CAPÍTULO 2.3

─ Pare – ele para e me olha – não faça isso, você não entende que eu não posso. Por favor, não volte a fazer isso, nunca mais. Além disso você prometeu se comportar. Não tem palavra?

Em algum momento o motorista havia entrado no carro e começado a dirigir, não tenho ideia do momento exato que isso aconteceu, pois estava completamente envolvida nos beijos desse belo homem ao meu lado. Me voltei para janela para observar a cidade, mas pude sentir seu olhar em mim. Resolvi quebrar dessa vez o silêncio e tentar aliviar o clima de tensão que se instalou no interior do veículo.

─ Então, onde pretende me levar? – pergunto sem olhar pra ele.

─ Vamos jantar. Espero que você goste do local que escolhi.

Quando eu ia responder, meu telefone toca. É a minha mãe. Olho pra Jake – Se importa se eu atender? – Ele balança a cabeça e acrescenta – De modo algum, fique à vontade.

Eu falo, claro, em português com a minha mãe

“Oi, mãe.”

“Oi, querida. Como você está?”

“Eu estou bem mamãe. E a senhora? Como estão todos aí no Brasil?”

Sua voz já está embargada “Oh, filha, que saudades de você”

Nesse momento sou incapaz de segurar as lágrimas “Mamãe, também sinto sua falta, estou aqui há apenas dois dias e a saudade já é tão grande, fico me perguntando se vou aguentar ficar tanto tempo longe do Brasil, da senhora e de papai, da chata da Bia, da praia de Boa Viagem, de porto de Galinhas, do Recife Antigo” dou um suspiro triste.

“Você esqueceu de citar William” com a menção do nome dele olho em direção a Jake mas ele segue olhando pra frente com o rosto impassível. Ele não consegue entender nada mesmo, pelo menos ele não demonstra entender nem uma palavra do que digo em português.

“Eu falei com ele pelo W******p hoje cedo. Olha mamãe, está tudo indo bem aqui, até o momento. Agora estou saindo para conhecer um pouco da cidade, mas falo com a senhora amanhã, ok?”

“Claro, filha. Por favor, tenha muito cuidado com essas saídas à noite, eu e o seu pai ficamos apreensivos com a ideia de algo acontecer com você. Não saia sozinha com estranhos” olho pra Jake novamente e penso: Tarde demais, mamãe.

“Não se preocupe, mamãe. Eu vou me cuidar”.

“Deus te abençoe, minha filha, Nós amamos você”

Solto um pequeno soluço involuntário. “Amém mamãe, também amo muito vocês”. “Entrarei em contato pelo Skype amanhã. Chamem Bia para ajudá-los a manusear. Até amanhã, mamãe”.

“Até amanhã querida”

Desligo e encaro Jake – desculpe por isso, era a minha mãe, eu tinha que falar com ela senão ela não dormiria esta noite – ele estende a mão esquerda em direção ao meu rosto e com o polegar enxuga uma lágrima que escapou dos meus olhos.

─ Baby, não se desculpe por falar com a sua mãe e, por favor, não chore.

─ Está tudo bem, eu apenas me emocionei. Isso acontece bastante por sinal – e dou um sorriso preguiçoso.

─ Assim está melhor.

O carro para na 5th Avenue em frente a um prédio imponente absurdamente alto e com enormes janelas de vidro. Ele sai do carro e me ajuda a sair. Passamos por uma grande porta de vidro e nos dirigimos para o elevador. Ele insere um código que dá acesso à cobertura. Acho que ele pode sentir minha apreensão, pois segurou na minha mão um pouco mais forte como que pra me tranquilizar. Quando chegamos ao último andar e entramos através das portas duplas, estamos diante de um hall imenso, com paredes de cor pálida, uma pequena mesa de vidro com um enorme vaso preto. Do lado direito do hall há uma luminária de chão com uma enorme cúpula quadrada e de cada lado da luminária há uma poltrona quadrada na cor branca. Nas duas paredes que se opõe a entrada há quadros abstratos com predominância da cor preta sobre um fundo pálido. Seguimos por um corredor curto, porém largo, onde do lado esquerdo há uma escada e do lado direito duas portas. Seguimos em frente pelo corredor e chegamos a uma sala ampla. A sala tem vários ambientes: do lado direito, logo que saímos do corredor, tem um enorme sofá de formas quadradas, bem moderno, na cor preto. Ele forma um U em frente a uma lareira elétrica. Do lado esquerdo uma enorme bancada em mármore preto separa a sala de uma luxuosa cozinha com armários em aço preto. Em torno da bancada seis bancos estão dispostos, uma enorme mesa de jantar quadrada em vidro com pés de mármore preto e cadeiras aveludadas, na cor preta, ficam mais à frente diante de uma porta de vidro que dá acesso à varanda.

Jake me leva direto para a bancada de mármore, junto a cozinha – O que você gostaria de beber?

─ O mesmo que você. – Digo, enquanto me pergunto, já imaginando a resposta, o porquê dele ter me trazido para o seu apartamento. Então resolvo perguntar – Por que você me trouxe ao seu apartamento? Imaginei que a ideia era conhecer a cidade.

─ A ideia é te conhecer primeiro – diz enquanto abre uma garrafa de vinho tinto – espero que goste de vinho tinto.

─ Se for suave eu gosto.

─ É suave sim – serve o vinho nas taças e vem até mim – Como eu ia dizendo, quero conhecer você, conversar um pouco e poderíamos planejar alguns lugares pra você conhecer durante essa semana. – Ele me entrega a taça e propõe um brinde – Às lindas mulheres com cabelos e olhos negros como a noite e com sorrisos cativantes.

─ Com certeza essa não sou eu.

─ Ah, é sim baby, essa é definitivamente você – O homem que dirigiu o Bentley até aqui aparece na entrada da sala e acena pra Jake – Você poderia me dar um minuto? – eu balanço a cabeça em concordância – Não vou demorar – Ele volta para o corredor e entra por uma das portas pelas quais passamos antes seguido do homem estranho. Ele se parece um segurança, moreno, alto, com feições fortes e está elegantemente vestido com um terno.

Pego a minha taça de vinho e vou até a varanda. O apartamento tem vista para o Central Park. Estou impressionada com o fato de ainda não ter escurecido. São quase 8:00pm e ainda está claro. Não posso deixar de me questionar sobre por que eu estou aqui no apartamento de Jake? Eu não devia estar aqui. Não está certo. Enquanto espero ele retornar alterno entre momentos em que admiro à vista e tenho crises de arrependimento por ter saído com ele. Não tenho ideia de quanto tempo se passou quando sinto duas mãos nos meus ombros. Me viro e encontro aqueles olhos magníficos me fitando com admiração.

─ Admirando a vista? – ele pergunta – sabe que eu também estava? Nunca o Central Park foi tão bonito como agora, com você.

─ Você é um galanteador. Mas, respondendo à sua pergunta, eu estava sim admirando a vista, mas – desvio meu olhar do seu – também estava me perguntando o que é que eu estou fazendo aqui.

Ele segura meu queixo para me fazer olhar para ele – estamos aqui para jantar e conversar. A propósito, se importa se comermos na bancada da cozinha? Sabe, minha governanta está de folga, mas ela deixou comida congelada. Eu sei que eu devia te levar para um bom restaurante e te servir uma comida descente na primeira vez que saímos pra jantar, mas eu não queria estar em um lugar público hoje, queria um lugar tranquilo para conversar.

─ Não me importo de comer ali, e acho que vai ser divertido ver você na cozinha, essa eu não posso perder.

─ O que? Você está insinuando que eu não posso usar um forno micro-ondas? – mordo o lábio inferior na tentativa de suprimir um sorriso – Oh baby, você está me subestimando – ele segura minha mão e vamos em direção à cozinha – sente-se aí e assista ao show.

Poucos minutos depois estávamos sentados um ao lado do outro saboreando um “stew” que é um tipo de cozido de carne com vegetais. – Você é um trapaceiro – declaro sorrindo, e ele faz uma cara de chocado – você só pegou um recipiente e colocou no micro-ondas, não pode dizer que preparou o jantar.

─ Eu arrumei a mesa, além do mais a comida não teria ido até o forno sozinha, você tem que concordar comigo que a minha atuação foi essencial – ele diz todo brincalhão. Depois de uma pequena pausa ele muda totalmente o assunto – então me fala de você.

─ O que tem para saber?

─ tenho certeza de que há muito o que saber. Comece me falando da sua família.

─ Eu moro com meus pais, pelo menos até dois dias atrás eu morava – ele fez uma cara de surpresa e eu expliquei – No Brasil não é como aqui, onde a maioria dos jovens sai da casa dos pais aos dezesseis anos e vão estudar longe de casa, morar em um dormitório da faculdade e quando se forma vai morar sozinho. Claro que tem casos e casos. Lá tem uma pequena parcela de jovens que sai cedo da casa dos pais, mas isso geralmente acontece quando a universidade que eles vão ficar longe da cidade onde moram. Mas a regra geral lá é morarmos com nossos pais até nos casarmos. Quando vamos à faculdade continuamos na casa dos nossos pais, muitas vezes começamos a trabalhar e continuamos na casa dos nossos pais e quando casamos e vamos construir nossa própria família então saímos da casa deles, mas mantemos o vínculo e sempre que possível ficamos próximos. Como eu te disse, tem casos diferentes, pessoas que vão trabalhar ou estudar longe de casa, em estados diferentes e acabam saindo mais cedo. Você nunca esteve no Brasil?

─ Na verdade sim, em São Paulo e no Rio de janeiro. Fui a negócios em São Paulo e acabei indo para o Rio de Janeiro a passeio. Fiquei encantado com a beleza do lugar. As praias, o Cristo Redentor. Seu país é muito bonito.

─ Eu sou suspeita pra falar, eu amo meu país – dou um largo sorriso ─ Sou do Nordeste, moro em Recife que é capital de Pernambuco. Pernambuco tem belas praias, no interior temos algumas serras, as pessoas de lá são diferentes, são mais acolhedoras. Temos uma cultura muito rica e diversificada, seja na dança, na literatura, somos pessoas que valorizam muito a sua cultura, suas raízes. É um estado bem peculiar, bem diferente dos outros dois que você conheceu.

─ Espero conhecer um dia, você poderia me apresentar.

─ Ah, sim, claro. Eu adoraria – Até parece que eu vou estar com esse homem no Brasil algum dia. Penso na loucura que é eu estar aqui enquanto meu noivo está lá no Brasil, eu tenho um noivo. Eu tenho um noivo. Repito isso na minha cabeça pra ver se fica e eu caio na real. Ele deve ter percebido alguma mudança no meu comportamento. Ele estende a mão e retira uma mecha de cabelo do meu rosto.

─ Queria saber no que você está pensando.

─ Quer mesmo saber?

Ele não parece estar muito certo, mesmo assim insiste – Sim, Samanta, eu gostaria de saber.

Eu devo dizer-lhe? Pior do que estar com a cabeça cheia de culpa é verbalizar isso. Talvez eu não devesse falar sobre isso com ele. Seu olhar me deixa saber que ele continua esperando que eu diga alguma coisa – Olha, Jake, minha situação é um pouco complicada. Eu namoro com a mesma pessoa há seis anos, mesmo antes de começar a namorar com ele, nossas famílias já eram amigas e já existia toda uma expectativa de que, algum dia, ficaríamos juntos e nos casaríamos, não é um casamento arranjado explicitamente até porque isso não se faz mais nos dias atuais, ou pelo menos não deveria, mas ele é muito... esperado pelas duas famílias. Nós temos muitas diferenças, William e eu, e eu andava um pouco incerta sobre o nosso relacionamento. Quando decidi vir para Nova York eu estava decidida a terminar tudo, mesmo sabendo que meus pais sentiriam e que talvez ficasse um clima estranho entre as duas famílias, mesmo assim eu achei que essa distância iria piorar ainda mais uma relação que já não vinha muito bem. Então eu tentei, eu conversei com ele e expus o que eu pensava, pelo menos em parte. E eu propus a ele que déssemos um tempo e se quando eu voltasse ainda existisse algum desejo em reatar nos faríamos isso. Mas ele não concordou e dias antes da minha partida ele me pediu em casamento na presença de toda minha família e da dele e eu...eu...

─ você disse sim – ele completou.

Eu balancei a cabeça concordando – sim, eu disse sim, mas como eu poderia não dizer? Os meus pais e os pais dele era só alegria.

─ Ele manipulou você Samanta, ele sabia que você se sentiria coagida a aceitar. Eu não vou culpá-lo por querer você, afinal de contas eu te conheci ontem e no mesmo instante eu te desejei, mas ele jogou sujo e você sabe disso – eu não quero dizer isso a ele, mas ele está certo e Carol pensa a mesma coisa. No fundo eu sei disso, mesmo assim, não havia muito que eu pudesse fazer.

─ Eu estava saindo do país, Jake, eu não poderia simplesmente dizer não e deixar meus pais com essa bomba nas mãos. Pra mim seria muito conveniente, mas não pra eles. Seria egoísta da minha parte se eu agisse dessa maneira, além do mais, Will é uma pessoa legal e foi meu único namorado até hoje – Sua expressão era de incredulidade.

─ Você está falando sério? Você só teve um namorado?

─ Por favor, não me trate como se eu fosse uma aberração por ter tido apenas um namorado. Eu tenho vinte e quatro anos, namorei seis anos com Will, ou seja, comecei a namorar com ele com dezoito anos. Antes disso eu estava muito ocupada estudando.

─ Desculpe, eu só achei incomum.

─ Tudo bem. Lá também isso é bastante incomum.

Ele balança a cabeça concordando e muda de assunto ─ Você quase não comeu – ele acaricia meu rosto.

─ Não estou com fome. – Eu não devia estar falando com ele sobre o meu noivo. Se bem que talvez seja bom falar pra ver se ele se comporta. Mas, sinceramente é um pouco desconfortável. Ele percebe meu desconforto.

─ Desculpe ter insistido nesse assunto. Vamos esquecer isso. Vem, vamos sentar ali no sofá, é mais confortável. Traga consigo a sua taça.

Em uma das paredes há um pequeno móvel embutido com um moderno e discreto aparelho de som ─ gosta de música?

─ Eu adoro música, você nem pode imaginar o quanto.

Ele sorri ─ De que tipo?

─ Tenho um gosto muito eclético e quando eu digo muito, é muito mesmo. Minha preferidas, claro, são as brasileiras – dou de ombros – Eu te disse, eu amo meu país e a nossa cultura e tradições, mas eu gosto bastante também de muitas músicas americanas, desde clássicos como Frank Sinatra, Neil Sekada, passando por Michael Jackson, Simple Red, Witney Houston, Tony Braxton, até The Police ou The Calling...eu te disse: gosto eclético. Lá no Brasil ouvir música estava na minha rotina, posso dizer assim, como tomar café, almoçar, jantar, escovar os dentes. ─ Eu dou uma gargalhada.

Ele sorri e coloca uma música – conhece?

─ Sei que é Simple Red, mas não conheço essa música.

─ É home e você acertou, é Simple Red – Ele senta ao meu lado no sofá e por um momento ficamos em silêncio apenas ouvindo.

Tradução

Dê uma volta por qualquer rua

Todos nós no nosso pequeno mundo

Procurando por um coração com quem bater agora

O que vale mais que o amor

Eu estou preparado para aguentar agora

O que vale mais do que qualquer outra coisa

Para mantê-lo firme no chão agora

Uma imagem tão falsa deve acabar

Pois eu tenho esperado por um sentimento de lar

Vida real, pintada numa música.

Uma memória de amor

Após muito tempo, lar é um lugar ao qual eu espero pertencer.

Onde a terra encontra o mar

Ela estará sorrindo tão docemente agora

Eu espero que ela fique aqui bem mais do que eu ficarei

Meu coração a ama com cada batida agora

Uma imagem tão falsa deve acabar

Pois eu tenho esperado por um sentimento de lar

Vida real, pintada numa música

Uma memória de amor

Após muito tempo, lar é um lugar ao qual eu espero pertencer.

─ É linda.

─ Eu gosto muito dessa música. Hoje ainda mais. – Ele diz pensativo ─ Então, me fala mais sobre você – eu fico aliviada que ele queira apenas conversar, mas não deixo de me surpreender com isso. Afinal de contas, na primeira e única vez que nos encontramos ele quis tudo menos conversar.

─ Eu já te disse quase tudo que tem pra saber. Tenho vinte e quatro anos, sou noiva, adoro música, sou formada em direito, tenho especialização em direito empresarial internacional, recebi um convite para trabalhar aqui e decidi aceitar. – Eu tomo um pouco de vinho ─ Sempre tive curiosidade de conhecer Nova York e eu quero aproveitar ao máximo enquanto eu estiver aqui, mas meu foco mesmo é o meu emprego. Foi pra isso que eu vim.

─ Você devia trabalhar pra mim. Eu tenho um departamento jurídico, que por sinal tem me deixado louco e...

─ Sem chance – eu lhe interrompo – Eu gosto do meu trabalho e eu te conheci ontem. Não sei como você é tão bem-sucedido se não tem a menor cautela quanto as contratações dos seus funcionários.

Ele tem um sorriso eu-sei-de-algo-que-você-não-sabe estampado no rosto – Digamos que eu tenha mais cautela do que você imagina. Digamos que eu saiba mais sobre você do que você pode supor.

─ Você está me assustando. Por favor, me diga que você não é um daqueles psicopatas que investigam a vida das suas vítimas e as perseguem até matá-las.

Ele dá uma gargalhada ─ Eu não sou um psicopata e você não tem por que se assustar. Você está segura comigo. Mais um pouco de vinho?

─ Por favor – ele vai até a cozinha e traz a garrafa de vinho, enche nossas taças e volta a sentar. ─ Então, com o que você trabalha especificamente? – Pergunto.

─ Com um pouco de tudo, mas principalmente hotelaria. Tenho alguns hotéis em vários países. Nos hotéis de Las Vegas funcionam também os cassinos. Os restaurantes desses hotéis seguem um padrão que conquistou o público, de modo que a maioria dos seus frequentadores nem eram hóspedes dos hotéis. Então decidi investir em restaurantes de alto padrão. Recentemente eu fiz uma parceria com Mike no ramo da tecnologia, tenho intenção de investir mais nessa área, mas por enquanto é um experimento, digamos assim. Agora, estou trabalhando na instalação das três boates, à princípio. A primeira você conheceu ontem e as outras duas que ainda estão em execução você conhecerá em breve.

─ Receio que não, como você mesmo falou ontem, elas estão situadas em Vegas.

─ E...?

─ E... eu não tenho planos de ir para Vegas. Agora, voltando ao assunto, você atua em áreas muito diversas, não?

─ Eu não penso assim. Com exceção da área de tecnologia, que de fato é bem diferente, as outras são todas relacionadas com o lazer. Não concorda? – ele tem razão.

─ Você tem razão Sr. Grenn.

─ Sim, eu tenho. Mas a verdade é que eu gosto sim de investir em outras áreas e é possível que eu diversifique um pouco mais no futuro. Mas eu também estou ampliando a minha rede hoteleira para outros países. – Ele toma um pouco de vinho ─ O que você gostaria de fazer durante essa semana?

─ Não tenho ideia. Não sei por onde começar.

─ Então deixa comigo. Pra começar amanhã poderíamos almoçar juntos, assim você conheceria um dos meus restaurantes aqui em Nova York. Se não fosse muito entediante pra você esperar, tenho uma reunião depois do almoço, ela será no meu escritório. Depois da reunião podemos improvisar. O que me diz?

─ Pode ser. ─ Eu alcanço a minha bolsa no sofá, abro e pego o celular para ver a hora. Observei que havia uma mensagem da minha irmã no W******p, era uma mensagem de áudio – Há um áudio da minha irmã, você se importa se eu ouvir?

─ Claro que não. Vá em frente – teclo para ouvir o áudio:

“Oi, por onde você anda sua irmã desnaturada. Estou enviando essa mensagem para te dar os parabéns. Advinha quem foi a capa do caderno social do jornal desse domingo? Você e William. Ele deu uma entrevista sobre o noivado e falou que você viajou a trabalho e vai passar uns meses fora, mas que retorna em breve para cuidar das coisas do casamento. Mamãe já comprou não sei quantas revistas de noivas e não se fala em outra coisa nessa casa. Você devia ter me levado com você, eu que vou ficar aqui ouvindo falar sobre bem-casados, bolo de noiva...aff, eu não mereço isso. Entra no site do jornal. Te amo cachorrinha”

Minhas mãos estão visivelmente trêmulas, eu estou sem chão. Como ele pode fazer isso, como? Dar uma entrevista sobre o casamento sem falar comigo...isso é absurdo. Ainda bem que a mensagem é em português e Jake não pode entender caso contrário isso seria constrangedor. Se bem que talvez ele devesse ouvir pra ver se de uma vez por todas ele entende quão complicada é a minha situação. Estou muito irritada com Will. Minhas mãos estão trêmulas e eu estou ofegante.

─ Você está bem? – ele pega uma das minhas mãos – você está gelada. – Seu tom é preocupado, mas parece um pouco aborrecido.

─ Eu estou bem, desculpe. Acho melhor eu ir embora. – Guardo meu celular na bolsa e fico de pé. Ele imediatamente se levanta, me olha no fundo dos meus olhos, como se pudesse ler a minha alma, ele afaga meu rosto com as costas das mãos e aproxima seus lábios dos meus. Eu estou completamente presa nos seus olhos azuis fascinantes. Como se não pudesse mais esperar, ele me beija possessivamente. Sua língua invade minha boca, explorando, me provando. Se sua intenção é me possuir é exatamente assim que eu me sinto. Possuída por ele e por esse desejo. É tão forte que eu me sinto impotente para reagir. Minha bolsa cai no chão e eu, completamente rendida, coloco minhas mãos em seus cabelos sedutoramente despenteados e puxo para mim, retribuindo seu beijo com paixão, com desejo, com desespero. Nesse momento não há Will, não há casamento, não há problemas, somos só eu, ele e esse desejo que nos une. Sua mão esquerda agarra meus cabelos, enquanto sua mão direita aperta meus quadris em sua direção. E eu posso sentir sua excitação na minha barriga. Ele sussurra sem tirar os lábios dos meus – Fique comigo – Eu fecho meus olhos, tentando encontrar um pouco de autocontrole, mas ele sem esperar uma resposta volta a me beijar, mas dessa vez lentamente suga o meu lábio inferior – o que você faz comigo – deposita um beijo suave no canto direito dos meus lábios e em seguida beija meu pescoço, fazendo pequenos círculos com a língua.

─ Não posso – minha voz é apenas um sussurro – você não entende.

─ Não, eu não entendo. Eu quero você e eu sei que você me quer, você me deseja, cada parte do seu corpo quer isso tanto quanto eu. Todo o resto é apenas detalhe.

─ Eu não sou assim Jake. Eu não faço isso. Não sou infiel, não tenho casos de uma noite com caras desconhecidos – Eu respiro fundo, tentando me acalmar ─ Tenho certeza de que o que você quer de mim você pode ter a qualquer hora com qualquer mulher. Então não perca seu tempo comigo.

─ Não Samanta, eu não sei explicar, mas o que eu quero de você eu não encontro em qualquer mulher, nem em qualquer lugar. Acredite em mim, eu tenho procurado. Tudo que eu sei é que eu bati o olho em você e sinto essa vontade irresistível de estar por perto. Talvez quando eu conseguir entender eu possa explicar melhor. Mas, até lá eu quero estar por perto.

─ Então respeite a distância.

─ O que você me pede é... Complicado. Eu te falei, não consigo ficar longe. Mas eu vou tentar, apenas fique um pouco mais, não quero deixar você ir agora. Só mais um pouco, tome mais uma taça de vinho comigo, converse e depois eu deixo você ir – ele encosta rápida e suavemente um beijo na minha testa.

─ Ok, mas tudo tem um ônus. Quero que me conte alguma coisa sobre você. Não sobre os seus negócios. – Ele faz uma cara contrariada, mas depois assente.

─ Tenho uma irmã, Kate. Ela me tira do sério.

─ Quantos anos ela tem? Ela mora com você?

Ele bebe um pouco de vinho. Sua expressão é terna quando fala dela – Ela tem 22 anos e Mora em Londres. Pelo menos por mais uma ou duas semanas. Ela virá em breve.

─ Londres? Você vai sempre lá?

─ Não muito. Eu morei um tempo lá quando criança, mas foram apenas uns dois anos. Minha avó é quem mora lá. Eu só vou a negócios algumas vezes ou quando preciso resolver algo com a minha irmã, mas é mais comum ela vir do que eu ir até ela.

─ E seus pais?

Ele se move no sofá desconfortavelmente – Sua cota encerrou mocinha, agora vem cá – Me puxa pro seu colo e eu tento me esquivar, mas ele não cede – Apenas encoste aqui e me deixe tocá-la – Eu queria saber o que tem ele para que eu não consiga dizer-lhe não. Então encosto minha cabeça em seu peito e ele acaricia e cheira meus cabelos – Você tem cabelos macios e cheira maravilhosamente bem – Eu não disse nada. Apenas fiquei assim e me senti protegida. Pelo menos nesse curto momento todos aqueles problemas que me esperam lá no Brasil, pareceram pequenos. – Você e sua amiga Carol se conhecem a muito tempo? – ele pergunta ainda acariciando meus cabelos.

─ Sim. Há muitos anos. Nós estudamos juntas na faculdade de direito, estagiamos juntas, fizemos pós-graduação juntas. Ela é uma pessoa muito querida, desde o primeiro dia que nos encontramos na faculdade rolou uma coisa especial, uma amizade, sabe? E fomos inseparáveis durante esse tempo todo, até o dia que ela decidiu vir pra cá. Mas agora eu estou aqui também e é como se nunca tivéssemos nos separado. Falávamo-nos quase todos os dias pela internet.

─ Ela gosta de você. Gosto dela por gostar de você. Ela se preocupa e cuida.

─ Sim, é verdade. Mas por que você diz isso?

Pude sentir um sorriso – Ela me ameaçou. Ninguém me enfrenta, além da minha irmã, é claro. Mas ela me enfrentou por você. Ela me disse que se eu te magoasse ela ia me mostrar como vocês resolvem essas coisas lá na sua terra – Não consegui segurar uma gargalhada e nem ele conseguiu. Rimos descontroladamente – E então, vocês são assim tão bravos lá?

─ Olha – digo ainda sorrindo – eu só consigo encontrar uma palavra pra definir como somos lá em Pernambuco, ou melhor, no nordeste Brasileiro, mas como é muito regional essa palavra não sei se você vai entender e acho que nem mesmo eu vou conseguir te explicar.

─ E que palavra é essa?

─ “arretado” – ele tentou pronunciar e com seu sotaque ficou até mais engraçado.

─ Então, você é “arretado”?

─ Não. Eu sou “arretada”, você é “arretado” – ele fica experimentando as palavras e eu tenho uma crise de riso.

─ Você está zombando de mim? – eu aceno concordando – Pois fique sabendo a senhorita que eu falo português, entendo mais do que falo, mas ainda assim eu falo bem. É só que...faz um tempo que eu não pratico.

É como se eu estivesse caindo em um buraco sem fundo – Você o quê? Ele parece perceber o que ele acabou de dizer e o clima fica carregado entre a gente. Eu me afasto do seu colo e olho pra ele – Você entende português? Isso...isso quer dizer que você entendeu o que minha irmã falou?

Ele suspira profundamente ─ Sim. Eu entendi quase tudo.

─ Porque você não disse que você entendia. Se eu imaginasse que você podia entender eu não teria escutado na sua frente.

─ Você não me perguntou. Você apenas perguntou se eu me importava que você ouvisse suas mensagens e eu respondi que não me importava – Ele me puxa de volta pra o seu colo, de onde eu havia me afastado antes e acaricia minhas costas tentando diminuir a tensão – Você sabe que ele está manipulando você e a sua família, não sabe?

Eu não respondo por alguns segundos. No fundo eu sei que ele tem razão. A própria Carol já me disse isso. ─ Eu sei. – falo enfim ─ Mas você ouviu. Minha mãe já está até pensando na festa de casamento.

─ Casamento é uma coisa muito séria pra você tomar uma decisão forçada. Você não o ama, dá pra ver.

─ É complicado.

─ Talvez seja. Mas a cada dia vai ficar mais e mais complicado. Pense nisso – Ele afasta minha cabeça do seu peito para olhar-me nos olhos. Seus dedos acariciam o lóbulo da minha orelha direita e ondas irradiam até o meio das minhas pernas apenas com esse toque. Ele beija minha testa e em seguida meus lábios. Ficamos assim provando um ao outro, envolvidos num vendaval de sensações. Como ele pode me fazer sentir coisas tão intensas, como nunca senti, apenas com um beijo. Ele me deixa de pernas bambas e logo eu que sempre fui tão autossuficiente me sinto dependente dessa sensação de proteção que encontrei nos seus braços.

O toque do meu celular me traz de volta a realidade. É Carol.

“Oi amiga “ – digo em português ao atender.

“Você sabe o quanto eu adoro ouvir essa saudação? Tem cara de casa. É tão bom ter você por perto”. – Ela diz.

“Você também tem cara de casa, no meio desse bando de estranhos.”

“Olha, só. Christian me chamou para dormir na casa dele, mas eu estou preocupada com você. Queria saber como está o seu encontro, se está tudo bem e se você levou a sua chave.”

“Está tudo bem sim, amiga. E eu estou com a chave. Fique aí e aproveite a sua noite” Jake está me olhando interessado, acho que ele entendeu o teor da conversa.

“Então, tá. Se você for ficar por aí, arranje um tempinho pra me dar uma mensagem avisando, ok?”

“Não conte com isso”

“Pois eu acho que você devia curtir. Antes de casar você precisa experimentar. Se Will fosse o cara da sua vida eu não estaria dando esse conselho, claro. Mas como nem mesmo você tem essa certeza, aproveite o tempo que está aqui para se decidir”

“Você me assusta dizendo essas coisas. Por favor, devolva minha amiga” eu dou risadas.

“Estou bem aqui curtindo com um gato, faça o mesmo. E se precisar de qualquer coisa ligue pra mim”

“Ok. Divirta-se e até amanhã”.

Desligo e guardo o telefone na bolsa novamente. – E então Senhor Poliglota, conseguiu entender alguma coisa?

Espero que esteja gostando desta história. Não esquece de me seguir e curtir cada capítulo. Isso nos incentiva a escrever mais, pois sabemos que você está gostando.

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