçais, o mesmo era bastante confortável e parecia ter calor humano, — talvez por ele ser o mais próximo da realidade dela, e isso a remetia a sensação de estar em sua própria casa.

O olhar desolador de Cristina para Pilar era perceptível, e nessa hora ela tinha quase certeza de que a senhora Martinez estava arrependida de tê-la trazido para aquela fazenda; mesmo a propriedade sendo do irmão dela.

Diante da desolação estampada nos traços delicados da senhora Martinez, Pilar disse sincera, para reconforta-la.

— Não precisa preocupar-se, que eu e os seus filhos ficaremos bem... Acredite senhora, esse quarto é muito mais confortável do que o meu lá em Madrid.

— Não é justo que você seja submetida a essa humilhação. — Cristina disse analisando o quarto a sua volta. — Pilar, tu estás carregando meu filho no seu ventre. 

— Eu sempre fui pobre dona Cristina. Nunca fui acostumada a ter muito, de modo que esse aposento está ótimo para mim. — Observou e acrescentou a seguir. — Estar neste quarto não é nenhuma humilhação para mim; humilhação mesmo é ser tratada como uma mercenária, mas dada as circunstâncias em que coloquei-me diante de sua família é aceitável que eles vejam-me como uma golpista.

— Você não entendeu nada minha querida. Eu não queria que meu bebê se sentisse rejeitado por minha família. — Observou abalada e completou. — Não é apenas você que está sendo submetida a esta humilhação, mas ele também.

— Só peço-lhe que confiei em mim. Mas do que ninguém eu quero ter uma gravidez tranquila e saudável. — Disse calmamente e prosseguiu. — Se os seus pais, que até então fizeste-me acreditar que eram pessoas amáveis agiram desse jeito, imagine só qual será a reação do seu irmão.

Diante daquela observação, Pilar sentiu certo desconforto em Cristina, e a certeza de que ela tinha tocado profundamente na raiz do problema: Pilar era uma hóspede indesejada que estava caindo de paraquedas em cima da família Gutierrez e eles seriam obrigados a suportar a presença dela pelo fato de ela trazer no útero o neto ou neta deles, pois se a situação fosse outra, ela tinha certeza de que nunca conseguiria pôr os pés naquela fazenda.

Embora soubesse que os argumentos dela foram consistentes, Cristina dificilmente dar-se-ia por vencida, o que a obrigaria a ser mais firme em relação a ela, pois independente de qualquer coisa ou argumento, Pilar não iria se sujeitar aquela situação de exposição e nem tão pouco, de humilhação.

Frente àquela firme decisão, ela observou irredutível.

— Não há nada especificado no contrato que obrigue-me a dividir o mesmo espaço que os seus familiares, de maneira que, para o bem dos seus filhos e de minha saúde mental; vou permanecer aqui.

— Desse jeito Pilar você obriga-me a tomar medidas drásticas. — Cristina disse dura.

— Pretende fazer o quê? Manter-me em cárcere privado ou acorrentar-me na porcaria de um quarto de luxo, só para manter o teu status? — A questionou apreensiva e acrescentou. — Por que se for isso pode começar a providenciar a mordaça e as correntes, por que eu só vou sair daqui acorrentada ou amordaçada.

— Coloca uma coisa na tua cabeça, Pilar: você não está em condições de exigir nada! — Cristina disse consternada diante da insistência dela.

— Eu estou com o teu filho no meu útero. — Respondeu mesmo sabendo não ter sido convincente.

Como para Cristina não era bom que Pilar sofresse nenhum tipo de aborrecimento, ela balançou negativamente a cabeça, e deixou o quarto a seguir, incrédula. 

Ao ver-se sozinha em um dos aposentos da área de serviço, Pilar fechou a porta, jogou-se na cama e chorou até a última gota de lágrima secar.

Seja pela gama de estresse que a rodeava, seja pelo cansaço da viagem, ou por não saber o que seria dela a partir daquele dia; fato era que ela dormiu praticamente o dia todo e, quando acordou ouviu vozes alteradas no saguão, o que deu a ela a impressão de que Cristina e, provavelmente o irmão dela — Javier Ruiz Gutierrez —; estivessem discutindo, por causa dela. 

Passado alguns minutos, o nome dela foi mencionado em alto e bom-tom e, nesse momento, ela não conteve a curiosidade; levantou-se para descobrir o que estava sendo decidido a respeito dela.

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