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4 - Estamos realmente fazendo isso.

A pasta do casamento estava aberta sobre a mesa de centro, intocada há dias. Páginas de arranjos florais cuidadosamente escolhidos, opções de locais e modelos de vestidos se misturavam, zombando dela. Dois meses se passaram desde seu aniversário. Dois meses longos e solitários. Adônis nunca havia falado sobre isso. Nenhum parabéns tardio, nenhuma surpresa atenciosa para compensar, nada. O homem que antes a fazia se sentir o centro do seu mundo de repente se esquecera de que ela existia.

Ela tentara ser compreensiva. Tentara acreditar que era só trabalho. Caio mencionara que o Cooper Group havia fechado um negócio enorme, o que supostamente mantinha Adônis imerso em longas horas e reuniões intermináveis. Mas o trabalho nunca o impedira antes. Por mais ocupado que estivesse, sempre arranjava tempo para ela. E agora? Agora ela praticamente morava sozinha na cobertura deles.

O silêncio era ensurdecedor. Ela não conseguia mais sentir vestígios da loção pós-barba dele no ar. O leve aroma de cedro e especiarias que costumava estar nos lençóis deles fora substituído pela doçura solitária do seu xampu de morango. Ela se sentou na beira da cama, os dedos agarrando o celular, olhando para a única mensagem que ele havia enviado naquela manhã.

Dony: Você ficará linda com qualquer coisa que escolher.

Katherine expirou bruscamente, apertando os lábios. Uma mensagem. Foi tudo o que recebeu. Nenhuma oferta para ir com ela. Nenhuma carinha. Apenas uma mensagem insossa, como se ele estivesse falando sobre qual marca de café ela deveria comprar. Bufando, ela pegou as chaves e o casaco. Se ele não estaria ali, tudo bem. Ela tinha coisas para fazer. Seus saltos estalaram contra o piso de mármore enquanto ela saía da cobertura, sua mente era uma tempestade de frustração e decepção.

O ar frio lhe ardia a pele ao sair do carro, olhando para o prédio de vidro reluzente do Nexus Care Hospital, um dos centros médicos mais prestigiados da cidade. Financiado inteiramente pela família Cooper. Katherine já estivera ali inúmeras vezes. Para galas beneficentes, reuniões e para cuidar de pacientes pelos quais se afeiçoara durante sua residência. Mas hoje, seus passos pareciam mais pesados.

Ela precisava de uma distração. Qualquer coisa que a afastasse do buraco enorme que Adônis havia deixado em sua vida. Caminhando pelos corredores imaculados, ela acenava para os enfermeiros e médicos que passavam, com a mente ainda girando. Talvez tivesse sido paciente demais. Talvez tivesse deixado aquilo continuar por tempo demais.

Talvez Adônis já tivesse feito sua escolha, ela simplesmente não era a pessoa que ele havia escolhido.

Katherine tentara ignorar os sussurros. Os olhares demorados. A maneira como as pessoas hesitavam antes de falar com ela, como se soubessem de algo que ela desconhecia. Mas os tabloides tornaram impossível fingir.

“Herdeiro do Cooper Group e primeiro amor reunidos?”

“Avistados: Adônis Cooper e Ester Royal: Apenas amigos ou algo mais? Visitas noturnas, jantares privados, o casamento foi cancelado?”

Foto após foto inundaram a internet. Adônis e Ester em restaurantes. Adônis abrindo a porta do carro para ela. Adônis parado perto demais dela do lado de fora de um hotel.

Katherine se esforçou para não se importar, se esforçou para dizer a si mesma que eles eram apenas amigos. Mas aí Lia ligou.

— Kate. — a voz de Lia era cautelosa, como se estivesse manuseando vidro frágil. — Você está bem?

Katherine agarrou o telefone com força, engolindo o nó na garganta.

— Sim, estou bem. Só cansada.

Uma pausa.

— Kate...

— Eu disse que estou bem, Lia. — Sua voz era firme. Firme demais. — Te ligo mais tarde. — Ela desligou antes que sua melhor amiga pudesse insistir.

Mas ela não estava bem. Nem perto disso.

Katherine entrou na Nexus Care, o ar carregado de antisséptico e o zumbido de conversas murmuradas. Ela registrou o ponto, o movimento automático, sua mente divagando enquanto alisava seu uniforme. O dia de hoje parecia estranho. Um peso invisível se acomodou sobre seu peito, pressionando a cada respiração. Mas ela seguiu em frente, porque esse era o seu trabalho. Continuar em frente. Continuar se curando. Continuar.

Enquanto ela se dirigia ao primeiro paciente, uma enfermeira a interceptou com uma expressão hesitante.

— Katherine. — ela começou, a voz continha o tipo de piedade que fez soar o alarme na mente de Katherine. — É Ester Royal.

O chão sob ela pareceu desaparecer. Seu estômago se revirou, seu pulso pulsava descontroladamente contra as costelas.

Não. Não, não é a Ester.

Katherine mal assentiu, forçando os pés para a frente, mesmo com as mãos tremendo. Ela havia passado anos aperfeiçoando a arte do distanciamento emocional, de manter o pessoal e o profissional separados. Mas isso? Era um teste cruel para seus limites.

Ela parou do lado de fora da porta, respirando fundo antes de entrar. A visão roubou o ar de seus pulmões.

Ester sentou-se ereta na cama do hospital, com a postura equilibrada, a expressão calma e confiante. Ela não parecia fraca. Não parecia frágil. Na verdade, parecia estar no controle, como se pertencesse àquele lugar, como se aquele momento sempre tivesse sido destinado a ela. E sentado ao lado dela, com os dedos delicadamente entrelaçados aos dela, estava Adônis.

Ele olhou para Katherine, com algo ilegível brilhando em seus olhos. Culpa? Arrependimento? Ou pior... nada?

— Você veio. — murmurou Ester, com a voz suave e os lábios se curvando em algo que não era bem um sorriso irônico, mas era bem próximo disso.

Katherine engoliu em seco as lágrimas.

— Claro. — disse ela, calma, mesmo quando seu mundo estava perigosamente perto de desabar.

Ester olhou para Adônis antes de se virar para Katherine.

— Que bom. Eu não queria que você ouvisse isso de segunda mão. Queria que você visse com os próprios olhos.

Ver o quê? Que ela estava tirando tudo dela? Que ela tinha vencido?

Adônis apertou a mão de Ester com mais força, seu polegar roçando sua pele em um gesto tão íntimo que provocou uma nova pontada de agonia no peito de Katherine. Ele não a tocava daquele jeito havia meses.

— Espero... — disse Ester suavemente. — que possamos superar isso.

Katherine olhou para ela, depois para Adônis, procurando por algo... qualquer coisa, em que se agarrar. Mas não havia nada. Apenas o peso insuportável da perda.

Respirando fundo, ela assentiu.

— Se cuida, Ester.

E com isso, ela se virou e foi embora, deixando para trás os últimos resquícios de um futuro que nunca foi verdadeiramente dela.

4 MESES DEPOIS

A consulta de gravidez do quinto mês estava marcada para a tarde, e Katherine não teve escolha a não ser passar a manhã atordoada. Quando finalmente entrou na sala de exames, sentiu o peso de cada respiração pressionando suas costelas.

Ester já estava deitada na mesa de exames, com o avental hospitalar sobre a barriga crescente. Adônis sentou-se ao lado dela, com uma expressão indecifrável. O técnico de ultrassom preparou o aparelho, e o gel frio aplicado na barriga de Ester a fez estremecer levemente.

Katherine engoliu em seco, mantendo a voz firme.

— Você está pronta?

Ester assentiu, entrelaçando os dedos com os de Adônis. A visão quase tirou o ar dos pulmões de Katherine, mas ela continuou se movendo, continuando seu trabalho.

A sala ficou em silêncio enquanto a tela piscava, revelando o pequeno e vibrante batimento cardíaco do bebê. Ester soltou uma risada suave e emocionada, e Adônis expirou profundamente, com algo próximo ao alívio percorrendo seu rosto.

— Aí está o seu bebê. — disse Katherine, com a voz quase num sussurro. Ela apontou para o pequeno vulto na tela, o peito apertado por emoções que ela se recusava a nomear.

— Ele é lindo. — murmurou Ester, com os olhos brilhando.

As mãos de Katherine tremiam enquanto ela fazia as medições, com o pulso martelando. Ela deveria estar deitada naquela mesa. Ela deveria estar sentindo Adônis apertar sua mão, sussurrando sobre o futuro deles.

Mas não era ela. Nunca seria.

Ela forçou um sorriso forçado.

— Está tudo ótimo. — disse ela. — Coração batendo forte. Crescendo no caminho certo.

Ester se virou para Adônis e apertou sua mão.

— Estamos realmente fazendo isso. — sussurrou ela.

E naquele momento, Katherine soube que precisava deixar ir. Não importava o quanto doesse, não importava a profundidade da ferida, Adônis já havia escolhido seu caminho. E ela não estava nele.

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