Capítulo 01

— Seja bem vinda de volta, meu amor. — Minha mãe falou ao me ver passar pela porta carregando uma mala.

— Obrigada, minha vida. Estava com tanta saudade! — Falei a abraçando de lado e passando para dentro.

— Sei que você vai se acostumar com as coisas, o restaurante está lindo! Eu sonhei com o dia em que você passaria por essa porta novamente. — Minha mãe disse com os olhos marejados.

— Eu também minha mãe, eu também! — Falei sorrindo.

— Vamos, vamos até o seu quarto. Está do jeito que você deixou! — Ela disse fungando e me guiando até o andar de cima. — Minha doce Jasmim, meu raio de Sol. Seu pai ficaria orgulhoso de você.

— Ele ficaria... — Falei ao entrar em meu quarto e vê-lo literalmente da mesma forma que deixei. Há sete anos. Eu estava feliz em voltar para casa.

***

Eu tinha tudo para ser feliz, tudo e mais um pouco... Mas aos cinco anos deixei de ser como essas garotas que acreditam em meros contos de fadas. Eu acreditava nos livros e nessa coisa de ter um amor da sua vida, mas não acreditava que pudesse acontecer comigo. Com vinte e três anos, prestes a ingressar na faculdade de artes visuais para viver o meu sonho de fotografar belezas nos meros detalhes pelo mundo a fora, nascida na cidade de São Paulo e filha de Militar que serviu no exercito, eu estava finalmente no lugar que eu desejava. Todo o meu mundo virou de cabeça para baixo quando meu pai morreu em serviço quando eu tinha apenas cinco anos, minha mãe nunca deixou de ter os olhos brilhando ao falar o quanto ele era um ótimo esposo, carinhoso, gentil, um príncipe. Eles foram casados por oito anos. Apenas oito anos para fazer a mulher que ama, a pessoa mais feliz do mundo. Dona Marília – minha mãe – sempre foi uma mulher guerreira, dona de seu restaurante no centro de Holambra, cidade onde moramos. Eu amava meu pai com todas as minhas forças, e amava mais ainda vê-los cozinhando juntos quando ele estava em casa, mesmo que eu consiga me lembrar de apenas um ou dois momentos como este. Lembro-me como se fosse hoje desta história de amor contada por minha mãe com um olhar apaixonado e sofrido ao lembrar-se do seu falecido marido...

***

— Eu conheci seu pai quando minha mãe resolveu fazer uma faxina na casa de uma Senhora riquíssima que tinha um enorme jardim, na época morávamos na rocinha e pegávamos ônibus lotado para chegar até lá, era divertido ouvir as fofocas as cinco da manhã, era divertido pra mim... — Dona Marília riu sentada no sofá perdida em pensamentos. — Para minha mãe era sempre um estresse, afinal, era exaustivo. Eu tinha dezesseis anos, e na madrugada anterior havia rolado tiroteio... Como a Senhora da casa sairia naquele dia e ela ficaria sozinha, resolveu que me levaria por medo de que rolasse tiroteio novamente e eu ficasse só em casa. Enquanto minha mãe fazia faxina eu resolvi andar um pouco pelo jardim e conhecer as belas flores que ali habitavam. Foi onde vi seu pai pela primeira vez, ele tinha dezoito anos na época. Lindo. — Ela abriu um sorriso... — Ele me perguntou meu nome e ficamos conversando, Pedro me apresentou cada espécie de planta que havia naquele lugar, eu perdi completamente a noção das horas ao lado dele, e quando nos despedimos, ele retirou uma flor Jasmim e me deu. Aquilo me fez ter borboletas no estomago.  Entrei e fui ajudar minha mãe nas tarefas. Depois daquele dia a convenci de que poderia ser útil a ajudando nos finais de semana com a faxina. Ela deixou, e eu o Pedro conseqüentemente nos aproximamos mais, trocamos contato e começamos a namorar escondido, algumas vezes o Pedro ia me ver no colégio e saíamos para comer alguma coisa, ele foi meu primeiro homem. Só que nossos mundos eram completamente diferentes né! Eu fiz Enem e ingressei na faculdade de administração e o Pedro passou no concurso militar, ficamos dois anos sem nos ver e perdemos contato, foi uma partida dolorida demais e eu foquei somente na faculdade... Até que um dia está eu na faculdade completamente distraída, quando entra o Pedro que estava ali para um seminário sobre a importância do exercito brasileiro, na época por conta de toda a guerra que estava acontecendo entre facções e etc., esse seminário era útil em várias escolas e faculdades. Eu o reconheci na hora, ele veio até a mim após o seminário e conversamos. A partir disso ele passou a colocar crédito em meu celular para que pudéssemos voltar a trocar sms, conversávamos por chamada, já que naquela época não tinha redes sociais. E um dia como quem não quer nada, ele me pediu em casamento. O namoro naquela época não era tão simples, principalmente porque nossos mundos eram diferentes e nosso relacionamento não seria aceito, já havíamos tirado a prova no começo. Do dia pra noite ele me apresentou essa nossa casa aqui em Holambra e nos mudamos para cá dois meses depois, nos casamos no civil um dia antes de nos mudar, dinheiro compra certidão de casamento, simples assim, fugimos. — Ela riu.

— E minha vó?  — Perguntei curiosa.

— Sua vó só ficou sabendo que eu iria embora quando apareci com a aliança no dedo. Avisando que havia casado com o Pedro e que de nada adiantaria mais ela dizer que não daria certo. Ela riu da minha cara, me abraçou e me desejou felicidades. Eu sabia que ela se comportaria daquela maneira, quem não aceitou foi a mãe do Pedro que como sabíamos que ela faria um inferno escolhemos essa casa longe dela.

— Que lindo, mãe! — Falei sorrindo.

— A aventura não para por ai, você havia me perguntado por que Jasmim, não foi? — Ela sorriu, eu assenti. — Escolhemos Holambra por ser a cidade das flores... E um detalhe muito importante é que quando engravidei de você meu desejo era sempre cheirar Jasmim. E então soubemos que seria uma menina. Deixamos para escolher seu nome no parto e quando seu pai colocou os olhos em você, ele disse: Doce como uma flor de Jasmin e de alma livre como a Jasmine. Minha linda Jasmim. Assim você escolheu seu nome. — Minha mãe falou rindo.

***

Mas nem sempre todas as histórias têm finais felizes, ultimamente eu me importava apenas em ser e ver a felicidade da minha mãe. Ela era meu coração. Fotografar, cuidar de dona Marília e trabalhar no restaurante dela, eram as únicas coisas que me importavam.

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