Capítulo 2

— Não vai me convidar para entrar?

Em geral, receber uma visita do sogro não costuma ser ruim. Mas isso não se aplica quando o sogro é Raul Thomas Budwin.

— Tenho outra opção? — pergunto, com certa aspereza.

Raul atravessa o batente da porta, observando cada detalhe ao redor.

— Eva deve estar trabalhando — afirma diretamente. — Então, vamos poupar tempo.

Pela expressão em seu rosto, é evidente que essa não será uma conversa amistosa.

— Eu nunca gostei de você, isso é óbvio. E gosto menos agora. Mas Eva não quis seguir meu conselho. Recusou o divórcio enquanto você ainda estava preso.

Nada disso me surpreende. Sempre esperei por esse momento.

— Estou bem, obrigado! — digo com sarcasmo. — Sendo assim, por que se deu ao trabalho de vir aqui? Ela não costuma voltar atrás nas decisões.

Nunca deixei Raul se sobrepor. Ele é o tipo de homem que usa posição e dinheiro para dominar os outros. Um babaca com poder. E não se pode esperar muito de gente assim.

— Eu não me importo com a sua vida miserável. Mas me importo quando isso afeta minha filha. E o nome da minha família. Fui claro?

Tenciono a mandíbula para não dizer o que penso.

— Você disse que pouparia nosso tempo. Vai direto ao ponto ou terei que mandá-lo embora?

Ele me encara com desdém, como se eu fosse um inseto que ele poderia esmagar.

— Gostaria que você considerasse o divórcio.

Sorrio, irônico.

— Veio aqui só pra isso? Pensei que não desperdiçaria nosso tempo.

Impaciente, aponto para a porta, mas ele não se move.

— Você é um parasita difícil de remover — diz, com um suspiro enfadado. — Embora isso não seja nenhuma surpresa.

— Devo lembrá-lo de que ofender um oficial da lei pode levá-lo à prisão? — Mais uma vez tenciono a mandíbula. Ele não vale o esforço.

Raul caminha até a poltrona e se senta, sem pressa.

— Difícil entender o objetivo da sua visita. Veio me ofender? Me pedir que deixe sua filha? Ou o quê? Seja breve.

Ele permanece em silêncio, apenas me observando, como se analisasse minhas reações.

— Não sei se você matou a garota ou não. Mas as provas te colocaram na rua — diz, sem muita convicção. — Ainda assim, quero lhe dar uma oportunidade de limpar sua sujeira. E de desvincular o nome da minha família dessa tragédia que você trouxe.

De repente, a conversa ganha um novo tom. Se há algo que o preocupa, é perder seus aliados.

— Não preciso da sua ajuda. As provas falam por si. Sou inocente.

Dessa vez, ele ri, com ironia.

— Pode ser. Mas você ainda está sob investigação. E afastado do trabalho, se não me engano — enfatiza.

— Vejo que continua pagando bem suas fontes. Mas não me importa. Vai fazer o quê? Subornar meu departamento inteiro?

As veias saltam em seu pescoço. Fica mudo. Talvez já tenha cogitado essa ideia.

— Infelizmente, há departamentos da lei onde o dinheiro não manda. Ainda assim, tenho muitos favores que posso cobrar.

Detesto políticos. Uma laia de predadores que se acham acima da lei. Eva é o único motivo para eu ainda estar envolvido com essa família hipócrita.

— Se o discurso terminou, a porta da rua é serventia da casa.

Sua postura continua arrogante.

Essa não é a primeira vez que ele me oferece “ajuda”. O tipo de acordo que se faz com o diabo. Mas minha postura deixa claro que não estou disposto a negociar. Raul se levanta, caminha lentamente até mim, para a poucos passos de distância e toca meu ombro direito.

— Na sua situação, essa é uma oportunidade indispensável. Pense com calma. Eva tem meu número.

Assim que sua sombra some do outro lado da porta, fecho-a com força o suficiente para descarregar parte da raiva. O vidro ameaça quebrar, mas resiste.

— Desgraçado.

Jonathan ressurge logo que ouve o motor do carro se afastar.

— Nunca fui com a cara desse sujeito.

Evito encará-lo. Em vez disso, soco a parede. Não com força o bastante para danificá-la, diferente do hematoma que surge na parte superior da minha mão.

— Ei, calma aí. Esse cara não vale isso — Jay coloca o maço de jornais sobre a mesa. — Não posso usar meu telefone, mas dou um jeito de entrar em contato.

Ele faz um aceno e caminha até a porta. Antes de sair, me lança um gesto que no nosso meio significa “fica de olho na retaguarda”. E então desaparece.

Sozinho, apoio a mão na parede e olho ao redor da casa. Tudo aqui — inclusive o imóvel — foi comprado com meu salário e o de Eva. Ganho uma mixaria, principalmente se comparado a ela. Mas nunca aceitamos um centavo dos Budwin.

Caminho até o banheiro e lavo o rosto. Era isso ou socar outra parede.

Não é preciso muito para que meu alerta fique ligado com essa gente. Todos são farinha do mesmo saco. Exceto Eva. Comparada à sua família, sempre foi um peixe fora d’água. Nunca gostou das extravagâncias da mãe, nem do exibicionismo do pai. E veio sem a má índole do irmão mais velho.

Mesmo que a relação com eles seja fria, ela ainda é a única filha. E, por mais que não goste, o pai — escroto como é — faria qualquer coisa por ela.

Soltei um palavrão ao lembrar da arrogância dele, vindo até minha casa, tentando me dizer o que fazer ou propor algum trato, achando que eu aceitaria. Quando eu tiver as respostas que procuro, vou esfregar na cara dele toda essa prepotência maldita.

Suspirei fundo e decidi voltar ao meu principal objetivo.

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