No meio do desmaio, era como se eu estivesse perdida numa confusão sem fim.
Ao longe, conseguia ouvir as vozes do August e da Ivy discutindo.
— A culpa é toda sua! — A voz do August soava irritada. — Se não fosse você me obrigando a fingir pobreza, a me passar por viciado em jogo pra testar o amor dela, a Casey não teria ido trabalhar de taxista. Não teria sido assediada, nem teria desmaiado de tanta raiva.
— Como eu ia saber que ela era tão fraca assim? — Resmungou Ivy, descontente. — Além do mais, se você tivesse ido ajudar quando jogaram cerveja nela, ela ia perceber na hora que você estava seguindo e vigiando.
— August, eu só estava tentando te ajudar a testar o amor dela! Era pra você achar uma esposa que ficasse do seu lado, rica ou pobre!
— Mas eu acho que fui longe demais. Ver ela sendo humilhada e não fazer nada... Eu não sou um namorado de verdade!
A voz do August soava cheia de arrependimento.
— August, você não está errado! Olha suas ex-namoradas, todas só queriam saber do seu dinheiro! Gastavam à vontade, te traíam, e ainda sustentavam amante!
— Esqueceu daquela última? Já estavam até de casamento marcado, aí eu falei pra você fingir que estava falido. Ela jurou que ia ficar do seu lado, mas depois nem se despediu, pegou o resto do seu dinheiro e sumiu pra fora do país!
August, sentado ao lado da cama, segurava minha mão com carinho:
— Mesmo eu sendo pobre e vivendo de bico, a Casey ficou comigo, quis ter um filho comigo... Acho que ela realmente me ama.
— Eu não quero mais testar a Casey. Sinto que ela me ama de verdade.
— Quero contar tudo pra ela, dar muito dinheiro pra ela, dizer quem eu sou de verdade e compensar todos esses anos de mentira!
— August, espera! Só mais uma prova! Se ela passar, aí sim você revela tudo!
Não sei quanto tempo se passou até eu finalmente acordar.
Assim que abri os olhos, vi o August sentado ao lado da cama.
No rosto dele, só dava pra ver cansaço e preocupação. Ao perceber que eu tinha despertado, ele respirou aliviado:
— Casey, graças a Deus, você acordou.
Fiquei em silêncio, olhando pra ele sem expressão.
Ele percebeu meu distanciamento e tentou se explicar, meio nervoso:
— Casey, me deixa explicar sobre o que aconteceu aquele dia, eu...
— Não precisa. — Cortei, fria. — August, vamos terminar.
Ele ficou paralisado, como se não acreditasse no que estava ouvindo.
Nesse instante, Ivy entrou no quarto:
— Casey, o que você tá dizendo? Por que vai terminar com o August?
Ela sorria falso, mas o tom era venenoso:
— Não me diga que você quer terminar com o August só porque ele está sem dinheiro e tá de olho em alguém mais rico, né?
— Ivy, para de falar besteira! — O August, de cara fechada, lançou um olhar fulminante pra ela.
No segundo seguinte, virou o olhar pra mim, desconfiado:
— Casey... você não está mesmo me largando porque eu tô pobre, está?
Baixei a cabeça, esboçando um sorriso amargo.
— E se eu dissesse que não é por isso? Você acreditaria?
O rosto do August ficou dividido, claramente lutando com o que sentia. Ele sabia de tudo que passei, do quanto me dediquei. No fim, sorriu sem jeito e tentou me abraçar:
— Desculpa, Casey. Eu não devia duvidar de você. Se você só quisesse dinheiro, não teria feito tudo isso por mim...
Mas, antes que ele terminasse, Ivy se meteu:
— August! Não cai na dela! Ela tá só se fazendo de vítima pra ganhar sua compaixão!
— Esqueceu? Aquela outra mulher também já fez esse teatrinho!
Enquanto falava, Ivy me encarava com deboche, como se tivesse certeza de que August ia acreditar nela.
Na mesma hora, meus olhos se encheram de lágrimas. Fiquei olhando fixo pro August.
August, será que você também acha que sou esse tipo de pessoa, só querendo te enganar pra ganhar sua confiança?
No fim, o olhar dele ficou cheio de decepção e raiva.
— Casey, não acredito que você chegou nesse ponto! Me decepcionou muito.
Ele acabou acreditando na Ivy, virou as costas e saiu do quarto, furioso.
Quando ele saiu do quarto e sumiu da minha vista, fechei os olhos e deixei as lágrimas caírem.
Logo no começo da manhã, a enfermeira veio me avisar que era hora de me preparar para a cirurgia.
Olhei o nome do August na agenda do celular, e resolvi ligar pra ele pela última vez.
Queria perguntar se ele ainda escondia algo de mim.
Afinal, depois de tantos anos juntos, se ele tivesse coragem de me contar a verdade, talvez eu ainda desse mais uma chance.
O telefone chamou por um bom tempo, mas quem atendeu foi a Ivy.
— Olha só, é a Casey! O que você quer? — disse ela, com um sorriso de satisfação na voz.
— Se você quer falar com o August, esquece. Ele não tem tempo pra você agora, estamos ocupados tomando uns drinks juntos.
Ela nem tentou disfarçar o desprezo:
— O August é o herdeiro da máfia Smith, sabia? Se você tivesse um pouco de noção, já teria sumido da vida dele faz tempo!
— Gente do seu nível nunca vai ser suficiente pra ele!
Baixei a cabeça, sorrindo com amargura. É, no fim das contas, eu nunca faria parte desse mundo.
— Tá bom, já entendi.
Sequei as lágrimas, desliguei o celular e fui em direção à sala de cirurgia.
Daqui a três horas, quando tudo acabasse, eu deixaria essa cidade que só me trouxe dor.
August, que a gente nunca mais se encontre nessa vida.