capítulo 3
Quando Thiago voltou para o quarto, eu acabava de desligar o telefone.

Ele me pegou sorrindo. Por um instante, ficou paralisado.

"Há quanto tempo não via um sorriso verdadeiro no rosto dela?" Ele pensou.

Ele me olhou como se estivesse diante de um milagre, com um desejo de perguntar quem estava do outro lado da linha.

Mas se conteve. Sabia que não devia. Ele agora era o homem que devia cantar canções de ninar para o filho de Mafalda.

Provavelmente imaginou que fosse um parente. Um primo distante, talvez.

Recolheu os papéis que precisava e saiu, sem sequer me encarar.

— Regina, surgiram assuntos internos da família. Amanhã volto pra te ver.

Mas o amanhã nunca veio.

Nem no dia seguinte. Nem depois.

O que veio foram vídeos. Muitos. Enviados por membros da família que adoravam um escândalo.

Thiago e Mafalda apareciam juntos em todo tipo de evento da alta sociedade.

Ele fazia questão de apresentar ela com orgulho. Ela, deslumbrante, agarrada ao braço dele como se fosse sua legítima esposa.

No dia da minha alta, Thiago postou nove fotos no Instagram. Todas cuidadosamente editadas.

Ele e Mafalda em um balão de ar quente, o sol se pondo ao fundo. De mãos dadas, sorrindo, com os olhos voltados para o horizonte.

Pareciam felizes. Livres.

Comentei no post:

“Que sejam abençoados com filhos, amor duradouro e uma vida plena de felicidade.”

Dez minutos depois, o celular começou a tocar sem parar.

Era ele.

Não atendi nenhuma vez.

Meia hora depois, já com os papéis assinados, deixei o hospital sozinha.

Na porta da obstetrícia, vi os dois. Thiago e Mafalda.

Ouvi a enfermeira dizendo com entusiasmo:

— Srta. Mafalda, você é mesmo uma sortuda. Seu marido te ama tanto. Acompanha todos os exames, traz cobertores pra forrar a cama antes do ultrassom, manda proteger todos os cantos da sala com tecido pra você não se machucar. E não te deixa dar um passo sozinha! Faz questão de te carregar no colo.

As outras grávidas ao redor lançaram olhares de pura inveja.

Eu não tinha forças pra corrigir nada. Queria apenas preservar o pouco de dignidade que me restava e sair dali em silêncio.

Desviei o caminho, tentando passar sem fazer barulho.

Devagar. Discreta. Invisível.

Mas ele me viu.

Virou-se, semicerrando os olhos.

— Regina? O que você está fazendo aqui?

O que Thiago queria mesmo perguntar era:

"Regina, por que não atendeu minhas ligações?"

"E aquele comentário… o que aquilo significava?"

Mas antes que ele dissesse qualquer coisa, abaixei a cabeça por reflexo. Evitei o olhar dele, como sempre fiz, e murmurei:

— Eu não estava seguindo vocês. Foi só coincidência, de verdade. Desculpa incomodar. Já estou de saída.

— Espera. — Thiago franziu a testa.

Nesse momento, vi o brilho sombrio que passou pelo olhar de Mafalda — uma sombra de ciúme, rápida, mas visível.

Mesmo assim, ela se agarrou com ainda mais força ao braço dele, sorrindo com doçura, como se não tivesse notado nada.

— Regina, eu sou muito grata por você ter doado sangue pra mim. De verdade. Se não fosse por você, eu ainda estaria zonza...

Ela se virou para Thiago com um olhar meigo.

— Thiago, por favor, deixa a Regina voltar pra casa com a gente, sim?

A voz era doce.

Mas o olhar? Nem um pouco inocente.

Thiago olhou na minha direção por um tempo que pareceu mais longo do que deveria. E disse:

— Mafalda, o que você quiser.

Como eu já precisava voltar pra casa pegar minhas coisas, não vi motivo pra recusar esse teatrinho.

Sentei no banco de trás da Ferrari preta e reluzente. Virei o rosto para a janela, tentando fingir que não estava ali.

A cidade passava em borrões do lado de fora.

Foi quando vi.

Ali, debaixo do banco — um pedaço de renda úmida e rasgada.

Uma lingerie.

Uma peça de roupa íntima, evidentemente usada e esquecida às pressas.

Mafalda levou a mão à boca, fingindo surpresa:

— Ai! Isso ainda tava no carro? Thiago, você não tinha dito que tinha jogado fora?

Fechei os olhos por um instante e inspirei fundo. As unhas já estavam cravadas na palma da mão.

Mafalda riu e se jogou no peito dele, batendo de leve no ombro do homem como se estivesse brincando.

Thiago riu junto. Enquanto se desculpava com ela, lançava olhares rápidos pra mim, tentando captar minha reação.

Eu, no entanto, olhei de volta. Séria. Imóvel.

Sem expressar nada.

E foi só então que ele desviou o olhar, visivelmente desconcertado. O entusiasmo teatral que exibia antes com Mafalda pareceu murchar de repente.

Como se aquilo tudo — os risinhos, a provocação, o teatrinho — fosse apenas uma encenação feita pra mim.

E, diante de uma plateia indiferente, o ator não tivesse mais por que continuar.

No meio do caminho, ouvi a voz dele vindo da frente do carro:

— Regina, desde que entrou, você não tirou os olhos do celular.

No retrovisor, o olhar dele estreitou.

— Está conversando com aquele seu parente, ou com alguém que eu não conheço?

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