Capítulo 1

Sei que estou agindo feito louca

Estou presa, me sentindo chapada

Com a mão no coração, estou rezando

Para sobreviver a isso tudo

The heart Wants What It Wants - Selena Gomez

(...)

Ella

 Após um dia exaustivo, finalmente chego em meu apartamento e me jogo com tudo no sofá. O miado do Tom, minha bola de pêlos, me faz olhar para o lado.

 — Oi, meu amor. Como foi seu dia? — acaricio seus pelos macios e ele roça a cabeça em minha perna — O meu foi extremamente cansativo e estressante. Você deve estar com fome, não é mesmo? — como se entendesse a minha pergunta, ele solta um miado constante.

 Dou risada, balançando os ombros.

 — Vamos lá, esfomeado. — mesmo sem forças, levanto e ele desce do sofá, me seguindo.

 Sigo para o banheiro, tomo um banho relaxante, debaixo da água morna e lavo os cabelos que não vê água há dias.

 Cubro meu corpo com uma toalha e saio do box secando meus cabelos. Sem querer, minha visão vai diretamente para a janela do apartamento de frente ao meu e lá está ele. Usando apenas uma calça de moletom, expondo seu abdômen definido, com as linhas indo em direção a parte interna da calça.

 Suspiro involuntariamente, quase gemendo. Sinto um calor entre as pernas, minha buceta dá uma pulsada de leve sempre que vejo aquele corpo quase desnudo.

 Que homem gostoso!

 A sensação de calor é tamanha, que nem parece que acabei de sair do banho. Minha boca enche de água e penso o quão louco seria se eu caísse na cama desse homem.

 Não, Ella! Definitivamente, não.

 Sou tirada dos meus devaneios com o toque do meu celular, ou melhor, o berro.

 É a mamãe.

 Já imagino seu discurso diário de que preciso sair mais e me divertir.

 — Oi, mãe. — atendo um tanto desanimada.

 — Filha, quanta saudade a mamãe estava de você. Faz dias que não me liga.

 — Me desculpe, mãe. Sei que estou sendo uma péssima filha, mas o trabalho no escritório tem exigido muito de mim, tem sido impossível, até mesmo, pensar em férias. — sento na cama, soltando uma lufada de ar.

 — Ah, minha filha… Você precisa descansar, sair e se divertir um pouco. Faz anos que sua vida tem sido monótona, casa, trabalho, trabalho e casa.

 Reviro os olhos, porque já conheço esse discurso de cor e salteado.

 — Eu sei, mamãe. Prometo que tirarei um tempo para mim, o mais breve possível.

 — E aquele seu vizinho gostoso, já resolveu dar uma chance a ele? — sua voz está carregada de malícia.

 — Mamãe!

 — O quê? Transar não tira pedaço, Ella. E você bem que está precisando, já deve estar com teias de aranha nessa periquita. — por mais louca que ela possa ser, sempre consegue me fazer rir.

 — A senhora me mata. Como irei transar com um cara que nem conheço e nunca trocamos uma palavra sequer?

 — Estou falando de transar, não casar, querida. Acha que seu pai foi o primeiro homem da minha vida? Eu já curti muito, meu anjo. Posso estar velha, mas sei das coisas.

 — A senhora sabe bem que não sou assim. Além disso, não tive nenhum homem desde o Marcelo. Acho que nem sei mais como se faz…

 — Meu amor, transar é como andar de bicicleta, uma vez que se aprende, nunca se esquece.

 — Tudo bem, mamãe. Mas, esqueça esse assunto, não irei dormir com meu vizinho. Ele realmente é muito gostoso, porém, não vou cair na cama de qualquer um, que no dia seguinte nem se lembrará do meu nome.

 — Você diz isso agora, mas não é o que parece, quando fica suspirando, vendo ele através da janela de seu quarto. Aposto que já se tocou várias vezes pensando nele.

 — Santo Deus! Esqueça isso de uma vez por todas, mãe! — não sei porque fui falar para ela que tenho um vizinho de janela gostoso, no dia em que estávamos almoçando. A repreendo por querer entrar demais em minha intimidade.

 — Ok, não está mais aqui quem falou.

 — Vou desligar, preciso muito descansar, hoje o dia foi daqueles. — passo a mão nos olhos e bocejo.

 — Tudo bem, querida. Venha me visitar o quanto antes, essa velha sente sua falta.

 — Eu irei, prometo.

 — Te amo, filha. Se cuida.

 — Também te amo, mamãe.

 Encerramos a chamada e acabo rindo das pérolas dela. Após o meu divórcio, decidi mudar não somente de vida, como de casa. Marcelo e eu morávamos em outra cidade, porém, depois da nossa separação, quis ficar mais perto dos meus pais — não tão perto assim, já que moramos em bairros diferentes. Eles moram em Nova Iguaçu e eu na Barra da Tijuca.

 O cafajeste até queria que eu ficasse com nossa antiga casa, porém, preferi me desfazer de tudo o que me ligasse a ele, vendemos e dividimos o valor.

 O Tom mia, se enroscando em minhas pernas, me fazendo despertar do transe.

 — Vamos comer, meu anjinho. — levanto da cama e vou até a cozinha.

 Encho o comedor dele de ração e começo a preparar meu jantar ao som de Big Girls Don’t Cry — Fergie.

 Termino de picar uma cebola, despejando-a na panela para refogar no óleo e aumento o volume da caixa de som, embalando meu corpo no ritmo da música.

 Porém, chegando à parte do refrão, não resisto e começo a rodopiar e pular. Pego uma colher e acompanho a música como se o objeto fosse um microfone e vejo meu gato me encarando como se eu tivesse perdido a noção.

 Mas paro, imediatamente, quando sinto-me sendo observada e estava certa. Nesse momento, se eu pudesse, enfiava minha cabeça num buraco. Meu vizinho está olhando para mim através da janela, enquanto come o que parece ser uma maçã, cortando pedaço por pedaço com uma faca e com um sorrisinho de canto.

 Porque isso só acontece comigo?

 Seu olhar percorre todo meu corpo, fazendo-me lembrar que estou usando um pijama minúsculo e esqueci de fechar as cortinas.

 Engulo em seco e corro para fechá-las, sem encará-lo e sinto cheiro de coisa queimada. Só então lembro da cebola que deixei no fogo.

 Corro para a cozinha, desligando o fogo e cessando a pouca fumaça que se formou no ar.

 — Droga! Que desastre, Ella. — tusso duas vezes por ter inalado um pouco de fumaça.

 Isso acaba me desanimando ainda mais, porque estou extremamente cansada de como foi meu dia hoje. Decido deixar a cozinha para lá e ligar para uma pizzaria aqui perto.

Coloco uma série na N*****x para assistir, enquanto espero a bendita chegar.

 Quarenta minutos se passam e ouço meu estômago roncar. Não aguento mais esperar, e, já impaciente, penso em descer para ver se o entregador já chegou, mas desisto, pois essa ideia é meio sem noção. Imagino que pelo tempo que se passou, ele esteja perto de chegar — pelo menos espero. Vou até meu quarto, visto um casaco, longo o suficiente para cobrir meu pijama e não mostrar que estou sem sutiã. Já pronta, espero o porteiro avisar pelo interfone.

 Em seguida, o interfone toca, praticamente corro até ele, ao lado da porta. O porteiro me avisa que o entregador está lá embaixo me esperando. Agradeço e pego minhas chaves sobre o aparador ao lado da porta, caminhando para fora do meu apartamento.

 Quando chego do lado de fora do prédio, vejo o entregador parado numa bicicleta.

 — Nossa! Que demora, hein.

 — Ella Murray? — o jovem rapaz, com jeito de quem nunca abandonou os hábitos de pegador no colegial, me pergunta com as sobrancelhas arqueadas.

 — Eu mesma. O atendimento de vocês é péssimo, ainda bem que compensam com uma pizza boa. — tomo a embalagem de sua mão ele ri de canto, parecendo se divertir com meu estado.

 — Desculpa, é que hoje é sexta-feira e o movimento costuma aumentar.

 — Eu deveria pedir desconto por isso, mas serei boazinha porque sei que você não tem culpa. — lhe entrego uma nota de cinquenta reais.

 — Obrigada, senhorita.

 — Passar bem. — giro o corpo e sigo de volta para o meu apartamento.

 Na entrada do prédio, esbarro com alguém, fazendo com que a caixa amasse e o recheio da pizza suje meu casaco e, em seguida, todo o conteúdo vá ao chão.

 — Que droga! Filho da mãe! Você não olha por onde anda? — divido meu olhar entre minha roupa e a pizza espatifada no chão.

 — Tecnicamente, você é quem estava andando distraída. — sua voz grave e rouca, me faz olhar para quem quer que seja a pessoa com quem esbarrei.

 Subo o olhar devagar, passando pelas pernas, barriga, peitoral e, finalmente, chego ao rosto.

 Tinha mesmo que ser ele?

 Rosto retangular, pele morena, sobrancelhas nem muito grossas, nem muito finas, olhos castanho-médios, lábios grossos e carnudos, barba por fazer e um bigode muito bem feito. Além de parecer ainda mais alto, olhando assim tão de perto.

 Nossa! Ele é ainda mais gostoso de perto.

 E o cheiro? Que cheiro delicioso! Uma mistura de testosterona e perfume amadeirado.

 — Tudo bem? — ele pergunta, sorrindo de canto, como um verdadeiro sedutor.

 Pisco repetidamente, voltando à realidade, onde não estou sonhando com esse homem em cima de mim ou com a cabeça entre minhas pernas, me fazendo ter orgasmos múltiplos.

 — Não, não está nada bem! Droga! Você acabou com meu jantar.

 — Isso era o seu jantar? — aponta para a pizza espatifada — Comendo bobagem desse jeito, só me pergunto como consegue manter esse corpo… — deixa a frase no ar e observa cada curva do meu corpo.

 Reviro os olhos, bufando.

 — Isso não é da sua conta e, por favor, me poupe desse seu ar de sedutor barato. Estou vacinada contra caras como você.

 — Já que acabei com o seu jantar — faz aspas com os dedos — Me sinto na obrigação de te recompensar. Posso cozinhar para você? Garanto que não irá se arrepender. — pisca para mim.

 — Não, muito obrigada, mas dispenso. — exatamente no momento em que o respondo, meu estômago ronca, fazendo-me ficar sem graça.

 Ele dá uma gargalhada.

 — Tem certeza? Parece que sua barriga discorda de você.

 Solto uma lufada de ar.

 — Ok, aceito. Mas que fique bem claro que é apenas porque estou morrendo de fome e você acabou com a minha janta. Não pense que está me fazendo um favor e que irei retribuir.

 — Como preferir, senhorita… — sua voz soa mais rouca do que o normal.

 Finjo não ter sido afetada por isso e caminho para o meu apartamento, esperando que ele me siga.

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