— Tenho coisas para tratar na empresa, te levo outro dia. — Disse Aidan.
No entanto, assim que cheguei à empresa, percebi que havia algo estranho no ar. Os olhares ao meu redor estavam carregados de pena, compaixão e deboche.
Por acaso, ouvi duas colegas cochichando:
— Meu Deus! Aidan vai mesmo abandonar a Liora?
— Na reunião de hoje, a Seraphina não parava de mexer no cabelo, exibindo a marca de mordida no pescoço. Claramente foi o Aidan que a mordeu.
Os documentos na minha mão caíram no chão com um leve som. Imediatamente, pararam de fofocar.
Abaixei-me para pegar os papéis, mas o papel fino grudava no chão fazendo com que toda vez que eu pegasse um, outro caía.
Respirei fundo várias vezes até acalmar meu coração inquieto.
Tinha muito trabalho pela frente, e fiquei até de madrugada para terminar tudo.
— Liora, por que não respondeu às minhas mensagens? — Senti algo pousar sobre meu ombro.
Olhei para meu paletó com cheiro forte de perfume e abri meu celular.
"Que marca de perfume as mulheres gostam?"
Dois anos atrás, quando ele foi nomeado alfa e participou de um baile, eu usei o meu vestido mais caro, uma maquiagem perfeita, e comprei um perfume caríssimo.
Mas ele tapou o nariz e me empurrou com nojo.
— Que porcaria é essa que você passou? Que fedor! Some daqui, não me envergonhe! — Disse.
E agora, na minha mesa, havia um frasco de perfume.
— Você não adora perfume? — Aidan disse, surpreso ao ver que não mostrei nenhuma reação.
— O cheiro é forte, vai me dar dor de cabeça. — Respondi com indiferença.
O silêncio no escritório deixou o ambiente ainda mais estranho.
— Vou buscar umas coisas. Me espera para sairmos juntos. — Ele resmungou depois de alguns minutos.
Assim que saiu, o celular dele vibrou. Na tela iluminada apareceu o nome da Seraphina com a seguinte mensagem: "Aidan, você é demais. Tenho perfume para vida toda."
Logo em seguida, veio uma foto com dezenas de frascos espalhados pelo chão, e ela ao lado, atraente com uma meia-calça preta, era impossível desviar o olhar.
De volta para casa, entrei no quarto e comecei a arrumar minhas coisas.
Depois do banho, Aidan abriu o guarda-roupa e reparou que havia apenas uma ou duas peças de roupas minhas.
— Liora, semana que vem vou viajar para a Itália. Me passa seu tamanho, vou mandar fazer algumas roupas para você.
— Não precisa. — Recusei diretamente.
Em poucos dias, eu iria embora.
— Eu te dei um presente. Se não gostou, tudo bem. Mas não fique arrumando confusão por causa disso. — Ele jogou um cabide na cama e me lançou um olhar frio.
Eu estava prestes a explicar, mas Aidan me olhou com desprezo.
— Liora, não pense que vai chamar minha atenção assim. Eu detesto mulheres fingidas e pretensiosas. Desta vez você foi longe demais. — Disse jogando um casaco nos ombros e batendo a porta ao sair.
Namoramos por dez anos. Em todas as brigas Aidan saía batendo a porta assim. E eu, sempre corria atrás, pedindo desculpas, implorando pelo seu perdão. Mas desta vez, eu estava cansada.
Aidan desbloqueou o celular várias vezes, mas não recebeu uma mensagem minha. Voltou para casa só de madrugada.
Na manhã seguinte, como de costume, preparei o café da manhã para nós dois.
Comi a minha parte e me preparei para sair, quando Aidan apareceu na porta do escritório com o rosto carrancudo. Barbudo e com olheiras escuras, aparentava ter ficado acordado a noite toda.
— Liora, hoje você não vai para a empresa. — Ergueu o celular e me ordenou, impaciente. — Preciso que você prepare este banquete até as três da tarde.