A chuva agora eram apenas respingos e vento frio, mas a trilha logo cedeu lugar a pedra, depois a cascalho, depois ao deserto. A cada passo, a lama virou poeira, e a poeira virou pó cortante que rachava a boca.
Melia e Juno caminharam acorrentadas, tornozelos unidos por um elo curto, os pulsos queimando dentro de argolas de prata. Juno estava nua mas aquilo parecia apenas divertir os carnifices enquanto Melia andava com as roupas agora esfarrapadas, o tecido mal a cobria e não aquecia nem um pouco. Os guardas puxavam a corrente quando a passada diminuía, e a passada diminuía porque os pés doíam, e os pés doíam porque, a essa altura, os dedos já estavam sangrando.
O sol era o pior inimigo das duas.
A luz fez a pele arder, a prata invadiu o sangue com gosto metálico. Não tinham água e os soldados fazam questão de beber na frente delas para deixá-las ainda mais sedentas.
— Tá com sede? — zombou um, com sotaque de Obsidian, balançando a corrente. — Então anda, favorita, quanto mais rápido