CAPÍTULO 2
A cirurgia para interromper a gravidez ficou marcada para daqui a uma semana. Mesmo assim, continuei dirigindo meu táxi todos os dias, sem parar de trabalhar.

Hoje à noite, peguei um passageiro. Assim que ele entrou, o carro se encheu do cheiro forte de álcool.

Instintivamente, tapei o nariz.

Desde que engravidei, fiquei ainda mais sensível a cheiros.

O passageiro percebeu e me lançou um olhar de reprovação, visivelmente irritado:

— Tá me achando fedido? Só porque você dirige esse táxi velho acha que pode me julgar? Quem você pensa que é pra olhar assim pra mim?

Fiquei quieta, só lembrei ele de colocar o cinto de segurança.

No meio do caminho, ele começou a se insinuar:

— E aí, gatinha, por que uma mulher tão bonita tá dirigindo táxi?

— Que tal ficar comigo? O tio te leva pra comer do bom e do melhor.

Enquanto dirigia, fui me afastando das mãos dele, que insistiam em me tocar. Meu rosto ficou sério.

— Senhor, por favor, me respeite.

— Respeito? Uma taxista dessas devia agradecer por eu ter dado atenção!

Ele me empurrou de volta pro banco, com desprezo estampado no rosto.

— Você acha que é alguma princesa, é? Nem posso te encostar?

Cerrei os dentes, sem dizer nada.

Vendo que não reagi, ele ficou ainda mais atrevido:

— Vai ficar pagando de santa pra cima de mim?

— Hoje eu faço o que quiser com você, e você não pode fazer nada!

A mão áspera dele agarrou minha cintura. Meu corpo inteiro se arrepiou, pisei no freio com força, empurrei ele o mais forte que consegui e saí correndo do carro.

— Qual é o seu problema?

— Vagabunda, como se atreve a me empurrar?

Cheio de raiva, ele pegou uma lata de Coca-Cola gelada e despejou tudo na minha cabeça.

O líquido gelado escorreu pela minha testa, me arrepiando toda.

Foi então que levantei a cabeça e, do outro lado da rua, vi a empresa do August.

No telão de LED, passava o vídeo dele comemorando o aniversário da Ivy.

Ele colocava um colar caríssimo nela, mimando como se ela fosse uma rainha.

Ivy sorria como uma princesa, enquanto ele limpava delicadamente o bolo do canto da boca dela.

Meus olhos arderam, quase chorei na mesma hora.

O passageiro olhou pra mim com desprezo:

— Tá olhando o quê? Aquele ali é chefão da máfia! E aquela é a amiga de infância dele, a verdadeira rainha. Você, uma qualquer, devia parar de sonhar.

"Ivy, feliz aniversário."

No telão, August desejava tudo de bom pra Ivy.

De repente, meu olhar travou.

Na janela enorme do prédio, vi uma silhueta familiar.

A pessoa parecia que vinha na minha direção, mas logo alguém a puxou pra dentro.

Meu coração disparou, abaixei a cabeça tentando me convencer de que era só impressão minha.

Por algum motivo, lembrei das palavras do August quando começamos: "Casey, eu sempre vou te proteger."

Agora, isso me parecia uma piada cruel.

As lágrimas correram pelo meu rosto, e, de cabeça baixa, fui embora dali, arrasada.

Quando voltei pra casa à noite, eu estava toda molhada, tremendo de frio.

Assim que entrei, vi o August preparando a decoração de uma festa.

Ele me olhou surpreso:

— Casey, você voltou tão cedo hoje?

— Eu...

Antes que conseguisse terminar a frase, não segurei um espirro.

— Você tá gripada? — Ele estendeu a mão pra sentir minha testa.

Instintivamente, desviei.

— Não é nada. — Respondi de cabeça baixa, fria. — O que você tá fazendo?

— Hoje é aniversário da Ivy. Resolvi organizar uma festinha pra ela. — O tom dele era carinhoso, o rosto cheio de expectativa.

Apertei os lábios, sem dizer nada.

Ele parecia não perceber que eu estava diferente e continuou, animado:

— Casey, vem participar com a gente, vai?

— Não tô me sentindo bem, queria descansar um pouco.

Assim que terminei de falar, a Ivy saiu do quarto:

— Ah, Casey, participa sim! Fica tão mais legal com todo mundo junto.

Atrás dela, vieram vários amigos deles, todos olhando pra mim com aquele olhar de desprezo.

Antes, eu não entendia aqueles olhares. Agora, entendo, eles eram todos de famílias ricas, enquanto eu era só uma garota comum. Pra eles, eu estar namorando o August era como se eu estivesse querendo voar alto demais.

Por isso, sempre me trataram com desdém.

— Casey, você veio assim, toda molhada, pra nossa festa?

— Pois é, devia saber o seu lugar.

August olhou pra mim, depois olhou pra eles, e fez sinal pra que ficassem quietos.

Na sequência, tentou aliviar o clima:

— Casey, que tal fazer um bolo pra Ivy? Você sempre faz tão bem, já comprei todos os ingredientes.

— August, eu não tô bem, queria só...

Ele me cortou:

— Faz isso por mim, por favor?

O tom dele era suave, mas havia uma firmeza que não admitia recusa.

Eu não aceitei.

Vendo isso, Ivy logo fez seu papel de boazinha:

— Deixa pra lá, August. Acho que a Casey não tá num bom dia. Não vamos forçar.

— Eu sei... a Casey nunca me considerou uma amiga de verdade...

Ela foi falando, e os olhos dela ficaram vermelhos de tanta mágoa.

Baixei a cabeça e virei para ir pro meu quarto.

Foi então que, no canto da sala, reparei em algumas roupinhas de bebê sendo usadas como pano de chão.

Eram aquelas que eu mesma costurei, ponto por ponto, pra minha primeira filha.

Minha filha morreu por causa do August, e agora nem essas roupinhas tiveram paz.

Meus olhos se encheram de lágrimas na hora:

— O que é isso?

August seguiu meu olhar, sem entender:

— São panos de chão. Por quê?

— Panos de chão? — Mordi os lábios, a voz tremendo. — Como você pôde... Essas roupas fui eu que fiz pra nossa filha!

August, apavorado, pegou as roupinhas, olhando sério para os outros:

— Quem… quem fez isso?

Ivy logo apareceu com cara de arrependida:

— August, Casey, me desculpa, eu não sabia que essas roupinhas eram tão importantes assim.

— Eu só não achei nenhum pano de chão, aí usei essas mesmo. Não pensei que você fosse ficar tão brava.

— Depois eu compro outras pra te dar, não fica assim.

August lançou um olhar feio pra ela, mas logo veio me consolar, todo carinhoso:

— Não liga pra isso, amor. A Ivy não fez por mal. Depois eu compro roupas novas.

— Fica tranquila, nossos filhos sempre vão ter muitas roupas para usar.

Atrás dele, Ivy me lançou um sorriso provocante, rasgou uma das roupinhas e levantou as mãos, como se quisesse me mostrar que não ligava.

— Você... — Olhei pra ela, agarrando as roupinhas, tremendo de raiva.

Essa era a única lembrança que eu tinha da minha primeira filha. Ela nem chegou a conhecer o mundo e já se foi.

Por tantas noites, abracei essa roupinha para matar a saudade dela.

Mas Ivy pisou sem dó na única coisa que ainda me ligava à minha filha!

August, ao me ver chorar, correu pra enxugar minhas lágrimas, tentando me consolar. Depois, ordenou:

— Amor, não fica assim. Ivy, vem aqui pedir desculpa!

Ivy logo fez cara de choro:

— Casey, me perdoa, foi mal mesmo... Se você quiser descontar, pode me dar uns tapas.

Nessa hora, o James, amigo da Ivy, começou a rir:

— Ah, para com isso! A Ivy já pediu desculpa, e com esse dinheiro aqui dá pra comprar quantas roupinhas quiser. Fazer esse drama todo por coisa pequena, que mesquinharia!

Enquanto falava, tirou um maço de dinheiro da carteira e jogou na minha direção.

— Tá bom assim? Se não for, eu dou mais!

Tremendo de raiva, com os olhos vermelhos, dei um tapa nas notas, jogando-as longe.

— Saiam daqui! — Gritei com a voz rouca, encarando todos eles. — Todos vocês, sumam da minha frente!

August fechou a cara:

— Casey, por que você tá brigando com nossos convidados?

— Só porque passou nervoso na rua, não precisa descontar aqui em casa!

Eu fiquei parada, sentindo um frio na alma.

— Como você sabe que passei nervoso lá fora?

Ele realmente viu tudo, aquele vulto na janela era ele. E mesmo assim, não fez nada. Agora ainda vinha me culpar.

Me bateu um vazio tão grande que minha cabeça começou a rodar.

No segundo seguinte, tudo ficou preto e desabei no chão.

Antes de perder a consciência, só consegui ver o rosto assustado do August.

— Casey!
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