Ela…
“Algumas feridas a gente não esquece.
Só aprende a esconder.
Até que algo, ou alguém, nos obrigar a desenterrá-las”
Eu estou em casa.
Em recuperação, como dizem.
O corpo cicatriza com rapidez quando há médico por perto, remédios controlados, sopas quentes e colchões confortáveis.
Mas o que ninguém vê — o que eu escondo até de mim mesma — é o que ainda sangra por dentro.
Desde que Clara me amarrou naquele galpão, desde que vi o sorriso vazio dela e senti a vida se esvaindo das minhas mãos, algo em mim não voltou para o lugar.
Há noites em que acordo de súbito com a respiração presa, como se tivesse sido arrancada do sono por uma mão invisível me sufocando.
E não é só pelo que Clara fez.
Não.
É algo que vem de antes.
Muito antes.
Clara,