Alexandria encarou a televisão à sua frente. Dementadores haviam acabado de atacar Harry durante a partida de quadribol e o garoto despencou a toda velocidade, até Dumbledore se levantar, erguendo o dedo para ele e a tela escurecer por um mero segundo. — Alex? — O pai chamou sua atenção. — Pense neles, naqueles que nos magoaram e que nos marcaram como dementadores — e ao perceber que ele não tinha entendido a referência clara que fez, recapitulou a frase. — Pense nas pessoas que nos marcaram como fantasmas, não importa o quanto a gente tente tirar elas do nosso coração ou cérebro, sempre vai haver um espectro para nos assombrar. Teddy Tapper era quem tinha um olhar etéreo agora, como se Alex o tivesse deixado muito confuso, ou como se ele soubesse exatamente sobre o que ela estava falando. Eles ficaram em silêncio por um momento, apenas encarando a cena da enfermaria e a caminhada do protagonista com o Remo Lupin em seguida.— Sua mãe é o meu — Teddy Tapper rompeu o silêncio entre
(09.01.2023)A cabeça de Alexandria Tapper estava explodindo naquela manhã. Tinha passado o domingo inteiro enfurnada no quarto com a justificativa de que tinha muitas fotos para editar, e de fato, tinha edições o suficiente para ocupar boa parte do seu dia. A outra parte, foi preenchida pela versão em português de The Stand do Stephen King, intitulada de “A Dança da Morte” e suas 1248 páginas.Ela não tinha tido tempo para pensar na declaração, implícita, de Teddy Tapper que, se pudesse voltar atrás, não conheceria Amanda, logo, ela não teria nascido. Também não tinha pensado direito no porquê de Christian ter ido embora tão repentinamente no sábado e muito menos tinha respondido às mensagens de Lukas, mas isso não tinha sido por falta de tempo. Alex se sentia confusa em relação ao belga e tinha decidido que conversaria com ele pessoalmente. O maior copo de café que a Black Coffee poderia produzir agora estava nas mãos de Alexandria, que andava com o salto produzindo sons rítmico
Alex sentiu cada parte do seu corpo gelar. Uma expectativa que parecia pertencer a outra pessoa tomou conta de si e a sensação estranha de borboletas batendo asas fortemente no seu estômago a fez soltar um suspiro longo e pesado.— E o que você sente por mim, Chris?Pelos segundos que se seguiram, os dois eram capazes de ouvir Teddy Tapper soprando o apito do lado de fora da porta fumê, os passos vindos do andar superior, gritos dos jogadores que ainda treinavam e, cada um, o próprio coração disparado contra a caixa torácica. A brasileira tinha certeza de que se uma abelha caísse no chão, ela seria capaz de ouvir de tão ensurdecedor que a quietude entre eles era.— Cariño, você é incrível e linda — ele deixou as palavras morrerem na garganta.— É isso? Você me acha bonita? — tinha uma revolta crescente na maneira com que Alexandria apertava o copo de café e ajustava a postura. — Esse último ano inteiro o que tava rolando entre a gente era sexo casual porque você me acha bonita? E, por
O almoço correu bem, sem mais menções a Lukas e sem toques ocasionais de Harry. Teddy Tapper pegou mais leve pela tarde, apenas treinos de pênaltis e alguns minutos de musculação, que Andrew praticamente não teve proveito, afinal, estava mais ocupado em ouvir resmungos enraivecidos de Christian, que largava as barras de ferro no chão como se elas tivessem ofendido a família dele, e em encarar o suor caindo, sensualmente pela nuca de Harry enquanto ele fazia uma série no avoador. No fim do dia, a maioria dos jogadores do KRS já tinha tomado banho e pareciam mais do que dispostos a correr até seus carros estacionados na garagem para ter um fim de tarde de descanso. Andrew foi um dos últimos a adentrar o chuveiro do time, com os mesmos tons azuis e brancos de todo o resto do CT. Com muito esforço, ele conseguiu evitar a memória dos lábios de Harry Zhao tocando os seus ou a ideia de sentí-los em outras partes do seu corpo. A água parecia cada vez mais quente à medida que os pensamentos o
O céu tinha um tom esverdeado naquela tarde, os finos flocos de neve que caíam até a semana anterior não deixavam mais vestígios, apenas uma camada de névoa deixava, visualmente, claro os oito graus Celsius que fazia. Alex tirou a câmera da bolsa, gostava do reflexo do Sol nos vidros espelhados do Centro de Treinamento dos KRS. Ela sorriu ao ver a foto. O nome, com letras douradas e elegantes, do time havia ficado em um canto, na parede de mármore branco que dividia espaço com os enormes espelhos refletindo um número consideravelmente grande de árvores e uma pequena parte da lagoa situada bem diante da instalação gigantesca do time.No centro da foto, uma scooter, levemente distorcida pela incidência dos raios solares na lataria dourada, e uma moça, com contornos mal definidos e fora de foco, cuja câmera em mãos tinha sido a responsável pela imagem capturada. Alexandria amava fotografar, mas se sentia estranhamente frustrada nas últimas semanas. Não tinha mais o entusiasmo da faculd
Christian Peña passou todo seu resto de tarde em frente ao espelho, ensaiando um pedido de desculpas, mas odiou cada uma das tentativas, nenhuma delas parecia honesta o bastante. Não era como se ele não estivesse arrependido, mas não sabia como se retratar sem admitir para a fotógrafa que estava completamente apaixonado por ela.Ele sequer admitiu para si mesmo. A ideia de estar apaixonado por ela era impossível. Não podia se apaixonar por alguém sem estar pronto para um compromisso.Christian acreditava no amor e tinha certeza de que sentiria isso um dia, mas a ideia era assustadora, tinha presenciado o que relacionamentos tinham feito com seu irmão, que agora se auto-intitulava “presidente do clube dos corações partidos”, já ouvira da sua mãe mais vezes do que poderia contar que o casamento com o pai dele não era todas essas maravilhas e tinha um fantasma próprio, uma pessoa no seu passado que lhe causara dores para toda uma vida.Agora, com a sua McLaren Artura preta estacionada na
O feixe de luz azul e rosa que a roda gigante produzia enquanto se movia foi a foto favorita que Alex tirou naquela noite. Todos os outros brinquedos e pessoas fora de foco, apenas o círculo enorme em evidência, a deixavam com uma sensação de nostalgia e felicidade plena que ela costumava ter quando tirava fotos na época da faculdade. Era bom fazer algo pelo qual era completamente apaixonada, para variar.Lukas sorria, de orelha a orelha, desde o momento em que ele e a fotógrafa se encontraram no estacionamento e caminharam, de mãos dadas, até o parque de diversões. Estavam, ambos, completamente vestidos de preto, o que atraía olhares ao redor, como se fossem um daqueles casais fofinhos que se vestiam combinando, mas meramente concordaram que a cor esconderia melhor qualquer mancha de graxa ou ferrugem que viesse a acontecer. Alexandria não tinha pensado em Christian por um segundo sequer desde que ela e o belga se despediram na frente do CT dos KRS algumas horas mais cedo e isso dev
— Tudo bem — ele acariciou o rosto dela com delicadeza — Eu espero. Espero até você ter certeza. Eu não quero ficar entre você e — Lukas não conseguiu pronunciar o nome do equatoriano — ele. A fotógrafa se inclinou, colocando a mão na nuca dele e, quando seus olhos se encontraram, os sons vindos de baixo pareciam ter sumido. Lukas se aproximou também. Suas testas estavam coladas, assim como a ponta dos narizes. Alex sentiu um calafrio na coluna, estava prestes a beijar o belga e algo dentro de si sabia que, quando isso acontecesse, ela teria certeza do que fazer. A roda gigante rangeu e, com um movimento um pouco mais forte do que os anteriores, o cercado que estavam tombou levemente para frente, fazendo a testa deles se chocar com certa violência e Alex despencar do banquinho, que estava sentada bem na ponta, para o chão.O acesso de riso foi incontrolável. Ele tentava, com todas as suas forças, parar de rir para ajudar a fotógrafa a se sentar de novo, que, por sua vez, não tinha