Trisha McNa
Tomei um banho demorado para tentar tirar as coisas ruins que presenciei hoje e algumas lembranças que me atormentam desde de manhã. Ao terminar coloco uma roupa confortável e quente, pois lá fora está bem gelado, não é de menos por estarmos chegando ao inverno o outono está quase no fim.
Uma blusa branca, um casaco tipo blazer moderno, uma calça jeans e um tênis. Perfeito.
Decidi que por hoje chega, claro que com ajuda das minhas amigas.
Entro no meu carro e sigo o GPS em direção a loja deixando o aquecedor me manter quentinha, Mandy e Beth estão me esperando a algum tempo já que estou bem atrasada.
Estaciono e logo estou entrando sentindo o quentinho do aquecedor local, um vendedor muito atencioso vem até mim e me encaminha até onde estão as meninas. Não consigo conter a risada quando as vejo em poltronas de massagem relaxando e fofocando é claro.
– Pensei que já tivessem escolhido tudo. – Falo um pouco mais alto do que o necessário para que elas se assustem, o que dá super certo e eu dou risada da cara que fazem.
– Sua vaca, nos assustou. – Beth diz tentando se levantar, mas a cadeira está deitada e vibrando então é um ato falho e engraçado.
– Fica aí, já deve estar terminando o ciclo. – Amanda diz rindo assim como eu.
– Vou olhar algumas coisas, quando terminarem aí vocês me encontrem.
Vou atrás do vendedor e peço que me mostre algumas coisas, começando pelo quarto, que é o que mais me interessa. Como nele tem um closet divino vejo as camas e opto por uma King pelo tamanho e o conforto que o colchão proporciona e o melhor de tudo vão entregar amanhã pela manhã, só tenho que estar em casa a tempo.
– Jogo de cama senhora? – O vendedor pergunta.
– Sim, claro! Me mostre os que tem em estoque para levar.
Ele sai por um momento e as meninas felizes veem até mim.
– E aí, gostou de alguma coisa? – Amanda pergunta.
– Já comprei aquela cama. – Aponto e elas sorriem.
– Aqui senhora, trouxe essas três opções de cores nos tons pasteis, elas ficam perfeitas e o kit é completo. – Ele as coloca no balcão e se prepara para abrir quando eu o paro.
– Não precisa abrir. Cabe na cama que eu escolhi? – Ele faz que sim com a cabeça. – Então vou levar os três, se tiver mais alguns em outras cores pode colocar junto. Qual é o próximo item?
– Quadros! – Amanda diz animada olhando para uma parede cheia deles. – Quadros bonitos.
Depois de escolher alguns quadros mais ou menos o vendedor nos leva em lugares que tem quartos "montados" e depois para uma galeria. Escolhi mais seis quadros que compõem um conjunto lindo e seguimos vendo mais algumas coisas que elas consideraram importantes. E assim foi o resto da tarde e no fim escolhemos tudo deixando muito minimalista, apenas o necessário.
– Cunhada você gosta tanto de decorar, olha como ficou lindo o quarto do Noah. – Amanda retruca sobre o minimalismo que comprei.
– Não preciso de muita coisa, não fico em casa e quando estou só uso o quarto para dormir.
– Amiga Amanda tem razão, nem sei se comprou o básico para se viver. – Beth intervém.
– Meninas, já é tudo planejado, quartos, sala e cozinha, sendo que essa já vem com geladeira, fogão e lava louças. Comprei as cadeiras para a bancada, copos, pratos e panelas. Comprei também um sofá e a televisão que nem vou assistir nada, montei meu quarto do jeito que está ali no decorado e pronto. – Dou de ombros e os três me olham como se eu fosse um ser de outro planeta. – Não me olhem assim, eu comprei quadros, eu nem preciso de quadros.
– Deixe-a Mandy, ela está se matando no trabalho e se recusa a ter conforto. – Elizabeth fala já convencida de que não mudarei de ideia.
Vou junto com o vendedor pagar pelas compras e confirmar que tudo será entregue amanhã pela manhã. Volto para onde estão às meninas já na saída.
– E então, vamos estrear seu apartamento novo? – Amanda pergunta.
– Como? Não tenho nada nele.
– Tem central de aquecimento, luz e água?
– Tem.
– Então temos tudo para uma noite de pizza, vinho ou outras bebidas mais fortes.
– Adorei a ideia. – Beth se anima e a animação das duas me contagia. – Tudo que um ser humano precisa para uma noite com as amigas, fofoca, comida e aquecedor central.
– Muito bom, temos que avisar as meninas. – Falo já pegando meu celular, me deparo com mensagens do hospital.
– Já avisei a elas mais cedo, estão a caminho. – Amanda me responde, mas sua voz está longe e eu não consigo abrir a conversa onde as mensagens estão.
– O que aconteceu Trisha? – Beth vem ao meu lado e me vê encarar o celular o tira da minha mão com cuidado e olha as mensagens. – São mensagens da interna Miah, ela disse que está tudo bem com a paciente da manhã e que a polícia já está resolvendo a parte deles, o chefe está cuidando do caso pessoalmente e encaminhou menina e mãe para a terapia.
Ouço todas as informações as absorvendo com cuidado e consigo voltar a respirar normalmente. Acho que consigo aproveitar a noite de folga com minhas amigas.
– Então vamos! – entro no meu carro e o ligo, mas vejo que as duas ainda estão na calçada me olhando. – Vocês vão ficar aí?
Elas entram no meu carro já que Amanda veio de taxi e Beth de metrô. Ao chegarmos Hillary e Sophie já nos esperam conversando com o porteiro, tudo bem que apenas Sophie conversava como se fosse uma velha amiga do senhor e Hillary os observava com um sorrisinho nos lábios. No final das contas todas nós estávamos numa conversa animada junto aos outros. Subimos depois de um tempo rindo e caçoando de Sophie.
– Soso tem uma facilidade de fazer amizade com desconhecidos que é até perigoso. – Hill diz enquanto entramos no corredor do último andar indo até a minha porta.
– Eu tenho gambiarra social então fica mais fácil. – Ela se defende.
– Que diabo é isso? – Pergunto abrindo a porta.
– A facilidade de conversar sobre qualquer assunto mesmo que eu não saiba nada sobre ele. – Ela responde e todas nós rimos.
Entro com elas atrás de mim ligando todas as luzes mostrando a sala vazia.
– Lar doce lar, sejam bem-vindas a minha nova casa. – Abro os braços mostrando o lugar ao meu redor.
– Adorei! É bem grande, minha casa cabe nessa sala. – Beth diz.
Todas nós olhamos para ela e ela dá de ombros. Beth mora com a mãe e os três irmãos, já fui em sua casa. É pequena, mas é muito bem arrumada e seus irmãos são ótimos.
Ofereci ajuda nas despesas que recaem todas sobre ela por causa do problema de sua mãe, mas ela não aceitou. Mas como ela é a minha melhor amiga fiz questão de ajudar a colocar seus irmãos nas melhores escolas.
Eu não pago por isso, mas consegui com que os diretores olhassem suas notas que graças a minha amiga são ótimas, pois ela sempre priorizou a educação deles ajudando pessoalmente sempre que pode, mesmo que seja por vídeo chamada em seus intervalos no hospital. Os três conseguiram bolsas integrais depois de fazerem provas ficando em ótimas posições, sua irmã mais velha que sonha com a medicina ficou em primeiro lugar, superando muitos filhos de gente rica que só vive para estudar e gastar dinheiro dos pais.
– Olha essa cozinha gente, tem tudo! – Sophie grita de lá. – Menos comida. – Ela fala decepcionada ao abrir a geladeira.
– Eu nem me mudei ainda. – Me defendo.
Vou até onde será o meu quarto e abro algumas caixas até achar a que eu quero. Pego roupas de dormir, camisolas e pijamas. Volto e entrego a cada uma um e elas vão se trocar, aproveito e mostro a casa para Sophie e Beth que se trocaram mais rápido e ainda não conheciam o lugar.
Logo depois de o interfone tocar e Amanda autorizar a entrada de alguém que logo toca a campainha. Momentos depois ela, Hill e Beth nos chamam na sala. E lá estão elas com colchões espalhados pelo chão, várias pizzas, vinhos, refrigerante, água, copos descartáveis e tudo mais que precisamos para uma noite das meninas.
– De onde saiu tudo isso?
– Eu tenho meus contatos, venham logo ou a pizza vai esfriar.
Corremos e logo nos sentamos todas juntas a conversa fluiu naturalmente com muitas risadas e fofocas até que Beth resolve falar do nosso novo chefe.
– Meninas vocês precisam ver o bonitão do novo chefe.
– Ah é? Como ele é? Solteiro? – Hill se mostra interessada.
– Pode baixar a bola aí ele é da Trisha. – Eu me engasgo com o vinho que estou bebendo e todas elas riem de mim.
– Meu nada. – Me viro para ela num rompante. – Que história é essa?
– Ele está bem interessado. – Ela retruca.
– Azar o dele!
– Ah, mas fala como ele é? – Sophie sorri com a boca cheia de pizza.
– Ele é bonito, alto e parece ser musculoso. Olhos castanhos, cabelo um pouco ruivo, mas não como o da Sophie, é mais loiro do que ruivo. – Beth fala me olhando e eu faço a sonsa desviando meu olhar para minha taça de vinho.
– Acho que estou passando mal. – Hillary coloca a mão no peito e finge um desmaio muito mal interpretado. – Alguém me leva para o hospital.
– Ele é pediatra. – Eu falo e ela se senta normalmente novamente.
– Posso alugar uma criança e ela nem precisa estar doente só saber fingir. – Ela responde dando de ombros.
– A que ponto chegamos hein dona Hillary, aluguel de crianças? Não é ilegal? – Amanda fala fazendo todas nos rirmos.
– Só é ilegal se você for pega, se não for só vai ter aproveitado a vista de um homem bonito. – Ela dá de ombros como se fosse simples.
– Acho que o delegado não está dando conta do recado. – Sophie diz e recebe um olhar assassino de Hill e uma travesseirada. – Ei!
– Que delegado o que? Sai daqui com essa história, tem gente muito mais interessante.
– Aham! – Todas nós dizemos ao mesmo tempo.
– Continua falando aí que eu vou anotando só para poder jogar na sua cara depois que tiver um romance com o senhor delegado. – Amanda diz se afastando para não levar travesseirada também.
As horas passam voando e apenas Amanda vai para casa por causa do Noah o que é compreensível depois de tudo o que passou, mas voltará no dia seguinte o que acho desnecessário já que a empresa de entrega também monta tudo e arruma. Bebemos e conversamos até bem tarde e eu estou adorando esse momento e desse jeito não me sento solitária.