A porta do escritório foi escancarada novamente.

Era Damon.

Sua presença de Alfa invadiu a sala, densa de raiva e uma posse sufocante.

O ar pareceu ficar pesado.

— O que você fez com Lydia? — A voz dele era baixa, perigosa.

Não levantei os olhos. Continuei revisando os arquivos sobre a mesa.

— Meu dever.

— Seu dever? — Damon avançou até minha mesa, apoiando as mãos sobre ela.

— Seu dever é usar o posto de Beta para intimidar uma Ômega submissa?

Finalmente o encarei.

O rosto que um dia amei agora me parecia o de um estranho.

— Ela tentou acessar a sala de guerra. Não tem autorização.

— E daí? — Seus olhos faiscaram de impaciência.

— Ela só queria ajudar.

— Ajudar? — Levantei-me, sustentando o olhar dele.

— Uma Ômega tentando acessar os segredos centrais da alcateia? Você perdeu o juízo, Damon?

A expressão dele se tornou ameaçadora.

— Como ousa falar comigo desse jeito?

— Estou apenas afirmando um fato. — Respondi, mantendo a voz firme.

— Como Beta-Chefe, é meu dever proteger os segredos da alcateia de qualquer pessoa de fora.

— De fora? — Damon zombou.

— Ela é dócil e sensata, apenas uma Ômega frágil. Está dizendo que tem medo do que ela pode fazer?

Dócil. Sensata. Frágil.

Cada palavra foi uma punhalada.

Era exatamente isso que ele adorava.

Mas, estranhamente, depois de todas as suas traições, eu já não sentia a dor do nosso vínculo.

— Uma Ômega não tem permissão para lidar com segredos de nível máximo. — Forcei-me a manter a calma.

— É a lei da alcateia.

— A lei? — Seu tom de voz aumentou.

— Pelos deuses, Elysia, quando foi que você ficou tão rígida? Tão obcecada por regras?

Olhei para ele como se nunca o tivesse conhecido.

— Sempre fui assim. Você é que nunca se importou.

— Você nunca me enfrentou antes! — Ele rugiu.

— Sabia o que era obediência!

— Eu costumava achar que era sua companheira.

Minha voz saiu como um sussurro, mas carregava o peso de uma montanha.

— Agora vejo que eu era apenas sua arma.

Damon congelou. Claramente, não esperava ouvir aquilo.

— Elysia…

— Nesse caso, cumprirei meu dever como subordinada. — Sentei-me novamente e peguei um arquivo. — Mais alguma coisa, Alfa?

Ele me fitou, os olhos um turbilhão de conflito que eu não conseguia decifrar.

Então, ele proferiu o golpe final que destruiu meu coração.

— A partir de hoje, Lydia vai compartilhar algumas das suas funções de comando tático.

Minha caneta parou sobre o papel.

— O quê?

— Você ouviu.

Ele pegou o selo de cabeça de lobo em obsidiana da minha mesa, o símbolo da minha posição de Beta-Chefe.

— Lydia vai provar que a gentileza vale mais do que a força.

Observei enquanto ele guardava meu selo no bolso.

Seis anos.

Lutei por essa alcateia por seis anos.

Lutei por ele por seis anos.

— Você enlouqueceu. — Sussurrei.

— Vai colocar uma Ômega para comandar estratégias de guerra?

— Então ensine-a. — Disse ele, olhando para mim de cima. — Ou perdeu até essa paciência?

Levantei-me devagar, encarando o homem por quem um dia estive disposta a morrer.

— Entendido.

— Ótimo. Sabia que você veria razão…

— Entendido. — Repeti, o interrompendo.

— Você não quer uma companheira. Quer um animal de estimação. Um bichinho que abane o rabo, se derreta por você e nunca, jamais, te questione!

O rosto de Damon escureceu de fúria. Ele avançou, prendendo-me contra a parede.

— Como ousa me desafiar? Eu sou o Alfa desta alcateia!

Seu lobo rugiu, liberando toda a dominância de Alfa sobre mim.

Mal conseguia respirar.

Só me soltou quando uma chamada urgente ecoou pela ligação mental.

— Se não aceitar isso, pode entregar o cargo de Beta-Chefe! Gritou, antes de sair batendo a porta.

Ouvi seus passos se afastando, e meu coração não apenas doeu, ele se partiu.

Fiquei de pé, ereta, e enviei uma mensagem direta à mente de Damon.

[Você tem um dia para voltar atrás.]

Minha voz ecoou clara e gélida pelo vínculo mental.

[Caso contrário, pedirei ao conselho dos anciãos para contestar sua capacidade como Alfa.]