A noite havia caído sobre a Dentes de Prata como um manto pesado, silencioso demais para um território que sempre pulsara com uivos, passos e vida. Dois dias haviam se passado desde o aniversário de dezenove anos de Apprys, e pela primeira vez desde que se lembrava, o lugar parecia… assustado. Como se todos estivessem prendendo a respiração, esperando algo que ninguém ousava nomear em voz alta.
Apprys estava sentada em um dos bancos de pedra dos jardins frontais da mansão. As lâmpadas lançavam uma luz suave, dourada, refletindo em seus cabelos quase brancos e fazendo seus olhos lilases parecerem ainda mais profundos. Ela usava um vestido simples, claro, nada da pompa da festa recente. Os pés descalços tocavam a grama fria, e os braços estavam cruzados sobre o próprio corpo, num gesto inconsciente de proteção.
Se sentia… culpada.
Culpada porque via os guardas em número dobrado.
Culpada porque sentia o cheiro constante de tensão nos lobos.
Culpada porque ouvira sussurros cessarem quan