Havia eras que o Criador não convocava Satanás diretamente.
Quando o fez, o véu entre dimensões tremeu.
O salão onde Ele se manifestou não possuía forma, nem cor, nem direção. Era um espaço primordial — anterior à luz e à sombra. Flutuavam ali ecos de mundos ainda não criados, geometrias vivas, sussurros de futuros possíveis. O Criador surgia como uma presença impossível de ser olhada, mas impossível de ser ignorada.
Satanás, o Portador da Contradição, inclinou-se.
Não por respeito.
Mas porque a força que emanava desse espaço o esmagaria, caso ousasse permanecer ereto.
A voz do Criador veio como mil vozes, mil silêncios:
— Satanás… é chegada a hora de um novo trabalho.
O ar tremeluziu. Um planeta recém-projetado se acendeu no centro do vazio — nebuloso, instável, recém-nascido. Seus mares ainda fervilhavam em linguagem. Suas montanhas eram pulsos de energia bruta. Seu céu mudava de cor conforme respirava.
— Neste novo mundo — disse o Criador — tu necessitarás de um agente. Um ser ca