Eu era apenas uma ômega comum, invisível, sempre sendo humilhada pelos outros. Foi o Aidan quem estendeu a mão para mim quando eu estava coberta de feridas.
Desde então, ele passou a me proteger e estar comigo todos os dias. Até que Seraphina apareceu.
Olhei para o ícone da captura de tela, era o mesmo que a notificação da noite anterior. Era da Seraphina.
Não disse nada. Aidan também percebeu o quão absurda era a situação e estava prestes a falar, mas eu apenas assenti com a cabeça.
— Está bom. Vou comprar os materiais.
Dessa vez, considerei como um favor retribuído. Depois disso, não haveria mais dívidas entre nós.
Peguei minha mochila e me preparei para sair. Aidan olhou para minhas costas e sentiu uma pontada estranha no peito.
— Espera. — Ele disse,
— Mais alguma coisa? — Segurei a maçaneta da porta sem me virar.
— Não... Eu já te transferi o dinheiro para os materiais.
Ao sair, reparei na enorme quantia da transferência e imediatamente apertei o botão para devolver.
Foi só então que percebi no histórico da nossa conversa, que eu tinha mandado mais de mil mensagens para Aidan, e ele só me respondeu com algumas. Entre elas, estava a captura de tela da decoração do evento e essa transferência.
Na sala de estar, Aidan ouviu a notificação da devolução da transferência. Ficou irritado e apertou o celular com as mãos.
— Liora, onde você está? — Recebi uma ligação dele às seis da tarde.
Eu estava na sala ao lado, ouvindo ele e Seraphina rindo juntos.
— Alguma outra ordem? — Respondi sem me importar.
Do outro lado, ele ficou em silêncio por alguns segundos até que sua voz ficou gentil.
— Não é nada demais. Só queria agradecer pela decoração. Ela... eu gostei muito. — Depois de alguns segundos, falou num tom mais baixo. — Obrigado pelo esforço.
Antes que eu pudesse responder, ouvi a voz da Seraphina.
— Liora, ouvi dizer que foi você quem cuidou da decoração! — Disse. — Obrigada por preparar essa festa de aniversário para mim. Ficou maravilhoso! Se não fosse o Aidan dizendo que queria me surpreender, eu nunca teria recebido um presente assim tão bom!
Enquanto ela me convidava para entrar, Aidan puxou o telefone da mão dela e recusou imediatamente:
— Liora, não precisa vir.
Em seguida, a chamada foi desligada.
Quando eu estava prestes a pousar o telefone, ele tocou de novo. Aidan enviou a localização e a mensagem: "Seraphina quer uma garrafa de champanhe para comemorar. Compra e traz aqui."
Logo em seguida, os gemidos começaram do outro lado da parede.
Abri a porta e fui embora. Quando cheguei de volta à sala, Aidan segurava o rosto da Seraphina, olhando para ela com ternura.
Ao me ver, ele parou por um segundo e me encarou com raiva. Eu já sabia que aquela mensagem e localização tinham sido enviadas por Seraphina. Mas, mesmo assim, levei o champanhe.
— O que você está fazendo aqui?! — Aidan me repreendeu furioso.
— Aidan, fui eu que pedi o champanhe. Usei seu celular para mandar a mensagem para Liora. — Disse Seraphina, pegando a garrafa da minha mão, servindo uma taça e entregando para ele.
Aidan sorriu com carinho, pegou o copo e brindou com ela.
— Que estejamos juntos em todos os seus aniversários.
Olhei para o sorriso no rosto dele e tirei um envelope da bolsa.
— Aidan, tem um documento aqui que você precisa assinar. — Disse, entregando o envelope.
Aidan pegou, viu a palavra "contrato" na capa e começou a folhear. Fiquei tensa por um instante, mas meu rosto permaneceu calmo.
— Aidan, é meu aniversário... — Seraphina franziu a testa e disse.
Aidan se apressou em se desculpar e assinou o documento sem pensar, devolvendo-o para mim. Seraphina recostou-se no sofá, girando a taça de champanhe e arqueou uma sobrancelha em minha direção.
Antes, esse tipo de provocação teria me machucado profundamente. Mas agora, meu coração estava calmo.
Quando me virei para sair com o documento em mãos, Aidan segurou meu pulso de repente.
— Liora, você veio até aqui só por causa disso? — Disse, com o rosto fechado.