Trisha McNa
Acordo mais uma vez assustada, totalmente suada mesmo o clima estando fresco dentro do quarto que tem um sistema eficiente de climatização não deixando ninguém passar frio ou calor independente da estação do ano. Coisas de gente rica, no caso meu querido irmão Tyler. Sim, ainda estou aqui no quarto de hóspedes, o que muda é que agora ele sabe.
Amanhã vamos fazer minha mudança para o apartamento novo, o melhor de tudo é que eu não tenho nada para levar, nenhum móvel, apenas as roupas e sapatos que comprei no decorrer desse um ano. Afinal nunca mais voltei no outro apartamento inteiramente planejado com muito cuidado e dedicação, pedi para que Miguel o colocasse a venda e as coisas pessoais fossem doadas.
Me levanto e sigo em direção ao banheiro, mas ao passar pela janela vejo que ainda é noite, não falta muito para amanhecer, então um banho e trabalho.
Hoje vou só passar por lá para ver alguns pacientes e depois da hora do almoço me encontrarei com as meninas em uma loja de móveis que Amanda conhece.
Durante o banho o pesadelo que tive agora pouco não me sai da cabeça, se é que posso chamar assim já que é uma lembrança bem nítida do que acontecia, um momento ruim da minha vida que somente eu sei, não consegui expor essa parte obscura nem para minha terapeuta, família, ou melhor amiga. Mesmo sabendo que essa última desconfie e me protegeu como pôde devido ao meu silêncio.
Depois de pronta vou até a cozinha e pego uma maçã já que é cedo demais para Maria chegar e ter feito o seu delicioso café da manhã, vou comendo até meu carro logo o colocando em movimento.
Pois é tive que comprar um carro para mim já que Tyler me proibiu de pegar a sua Ferrari, tudo bem que eu pegava escondido, mas por fim eu precisava de um carro com espaço, conforto e um porta malas bom para carregar minha mala de roupas para trocar nos dias que ficava direto no hospital, optei por um carro grande e confortável, com tudo que a tecnologia atual possa me oferecer, no final das contas foi ela que me escolheu pois eu fui na concessionaria que todos os McNa estão acostumados a comprar seus carros e pedi para a vendedora o melhor carro que tivesse e que estivesse no estoque, no fim não me arrependi da atitude impulsiva, o carro é perfeito para tudo que eu queria.
Chego no hospital por volta das cinco e meia da manhã, pego o tablet com os prontuários e um interno que estava de plantão me passou o necessário para eu saber como meus pacientes haviam passado a noite.
Passei em seus quartos e dei alta para aqueles que já podiam ir, logo depois que trocou o plantão das sete horas uma emergência chegou. Corri até o pronto atendimento e me deparei com mãe e filha, uma menina de aproximadamente doze anos.
– Qual é o caso? – Pergunto para a interna que estava acompanhando o caso desde a chegada.
– Shirley Marcatney, doze anos está reclamando de cólicas intensas e está com muito sangramento pélvico.
– Certo. – Me viro para a mãe – É a primeira menstruação?
– Não, a primeira vez foi aos dez anos, mas não era tanto sangue assim, isso é a primeira vez que acontece, a dor também parece ser muito maior. – Responde a mãe assustada, a menina se encolhe e contorce de dor apertando a barriga.
– Vamos fazer alguns exames e vou receitar analgésicos. – Passo todas as instruções sobre os exames para a interna e peço a máquina de ultrassom. – É sexualmente ativa?
– Ela é só uma criança, é claro que não.
– Ok, tudo bem. Shirley querida se vire e levante sua blusa por favor– ela faz o que eu peço ainda chorando e eu passo o gel e em seguida o aparelho.
O que vejo no exame me choca e a quantidade de sangue no lençol também, ali vejo um feto de aproximadamente quatorze semanas, procuro por batimentos cardíacos e não encontro, o bebê está morto e pelo jeito que o corpo o está expulsando já faz alguns dias.
– Peça que prepare a sala de cirurgia agora e chame a obstetrícia. – Falo rápido e Miah corre para fora do quarto.
– O que está acontecendo? – A mãe me pergunta preocupada.
– Sua filha está tendo um aborto, precisamos tirar o bebê daí o mais rápido possível. – Ela está chocada e a menina grita em desespero. – Shirley você tem algum namorado ou algo assim? – Ela nega ainda chorando. – Quem fez isso com você querida?
– Eu... eu... – Ela olha para a mãe e me olha depois.
– Estamos prontos doutora – Miah volta com a equipe, que sai levando a menina para prepará-la deixando a mãe para trás.
– Fique na sala de espera que eu mando notícias. – A mãe assente desolada e é levada por uma enfermeira.
– Preciso que chame a polícia e a assistência social. – Falo rapidamente para o enfermeiro chefe que pega o telefone na mesma hora.
– Uma médica da obstetrícia já está a caminho doutora. – Assinto e seguimos até a ala cirúrgica.
Preparamo-nos e iniciamos os procedimentos, nossa equipe é perfeita junta e conseguimos realizar todo o procedimento com sucesso.
Algum tempo depois de levar a menina para o quarto fui até lá conversar com mãe e filha antes da polícia que já estava ali a postos. A assistente social já havia conversado com a mãe, mas essa diz não saber de nada. Quando entro com a assistente a mãe já estava interrogando a filha.
– Pode falar filha, estou aqui com você. Quem fez isso?
– Ele disse que eu não podia contar para ninguém, ele disse que era o nosso segredo mamãe e que eu ia gostar.
– Conte para nós, sou sua mãe lembra? Sem segredos. – A mãe insiste e a menina me olha tristemente.
– O primo Timy disse que a gente ia só brincar, ele colocava na minha boca o negócio dele e depois me fazia chupar até sair um negócio branco, eu não gostava, mas ele me mandava engolir. – A mãe tapou os olhos desesperada, mas nada falou.
– O que mais ele fazia? – insisti. – Sabe a idade dele?
– Ele é mais velho que eu, tem 23 anos, ele fala que é melhor eu aprender cedo e que assim eu iria ficar mais gostosa para ele, depois de um tempo ele me deixava sem roupas e lambia meus peitos e mexia lá embaixo, algumas vezes era bom, mas em outras ele ficava impaciente e doía um pouco. Fiquei todos os dias das férias esperando-o aparecer em casa, ele disse que me ama e que eu ia dar um presente para ele, mas que não era de comprar e eu fiquei curiosa.
– Meu bem, qual presente ele te pediu? – A assistente chamada Nina pergunta.
– Ele não disse no dia, mas depois que a mamãe e o papai voltaram a trabalhar ele me mostrou. – Ela suspira e abaixa à cabeça – eu tive educação sexual na escola por um tempo e explicaram essas coisas, mas nós nos amamos.
– O que ele pediu? – Nina insistiu mesmo já sabendo a resposta.
– Ele pediu minha virgindade e eu topei por amor, não façam nada com ele, eu deixei. – A menina suplica.
– Nada de ruim vai acontecer com você. – Eu falo com um nó formado na garganta. – Só aconteceu uma vez?
– Não, – ela abaixa a cabeça para não olhar para a mãe – no primeiro dia ele chegou mais cedo do que nos outros dias e tirou toda roupa dele e mandou eu tirar a minha. Mandou eu ficar igual cachorro em cima da cama e colocou o negócio dele em mim, doeu muito, pedi para ele parar mais ele mandava eu não reclamar e foi mais rápido ainda, eu chorei mais ele não ligou, só parou quando saiu o negócio branco. Me jogou na cama, colocou a roupa e foi embora.
– Ah minha filha... – A mãe a abraça forte, quase querendo que a menina se fundisse a ela. – Por que não me contou? Sou sua mãe.
– Foi amor mamãe e era segredo. Ele me ama.
– Foi só essa vez? – Nina pergunta.
– Não, a gente namora e namorados fazem essas coisas. Nas outras vezes que aconteceu eu não sentia dor mais, ele fazia com força e depois de se aliviar saia, teve alguns dias que foi mais de uma vez.
– Ele disse que eram namorados? – ela assente.
– Ele faz quase todo dia, menos quando papai e mamãe estão em casa. Eu não reclamo, pois se eu o fizer ele me b**e e depois leva um amigo dele para fazer a mesma coisa, e o amigo dele tem o... o negócio maior e machuca, ainda mais quando vão os dois ao mesmo tempo então eu obedeço. Eles não têm paciência, às vezes arde muito acho que é porque faz várias vezes seguidas, mas não para mesmo eu pedindo. Um coloca na minha boca e outro na minha vagina e vão trocando até sair muitas vezes o negócio branco deles e vão embora perto do horário de papai chegar do trabalho. Mas eu tenho me comportado bem aí vai só ele.
Eu estou nauseada, algumas lembranças vêm até mim. Meus pesadelos passam pelos meus olhos e eu faço de tudo para disfarçar. Alguns minutos de relato ainda seguem e no final me despeço e saio do quarto, a ânsia é tão forte que vomito na primeira lixeira que vejo. Sinto alguém segurando meu cabelo que em algum momento se soltou do coque que fiz na pressa para atender a ocorrência, olho de relance vendo um jaleco branco, mas não consigo pensar muito por causa do mal-estar.
Me levanto junto com minha dignidade, dou um passo para trás meio que por instinto e me encosto numa parede de músculos que me ampara segurando meus braços, eu sei que não deveria, mas acabo sentindo um perfume delicioso e com isso sem perceber me sinto segura pela primeira vez em muito tempo.
Fico ali parada por alguns segundos sentindo aquele aconchego até perceber o que está acontecendo e me afasto e viro imediatamente encontrando o novo chefe que me olha de forma preocupada e também com ternura. Ternura? Deixa de ser doida sua maluca. Balanço a cabeça ligeiramente para espantar o pensamento sem pé nem cabeça e o olho nos olhos.
– Me desculpe chefe, meu último caso não foi fácil.
– Eu sei, estava junto aos policiais atrás da cortina onde vocês não poderiam ver e conseguir o testemunho dela, dessa forma ela não se constrange tanto e também não precisa relatar tudo mais de uma vez.
– Ela é só uma menininha, independente disso nenhuma mulher deveria passar por isso. É cruel e desumano.
– É sim, vamos ao meu escritório até você se acalmar?
– Não precisa senhor, vou para a sala dos médicos para tomar um banho e me recuperar para conseguir ir embora.
– Hoje não é seu dia de trabalho né? – Nego com a cabeça já que foi ele que me mandou para casa ontem à noite depois de quase setenta e duas horas direto aqui.
– Volto na segunda senhor. – Eu digo e ele ri como se não acreditasse, olha que abusado.
– Está bom! Até mais tarde doutora. – Ele diz ao sair na direção oposta da que eu vou.
Tenho que admitir, errado ele não está. Eu vou voltar hoje aqui, eu sempre volto. Na verdade, nem mesmo sei se vou embora.