Ao ouvir isso, a expressão de Guilherme se suavizou um pouco. — E a Milena? Por que ela ainda não se mexeu? — Pode ficar tranquilo. Eu tenho um jeito de fazer com que ela venha até mim. — Garantiu Daphne, com firmeza. Guilherme a encarou por um momento e soltou um suspiro leve. — Daphne, você não pode me culpar por ter sido duro com você. No fim das contas, tudo que temos será seu. Quanto mais forte for a nossa família, mais peso você terá ao se casar com Lucian, né? Daphne, é claro, percebeu que o pai tinha dado uma bronca para depois tentar convencê-la com palavras doces. Era o típico jogo de Guilherme. Mas ela sabia que, para seu casamento com Lucian ser um evento grandioso, a base financeira da família era indispensável. Ela precisava garantir que sua casa continuasse cada vez mais próspera. — Entendi. — Peça para sua mãe cuidar desses machucados. E à tarde, vá trabalhar como de costume. Não deixe que pensem que você está se escondendo por vergonha. — Ordenou Guilhe
Desde o momento em que Florence renasceu e viu Lucian novamente, ela sabia que, com as habilidades que tinha agora, jamais seria páreo para ele. Ela precisaria começar pelas pessoas ao seu redor, planejando cuidadosamente cada passo para abrir um caminho e, um dia, vingar sua filha Estela. Mas Florence havia superestimado suas próprias capacidades. No final, cada um de seus passos estava sob o controle de Lucian. Tudo não passava de uma grande armadilha. Desolada, ela entrou em um táxi. Seu corpo estava rígido como um galho seco, sem vida. Foi só depois que o motorista a chamou várias vezes que ela voltou à realidade. — Senhorita, para onde a senhorita gostaria de ir? — Rua das Palmeiras. A voz de Florence saiu fraca, quase inaudível. Ela olhou para a paisagem que passava pela janela, vendo os cenários desfazerem-se como memórias distantes. Uma sensação de aperto no peito começou a subir lentamente, até alcançar seus olhos, onde lágrimas ameaçavam cair. Antes que as lágri
De acordo com as regras, ninguém da família podia assistir à cremação no crematório. Florence Winters, no entanto, pagou o que foi necessário. Com passos lentos, ela empurrou a maca de ferro gelada para dentro da sala de cremação. O ar tinha um cheiro metálico de queimado, e no feixe de luz que atravessava a janela, partículas de cinza flutuavam no ar. Talvez fossem restos de ossos. Em breve, sua querida filha também se tornaria isso. Vestida com um longo vestido preto, Florence parecia ainda menor do que era. Nem mesmo o menor tamanho escondia sua silhueta magra e abatida. Seus olhos, inchados e vermelhos de tanto chorar, estavam agora estranhamente serenos. Ela passou a mão pelo lençol branco que cobria o corpo imóvel e pálido da filha e, cuidadosamente, colocou na palma da mão fria da menina duas estrelas de papel cor-de-rosa. — Estela, espera a mamãe. Quando o tempo acabou, um funcionário aproximou-se e puxou Florence gentilmente para o lado. Ele ergueu o lençol, re
Ela tinha voltado à vida! Florence havia ressuscitado!Ignorando os olhares incrédulos ao seu redor, ela cravou as unhas em seu braço, apertando com força. A dor aguda percorreu-lhe o corpo, e seus olhos logo se encheram de lágrimas.— Chorando por quê? — Uma voz grave e autoritária ecoou pelo salão. — Quem deveria pedir desculpas aqui é você, não a nossa família Avery!Florence voltou a si e ergueu o olhar, encontrando os olhos frios e impacientes de Theo Avery, o patriarca da família.Imediatamente, ela baixou a cabeça, assumindo a postura submissa de sempre. Mas, por dentro, seu corpo tremia, não de medo, mas de excitação.Ao redor, ouviam-se risinhos abafados e cochichos venenosos.— Jovem desse jeito e já com coragem de drogar o próprio tio para seduzi-lo? Fez a maior confusão na cidade só para tentar obrigar o Lucian a assumir responsabilidade. E agora finge que nada aconteceu! Quem educou essa garota?— Isso não é coisa de gente da nossa família. A família Avery nunca criaria al
Daphne Gonçalves era filha de uma família tradicional, mas em decadência.Três anos atrás, Lucian surpreendeu a todos ao anunciar publicamente seu relacionamento com ela. Mesmo sob forte oposição de Theo, ele organizou um luxuoso jantar de noivado.Daphne, de um dia para o outro, tornou-se a mulher mais invejada de Cidade do Sol. Todos a admiravam: uma mulher linda, bondosa e elegante.Mas Florence sabia a verdade. Daphne não era nada disso. Se não fosse designer, certamente seria uma atriz de primeira linha. Ela era a melhor quando o assunto era fingir.E Daphne, com toda a sua esperteza, sabia exatamente o que Florence queria dizer ao apontar o dedo para ela. O casamento com Lucian já havia sido adiado por três anos, e Daphne não podia mais esperar para oficializar a união.Como esperado, Daphne deu um passo à frente. Sem hesitar, ajoelhou-se na mesma posição em que Florence estava antes e curvou a cabeça em uma demonstração teatral de humildade.— Vovô, fui eu! — Disse Daphne, com a
Sob o olhar gélido de Lucian, Florence apertou os lábios com força, tentando se manter calma. Mas, ao lembrar-se dos oito anos de sofrimento em sua vida passada, seus dedos começaram a tremer involuntariamente, e ela virou o rosto com esforço, tentando esconder sua fragilidade.Lucian desviou o olhar, a voz carregada de desdém:— Está planejando engravidar às escondidas?Florence franziu a testa profundamente, lançando um olhar rápido para Lyra. O remédio havia sido comprado por sua mãe. Será que ela ainda não desistira da ideia de casá-la com Lucian? Mas Lyra, diante do olhar frio de Lucian, tremia como uma folha ao vento. Comparada a Theo, Lyra tinha ainda mais medo de Lucian. Ela jamais teria coragem de agir sob os olhos dele.Então, o que estava acontecendo?Florence ergueu os olhos, sentindo-se cercada por olhares de todos os lados. Entre eles, havia um especialmente afiado: Daphne. Seus lábios esboçavam um sorriso ambíguo, que imediatamente trouxe à tona memórias desagradáveis
O salão era amplo, mas o ar ao redor de Lucian parecia congelado, sufocando todos ali presentes. Ele permanecia em silêncio, mas ninguém tinha dúvidas: estava furioso.Lucian tirou do bolso uma caixa de cigarros, acendeu um deles e soltou uma nuvem de fumaça que envolveu seu rosto. Ele olhava para Florence através da névoa, com um olhar indecifrável.— Saia.Logo em seguida, Theo, visivelmente irritado, fez um gesto de desdém com a mão.Lyra se aproximou para ajudar Florence a se levantar, mas ela afastou a mão da mãe e ficou de pé, ereta, no meio do salão. Sua voz soou firme, carregada de determinação:— Já que minha presença aqui é tão inconveniente, vou me mudar imediatamente. Obrigada, vovô Theo, por todos esses anos de cuidado.Se era para sair, que fosse com dignidade. Sem hesitação. Nunca mais ela se curvaria como antes, apavorada e submissa.Sem esperar qualquer resposta, Florence se virou e saiu.Mas, enquanto ela se afastava, sentiu o peso de um olhar frio e perigoso cravado
— Ontem à noite? — Florence repetiu, sua voz quase inaudível. De fato, ela havia dito muitas coisas.Ela não teve coragem de vê-lo, drogado com afrodisíacos, suportando tanta dor. Foi por isso que cedeu e se entregou a ele. No auge daquele momento, enquanto tentava suportar o toque quase torturante de Lucian, Florence se abriu, revelando seus sentimentos mais profundos:— Sr. Lucian, eu gosto de você. — Eu gosto de você há muito tempo. Desde o dia em que entrei na família Avery e você me defendeu... Naquele instante, comecei a observar você em silêncio.— Eu sei que você não liga para mim, mas eu... Eu realmente... Amo você.Naquele momento, ela pensou que talvez, no dia seguinte, Lucian nem se lembrasse do que aconteceu. Mas ela lembraria. Guardaria em sua memória cada detalhe. Afinal, pelo menos uma vez, ela esteve tão perto dele.Florence entrou na família Avery com dezesseis anos. Lyra a arrumou como se fosse uma boneca de porcelana para ser exibida. Naquela época, Lyra não sab