Cap.91
O motor do carro roncava baixo, o único som que quebrava o silêncio pesado entre nós. A mão dele envolvia a minha — firme, quente, uma âncora em meio ao turbilhão da noite. Eu sentia o cansaço dele no ar, uma tensão diferente da habitual. Não era a frieza calculista, mas o esgotamento de quem carregou um peso maior do que os ombros aguentam.
— Podemos ir para o meu apartamento? — a voz dele saiu rouca, mais um pedido do que uma ordem.
Eu só consegui acenar, o corpo ainda tremendo por dentro. “Podemos ir.”
— Quero conversar com você sobre algumas coisas que estou curioso — disse ele, e eu não consegui responder. Estava tensa o suficiente.
A viagem foi um vácuo. Meu olhar fixo na janela, mas sem ver a cidade passar. A pergunta que ele não fez, mas que eu sentia pairando no ar, queimava minha língua. Eu sabia sobre o que ele queria falar.
O que aconteceu naquela manhã com a Mima? Que briga foi aquela?
Ele finalmente quebrou o silêncio, o tom cuidadoso, quase hesitante, como eu já