Lorenzo Bianchi
Fiquei parado por longos minutos depois que ela se afastou. Os pés cravados na terra úmida da margem, como se ainda houvesse uma chance de voltar no tempo. Mas não havia.
Cada palavra da Aurora parecia ecoar dentro de mim como um trovão. Não pelo tom, mas pelo peso da verdade. Ela não me odiava — o que talvez fosse mais fácil. Ela só não se deixava mais ser ferida. E isso… isso me desmontava.
Caminhei de volta sozinho, sentindo a roupa gelada contra o corpo e a alma ainda mais fria. Quando cheguei à casa, respirei fundo antes de abrir o portão lateral. Entrei pela porta dos fundos, torcendo para que ninguém estivesse ali. Não queria encarar ninguém. Não ainda.
Mas, claro, ela estava.
Camille.
Sentada no sofá da sala com uma revista de vinhos no colo, as pernas cruzadas como quem já se sentia confortável demais. Levantou os olhos assim que me viu, sorrindo daquele jeito automático — aquele sorriso perfeito que nunca me alcançava de verdade.
— Onde você foi, amor