Capítulo 5

Mesmo sabendo que o que estava fazendo era errado, Pilar não resistiu e seguindo a direção das vozes alteradas, procurou um lugar escondido para que ela pudesse ouvir o que discutiam.

Em outras circunstâncias Pilar jamais faria aquilo, mas como o assunto em questão era ela, nada a impedia de fazer uso de um recurso tão mesquinho como o de escutar atrás da porta.

Para surpresa dela, Cristina Martinez estava fazendo intrigas e mentindo descaradamente ao dizer que ela tinha sido ameaçada. Em nenhum momento Pilar a ameaçou, apenas deu a entender que, como ela trazia no ventre o filho dos Martinez tinha pelo menos o direito de escolher onde deveria dormir naquele fazenda, já que de resto ela não tinha mais poder de nada; nem mesmo sobre a própria vida.

Sem muito que pudesse fazer, já que ela tinha-se vendido em troca da cirurgia de seu irmão, Pilar permaneceu imóvel no mesmo lugar, enquanto sinais de crise de ansiedade apareciam sutilmente em forma de respiração acelerada.

Sem condições emocional de continuar ouvindo tantas ofensas, Pilar decidiu retornar para o seu quarto, mas, infelizmente, ela esbarrou em um peito de aço e, ao voltar seu olhar em direção aquela figura avantajada, ela se perdeu no negro dos olhos dele e, por um momento ela teve a impressão de que seria tragada para as trevas da escuridão daquele olhar.

— Quem é você e o que faz bisbilhotando em minha casa?

A menção ao nome “casa” deu a ela a certeza de estar diante do impiedoso Javier Ruiz Gutierrez — o homem que a via como uma miserável mercenária e oportunista.

Se não bastante o medo de ter sido surpreendida ouvindo a conversa deles, a droga da crise de ansiedade a deixou sem palavras, o que aumentou ainda mais o tremor no corpo dela.

Diante de uma jovem paralisada e muda, Javier bradou alterado.

— Responda-me! Quem é você e o que faz em minha casa?

— Esta é a mercenária que ameaçou-me. — Cristina respondeu surgindo atrás dela.

— Pelo jeito, além de mercenária, ela também é golpista. — Javier disse olhando-a com desprezo. — A encontrei escutando atrás da porta. Provavelmente tramando como arrancar mais dinheiro de vocês em troca desse feto. — Acrescentou direcionando o seu olhar para o ventre dela.

Diante daquela assustadora observação, Pablo esqueceu a condição de Pilar e a sacudiu pelo braço e a ameaçou.

— Tenta sua vagabunda nos extorquir ou recusar-se a entregar o meu filho, que sua família sofrerá as consequências. Fui claro, Pilar!

Tomada de pânico e com os olhos marejados de lágrimas, a única reação dela foi balançar a cabeça em sinal de afirmação, enquanto a imagem de Alejandro e de sua mãe sendo punidos pela desobediência dela, caiu torrencialmente em sua mente.

Ainda paralisada e sentindo a pressão das mãos dele sobre seus ombros, ela o ouviu ameaça-la pela segunda vez.

— Você vai ficar na porcaria do quarto que prepararam para você e, se for preciso amordaça-la e acorrenta-la na cama; eu o farei.

Ao terminar de dizer àquelas palavras, Pilar foi arrastada sem nenhuma delicadeza para o quarto, já que, as suas pernas também não respondiam.

Vê-la sendo arrastada como um saco de batatas, despertou em Javier um estranho instinto de proteção — talvez por ela está grávida —, e sem conseguir conter-se, ordenou áspero para surpresa de todos.

— Solte-a imediatamente Pablo! Lembre-se que ela está carregando o teu filho no ventre e, se ela vier a perdê-lo, você será o único culpado.

A palavra grávida o fez voltar a realidade e temeroso que ela viesse a sofrer algum tipo de dano que interferisse na gravidez, ele a soltou imediatamente.

Mesmo sentido o piso debaixo de seus pés, Pilar tinha certeza que era apenas questão de minutos para ele ser-lhe arrancado novamente, pois não foi apenas a voz dela que resolveu abandoná-la, como também o seu corpo que parecia não reagir a nenhum comando, e contrariando a vontade dela de sair correndo desesperada daquela casa m*****a; as pernas dela fraquejaram.

Como ela continuava estabanada no chão, Javier chamou alguém para levá-la para o quarto, ao qual seria obrigada a ficar trancafiada o restante da gravidez.

Depois de a bondosa senhora tentar levanta-la algumas vezes, sem êxito, disse aparentemente preocupada.

— O corpo da menina não está reagindo e eu não tenho forças para carregá-la. Ela está em estado de choque e tremendo muito. — Acrescentou extremamente preocupada.

Frente às palavras da senhora García, Javier abaixou-se e pegou Pilar no colo e, naquele instante ele pôde constatar que a sua empregada não estava exagerando quanto ao estado da moça, pois ela parecia uma boneca sem nenhum movimento e, se não fosse pela respiração irregular dela; ele diria que ela estava desfalecida.

— Chamem um médico imediatamente. A moça não está reagindo. — Javier ordenou enquanto subia apresado as escadas e a colocava em sua própria cama.

O estado de Pilar era preocupante e, enquanto Pablo não chegou com o médico, Javier não arredou o pé do lado dela.

Deixando-a a sós com o médico, eles desceram e enquanto aguardavam o posicionamento do doutor José Antônio Fernandez; Javier observou consternado.

— Olha só no que deu a imprudência de vocês. Se vocês não tivessem levado adiante está sandice de comprar uma mãe de aluguel, nada disso estaria acontecendo.

— O fato de eu querer ter um filho em meus braços não é nenhuma sandice é apenas um imenso desejo de ser mãe. — Cristina defendeu-se abalada.

— Pois que tivesse procurado uma agência especializada ou algo parecido e, não pegar qualquer mercenária para infiltrar na vida de vocês.

— Reconheço que fui imprudente em minha escolha. — Pablo observou, assumindo sobre si a culpa. — Acabei compadecendo-me com a história dela e fiz-lhe a proposta de ser mãe de aluguel de nosso filho. — Acrescentou segurando a mão de sua esposa.

— Pablo, o teu desespero em dar um neto para o teu pai não o fez enxergar que estavas diante de uma mercenária. É óbvio que essa mulher deve ter-se aproveitado do teu desespero para ludibriá-lo. Quem garante-nos que realmente o garoto estava entre a vida e a morte? — Javier o questionou após por em dúvidas as intenções de Pilar.

— Agora não adianta mais discutirmos. Eu já fiz a besteira de tê-la escolhido para fecundar o meu filho e o que nos resta fazer é torcer para no final acabar tudo bem. — Disse desgostoso e acrescentou depois. — Eu não investi nessa mercenária à toa. Ou ela dar-me esse filho ou ela, e a família, dela irá sofrer as consequências.

— Mais ameaças, Pablo! Se pretendes acertar as contas com ela, que seja financeiramente. — Javier disse decepcionado com a postura de seu cunhado, e logo a seguir o relembrou. — Ela tem um contrato com você, onde está firmado que caso a gravidez seja interrompida por algum motivo, ela deverá devolve-lhe o dinheiro com juros e correção monetária ou submeter-se novamente a um novo procedimento.

Antes que Pablo tivesse tempo de dizer algo, o médico desceu e nesse momento todos os olhares se dirigiram a ele. A sorte de Pilar estava lançada e, sinceramente, Javier estava torcendo para estar tudo bem com o feto, pois a reação inesperada de Pablo era preocupante, até mesmo para ele que o conhecia há anos.

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