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Tudo o que eu penso agora é xingar a todos por estar nesse lugar olhando para a imagem perfeita do homem que partiu meu coração. Porém, mesmo com todas as emoções violentas que passam pela minha mente agora, minha vista se torna um borrão quando ele abre a boca e começa a falar.

Todo o ar deixa os meus pulmões quando ele dá boa noite às pessoas presentes com um grande sorriso específico de Nicholas Hoffman. Sua voz. Oh meu Deus. Parece mais rouca do que eu me lembrava. Sinto meu coração acelerar, minhas entranhas derreterem e meus mamilos, ah esses malditos traidores, se eriçarem.

Melissa continua a falar alguma coisa sobre o nosso atraso, mas suas palavras se perdem na minha mente enquanto eu o escuto discursar sobre os objetivos da Fundação Hoffman, me perguntando como alguém pode ser tão sério e eloquente e ao mesmo tempo, sexy como o inferno. Qual é, Ellen? Quando ele não é sexy? Eu nunca o vi menos que perfeito. Até mesmo quando ele estava arrasado ao ficar sabendo da morte do avô no hospital, ele estava absurdamente lindo.

—... e assim finalmente, eu tenho um anúncio a fazer. Muitos de vocês, certamente, imaginaram que eu nunca iria sossegar. Mas hoje, é com muito orgulho que eu digo que Ada Mitchell, essa linda mulher ao lado do meu pai, aceitou se casar comigo.

O quê? A taça de champanhe que eu estou me preparando para levar aos lábios quase cai da minha mão. Meu pulso para por um instante e eu tenho certeza que minha cara parece uma piada. Casar com ela? Como ele pode ser tão idiota? Mas obviamente eu sou a única pessoa presente que acha que ele é um verdadeiro a**o porque todas as outras se levantam e o aplaudem, assim como a loira filha da puta que sobe no palco, encantada com o anúncio. Deus, como eu a odeio.

Todos gritam, até mesmo a Melissa, pedindo um beijo do casal. Sentada ainda na cadeira, eu consigo ver de relance quando ele a toma em seus braços e a beija com devoção. Uma ânsia de vômito me sobe de repente e eu preciso me abanar para não jogar em cima da mesa o almoço que fiz às duas da tarde quando cheguei em Nova Iorque. Mas principalmente, eu preciso ir embora. Esse anúncio é nojento demais, doloroso demais e inacreditável demais para continuar aqui presenciando.

— Tudo bem? — Melissa me pergunta quando eu me levanto, segurando a ponta da mesa para não cair.

— Eu preciso sair daqui. — digo com o estômago embrulhado.

— Minha nossa, você está pálida. Até parece que viu um fantasma.

Eu vi. O fantasma da dor que eu tentei esconder de todos nos últimos três meses. Ela fala mais alguma coisa, mas eu não capto, pois já estou saindo às pressas do salão e indo para o terraço do hotel, tentando respirar porque parece que todo o ar sumiu lá de dentro. Minhas pernas fraquejam um pouco quando alcanço a calçada e eu me encosto no grande muro do prédio, fechando os olhos e fazendo movimentos lentos de inspirar e expirar para tentar acalmar as pancadas furiosas do meu coração.

Quando estou me recuperando, Mel aparece ao meu lado com uma cara de preocupação. Eu sorrio para acalmá-la, mas não surte muito efeito. Sua testa continua franzida e seu olhar, atento.

— O que aconteceu com você lá dentro?

— Eu passei mal.

— Bom, isso deu pra perceber. Mas eu quero saber é o por quê.

Posso contar a ela que é porque o presidente da Fundação Hoffman é o meu ex-namorado. Nós terminamos de forma dramática. Eu ainda o amo e ele acabou de anunciar, na frente de toda a elite da cidade, que vai casar com a mulher que eu mais odeio no mundo. Mas no final das contas, tudo o que eu digo é:

— Alguma coisa que eu comi no almoço deve ter caído mal. — digo, sentindo uma pontada de culpa pela mentira porque o almoço estava uma delícia.

— Você deveria prestar mais atenção no que come, Ellen. — agora a sua cara é de repreensão — Você não pode ficar doente. A equipe depende de você.

— Eu sei, eu sei. — reviro os olhos pra ela — Prometo que vou me cuidar mais. — completo com um sorriso.

— Mas já está melhor?

— Sim, já me sinto melhor. — minto mais uma vez.

— Que bom, — ela segura no meu cotovelo e começa a me puxar pra dentro de novo — porque precisamos voltar. Nós temos que nos apresentar ao senhor Hoffman.

— O que? — livro-me das suas mãos com um pequeno puxão — Eu não posso entrar lá de novo.

— Por que não? — ela põe as mãos nos quadris — Você disse que está melhor.

— Eu estou melhor porque estou aqui fora, tomando ar fresco. Tenho certeza de que se eu voltar, passarei mal de novo. — Quanto a isso não há dúvidas — Está muito quente lá dentro.

Ela não parece acreditar muito, mas não discute. Apenas concorda com um aceno de cabeça.

— Você entra e se apresenta por toda a equipe. Se eu entrar, vamos causar uma péssima impressão. Você mesma disse que eu estou pálida, lembra? O homem vai pensar que não quero estar lá.

O que não deixa de ser verdade. A última coisa que eu quero é voltar lá dentro e presenciar mais uma cena de romance de araque daqueles dois.

— Tudo bem. Vou fazer isso, mas nós duas teremos uma conversinha depois. — ela diz apontando um longo dedo na minha direção.

Não falo nada em resposta e ela volta para o salão, sacudindo a cabeça e resmungando alguma coisa que eu não consigo entender. Quando ela finalmente entra, eu imediatamente começo a procurar por um táxi para a nossa volta, satisfeita por eu ter saído sem que ele me visse. Quase meia hora depois, ela entra no carro com um sorriso no rosto e cara de quem foi flechada pelo charme indiscutível do Nicholas.

Fecho o zíper da minha pequena mala, prestando atenção no quarto para ter certeza de que não esqueci nada. Mel, que já está pronta como de costume, apenas me olha a cada lugar que eu vou. Ela manteve esse olhar desde ontem à noite quando chegamos da inauguração.

— Sabe, acho que a gente deveria adiar a viagem para amanhã. — ela diz estreitando os olhos na minha direção — Você pode ter uma recaída.

— Recaída? — pergunto distraída.

— É. Da sua... o que era mesmo? Intoxicação alimentar?

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