Capítulo 04

O celular alarmou mais uma vez me trazendo de volta para a minha realidade, já fazia duas semanas que o bendito e atraente vizinho havia se mudado para a casa da frente. Casa essa que eu costumava entrar algumas vezes quando queria ficar sozinha e que por muitas vezes quando pequena eu tinha brincado com meus amigos, essa casa tinha história até demais para contar! Me levantei da cama ainda sonolenta, andei no automático até o banheiro e ainda bocejando fui tirando a roupa. Hoje iríamos fazer o mercado do mês para o restaurante. Coloquei um short jeans desfiado, um blusão, um sapatenis, finalizei minha juba e pronto. Quem se arruma pra ir ao mercado? Pois é.  Passei só um batonzinho e um rímel porque ninguém quer ver assombração de manhã cedo, mas se bem que ao nível das adolescentes brasileiras que acostumam ir ao lê cirque de manhã cedo, eu não assustaria muita gente. Saí do quarto ainda no automático, eu havia ido dormir quase duas da manhã encarando a bendita foto do desconhecido em minha câmera, o que isso quer dizer? Que tenho traços piscopatas. Isso mesmo. PISCOPATAS.

— Bom dia, dona Marília. — Falei me encostando-se a pia e bocejando.

— Já ta pronta?  — Minha mãe me encarou. — Que bom porque tem que dar tempo de passar na feira e pegar as melhores hortaliças.

— Hum. — Falei me espreguiçando e sentando-se à mesa.

— Tu foi dormir tarde, num foi? — Minha mãe falou colocando meu café. — Tu sabia que a gente ia ao mercado, Jasmim. Pois trate de acordar que hoje o dia vai ser rapidex.

— Tá mainha, tá. — Falei revirando os olhos. — Fala muito não que eu durmo.

—Tome. — Dona Marília colocou o café em minha frente.

Tomei um gole e depois outro, checando o mito da cafeína, continuei com sono. Peguei meu celular e meus fones de ouvidos de lei, coloquei em minha bolsa de lado e segui minha mãe até o lado de fora. Quando vamos fazer mercado eu costumo não tomar café sólido, me sinto agoniada.  Minha mãe tirou o carro da garagem e seguimos rumo ao mercado central. Quando chegamos ao mercado, coloquei minha musica, peguei a listinha do que eu preciso comprar e fui-me embora. Sim, eu e minha mãe temos listas separadas e nos dividimos no mercado pra ficar mais rápido. Sempre terminamos na mesma fileira. Peguei um carrinho e fui para minha missão com os fones no máximo. Estava na sessão de massas pensando em que espaguete escolher quando notei que o que minha mãe usa estava no alto. Isso é sempre absurdo porque com 1,54 eu sempre preciso pedir ajuda, olhei para a frente e não vi ninguém que pudesse me ajudar. Fiquei na ponta dos pés e tentei pegar, não consegui. Tentei novamente pulando, mas não consegui da mesma forma. Bufei. Respirei fundo e estava pensando em ir pedir ajuda a algum repositor quando um braço masculino passou diante de mim e pegou a massa.

— É essa? — O desconhecido falou atrás de mim, sua voz tinha um sotaque diferente capaz de fazer cócegas em meu estomago. Era um som grosso, porem rouco, e ao mesmo tempo suave.

— Oi... — Falei gesticulando o fone em meu ouvido e me virando para o desconhecido. — Eu acabei de gritar, eu sei. — Fechei os olhos assentindo para mim mesma.

— É essa? — Ele perguntou novamente.

— É... Obrigada. — Falei sem graça ao notar que era o meu novo vizinho. Seus olhos eram azuis da cor do oceano. Azuis questionadores, incisivos, misteriosos. A claridade de seus olhos refletia a escuridão de sua expressão fechada. Todo o seu rosto o dava um ar autoritário, questionador.

— Disponha. — Ele assentiu me encarou por alguns segundos e seguiu para os produtos da prateleira contrária.

Continuei analisando, comparando e escolhendo meus produtos com um esforço máximo para não encará-lo, mas era meio impossível. Que gato! Ele estava com uma calça e camisa social de botão. Quem em São Paulo vai ao mercado às sete da manhã vestido como se fosse para uma festa social? Uau. Notei que o molho que eu queria comprar estava ao lado dele, eu não queria me aproximar, mas, era necessário. Eu estava começando a me odiar, ele é meu vizinho! Me aproximei e analisei algumas marcas de molho, encarando de soslaio sua cara confusa a minha frente.

— Posso te ajudar? — Falei o encarando. Falando mais baixo já que agora eu só estava com um fone.

— Han? — Ele me encarou, ainda com uma expressão confusa no rosto.

— Dá pra ver que precisa de ajuda. — Falei gesticulando para sua expressão.

— Ahh. Sim. — Ele assentiu desviando o olhar e chegou um pouco mais perto como se fosse contar um segredo. — Qual a diferença disso aqui, para isso aqui? — Perguntou apontando para um molho de tomate e um extrato a nossa frente.

— Ahh... — Eu sorri. — Eu também achava bem confuso. O molho — Falei apontando — já vem com alguns realçadores de sabor e algumas ervas, para um prato já preparado. Já esse aqui — Apontei para o extrato — É só o tomate diluído, caso você queira preparar algo mais sofisticado e tenha os temperos certos.

Wie verruckt! — Ele resmungou.

— Hum? — Falei confusa. Que sotaque mais fofo!

— Ah não... — Ele umedeceu os lábios. — Ham... Que loucura. — Falou desviando o olhar.

— Quem? O que? — Falei não entendendo.

— Foi o que eu disse. — Pude ver um sorriso quase invisível tomar a linha de seus lábios. — Eu disse que loucura em alemão, força do habito. Mil desculpas.

— Ah sim, claro. Mas é loucura mesmo porque os dois podem ser usados para o mesmo propósito. Enfim, se precisar de mais alguma coisa é só me chamar. — Falei assentindo e desviando o olhar. Que idiota. — Claro que se preferir pode chamar alguém que trabalhe aqui. — Falei fazendo careta. — É... Xau.

— Ok. — Ele falou com uma expressão de quem estava se divertindo em me ver passando vergonha.

Eu peguei o meu carrinho e segui corredor à frente querendo enfiar minha cara no primeiro buraco que aparecesse. Não que buracos fossem comuns em mercados. Segui fileiras e mais fileiras pegando tudo que eu precisava. Estava andando por um dos corredores checando minha lista quando me bati nele. Coincidência dos infernos. O mundo no mercado e eu me bati especificamente nele!

— Aff. Me desculpe! — Falei, eu podia apostar que estava da cor de um pimentão. Segunda vergonha do dia.

— Tudo bem, eu quem não prestei atenção. — Ele falou apontando para o celular.

— Não, eu quem me perdi na lista. — Falei apontando para a lista.

— Eu te conheço. — Ele falou arqueando uma das sobrancelhas.

— De algumas fileiras atrás. — Falei apontando para trás.

— Não, da minha janela. A menina da câmera. — Ele falou estalando o dedo.

— Ah sim, somos vizinhos. — Falei assentindo.

— É. — Ele assentiu.

— Jasmim... — Minha mãe falou vindo atrás de mim. — Menina, tu me esqueceu foi?  — Ela falou se aproximando.

— Claro que não, dona Marília. — Falei revirando os olhos e ficando de lado para encará-la.

— Ah Oi. — Minha mãe falou para o vizinho novo. — Você é o filho da Giovanna, né?

— Mãe... — Sussurrei abaixando o olhar.

— Eu carreguei você no colo, continua lindo! — Minha mãe falou sorrindo agora ficando ao meu lado.

— Sim. — Ele assentiu com um sorriso educado. Que sorriso! — Obrigado!

— Como é seu nome mesmo? Faz tanto tempo! Aron, Are... — Minha mãe falou tentando se lembrar.

— Meyer. — Ele sorriu.

— Sei que não se lembra de mim, Meyer. Dona Marília. Fale com sua mãe para ir almoçar no meu restaurante, por conta da casa pela volta dela. — Minha mãe falou animada.

— Restaurante? — Ele falou confuso.

— Ah sim, ela sabe onde é. Inclusive ela chegou a trabalhar lá por um tempo, fomos muito amigas. Você e a minha Jasmim corriam juntos na frente daquela casa, uma picula que só Deus. — Minha mãe falou rindo.

— Picula... — Ele sussurrou me encarando por alguns segundos. — Jasmim...

— Ham... Mãe, ele está com pressa. E a gente também. — Falei baixo a encarando.

— Ah claro, não vou te atrapalhar. Mas fico feliz de ver você enorme e saudável viu. — Minha mãe abriu um sorriso gentil que só dona Marília sabe dar para conquistar as pessoas.

— Obrigado pela gentileza. Pode deixar que convencerei minha senhora a ir até seu restaurante. — Ele falou sorrindo.

— Minha senhora? — Repeti confusa, achei que não dava para ouvir.

— Mom... — Ele explicou. — Mãe. É que chamamos assim. Tenho que me acostumar com o termo mãe. — Outro sorriso discreto. Ele tem que parar de sorrir, se não meu coração pode acabar parando de bater.

— Entendi. — Assenti. — Enfim, desculpe mais uma vez, se vemos por ai. — Falei sem jeito.

— Se vemos por ai, Jasmim. — Ele assentiu me encarando. Definitivamente meu coração parou, como simplesmente falar meu nome poderia ser tão sexy?

— Ok Meyer. — Falei retribuindo seu olhar.

Nos encaramos por alguns segundos e logo fui despertada com minha mãe já lá na frente empurrando o carrinho. Saí do caminho dele e segui o meu. Uau. Uau. Uau. Estava bastante calor no mercado pela primeira vez na vida. Terminei o restante das compras junto com minha mãe e seguimos para o caixa, pagamos e fomos diretamente para o restaurante.

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