Dividido Entre Amor e Dever
XENOIS
Observei Riley finalmente adormecer com a luz do abajur projetando sombras pelo seu rosto adormecido.
Seu pesadelo tinha finalmente diminuído, sua respiração estava regular agora.
Sophia estava sentada na beirada da cama comigo, sua mão acariciando gentilmente o cabelo dele demonstrando conforto maternal.
— Obrigada por vir — disse, olhando para mim com aqueles grandes olhos castanhos dela que uma vez me cativaram há muito tempo atrás.
— Ele não se acalmava até você chegar.
Me remexi desconfortavelmente, sabendo muito bem que eu tinha furado o jantar com Lumina e Ollie. De novo.
— Tudo bem. Ele tem esses pesadelos com frequência?
— Cada vez mais. Ele diz que tem um homem sombra que o visita — ela se levantou da cama enquanto alisava seu vestido.
— O médico diz que são apenas medos infantis, mas...
— Mas você não acredita nisso — disse completando a frase para ela.
Ela balançou a cabeça, enquanto me conduziu do quarto do Riley para a cozinha dela.
O apartamento que eu tinha arrumado para elas era modesto pelos meus padrões, mas confortável.
Eu queria fazer mais, mas Luna já estava furiosa por eu estar ajudando elas de qualquer forma, então tive que fazer esse acordo com ela.
Me senti culpado enquanto Sophia serviu duas taças de vinho.
Eu sabia muito bem que não deveria ficar, mas me peguei aceitando a taça oferecida mesmo assim.
— Riley perguntou sobre o pai dele de novo hoje — disse suavemente.
Me enrijeci ao ouvir isso dela. Já tínhamos conversado sobre isso. — Sophia...
— Eu sei, eu sei. Disse para ele que o pai dele é alguém especial que não pode estar conosco agora — ela tomou um gole do vinho, antes de colocar o dedo na borda enquanto continuou de onde parou.
— Mas ele vê como você é com ele. Crianças não são burras.
— Eu não sou o pai dele — disse firmemente, embora as palavras soassem vazias para mim.
Eu tinha estado mais presente para Riley do que para meu próprio filho esses meses. Perceber isso me deixou desconfortável.
Meu telefone vibrou. Pedi licença para Sophia e peguei meu telefone. Era uma mensagem de Lumina sobre o aniversário do Ollie. Eu tinha esquecido que estava chegando.
Me senti mais culpado com isso, mas empurrei para o lado e digitei uma promessa rápida de estar lá.
— Está tudo bem? — Sophia perguntou, se aproximando de mim.
— Tudo bem. Só trabalho — menti sem piscar.
— Você trabalha demais. Prefeito, CEO, Alfa... quando você tem tempo para si mesmo? — ela me tocou gentilmente e eu não me afastei como deveria ter feito.
A verdade simples era que estar aqui com Sophia e Riley era a única forma que eu conseguia escapar de tudo.
Era minha fuga das pressões que vinham junto com a liderança, da frieza do meu casamento, e também das expectativas que todos tinham do grande Xenois Blackwood.
Aqui, eu era apenas Xenois, o homem que uma vez amou Sophia antes do dever me chamar para longe.
Mas eu tinha um filho em casa. Uma companheira verdadeira. Responsabilidades também.
— Eu deveria ir — disse, colocando de lado o vinho que eu mal tinha tocado.
A expressão da Sophia caiu um pouco antes dela esconder.
— Claro. Riley vai ficar decepcionado por não ter te visto direito. Você vai vir ao aniversário dele na semana que vem?
Congelei no lugar enquanto me tensei. — O aniversário dele?
— Sábado que vem. Ele vai fazer cinco anos — seus olhos encontraram os meus enquanto ela continuou falando. — Ele perguntou especificamente se você viria. Disse para ele que eu perguntaria.
Sábado que vem. O mesmo dia do aniversário do Ollie. O mesmo dia que eu tinha acabado de prometer à Lumina que estaria lá para nosso filho.
— Eu... vou tentar aparecer por parte do dia — disse, mesmo sabendo que era uma promessa que eu não podia cumprir. Não completamente.
Enquanto dirigia para casa pela cidade adormecida, tentei justificar minhas escolhas. Sophia e Riley precisavam de mim.
Riley não tinha uma figura paterna. Ollie tinha Lumina. Mas as desculpas soavam ocas na minha própria mente.
A conexão entre Lumina e eu estava cheia da tristeza dela, da solidão dela.
Eu tinha bloqueado isso por meses, focando em vez disso na estranha atração que sentia por Riley.
Não era natural, essa obsessão com o filho de outra mulher. Às vezes me perguntava se havia algo errado comigo.
Estacionei na nossa garagem, olhando para as janelas escuras da nossa casa. Lumina estaria dormindo, ou fingindo estar dormindo.
Ollie também. Minha família estava lá, esperando por um marido e pai que raramente estava presente.
Amanhã, prometi para mim mesmo.
Amanhã eu passaria tempo com Ollie. Perguntaria sobre sua doença, que Lumina sempre mencionava mas eu nunca prestei total atenção.
Amanhã eu seria melhor.