Mundo de ficçãoIniciar sessãoO rosnado cortou o silêncio como uma lâmina.
Luiza recuou instintivamente, o coração disparando quando Alex emergiu da escuridão entre as árvores. Ele não estava em forma humana. Ainda era o lobo — enorme, musculoso, o pelo tão negro que parecia engolir a luz da lua. E seus olhos… Os olhos estavam diferentes. Mais vermelhos. Mais brilhantes. Mais perigosos. A maldição estava ardendo. O lobo avançou dois passos, o solo tremendo sob seu peso. Luiza sentiu o ar ao redor se comprimir como se a própria noite prendesse a respiração. — Alex… — Ela quase não reconheceu a própria voz. Um misto de medo e… outra coisa. Algo quente demais. O lobo a encarou com uma intensidade que queimava. Mas algo estava errado. O olhar dele não era só de possessão ou alerta. Era ciúme. Puro. Instintivo. Selvagem. Luiza engoliu seco quando percebeu. Ele tinha visto Lucas. E aquilo o consumia. O lobo rosnou novamente, mais forte, e deu outro passo à frente. Seus pelos se eriçaram, o rubi em seus olhos pulsando como brasas prestes a explodir. Luiza sentiu o peito apertar — não de medo, mas de receio por ele. — Alex, para — sussurrou ela, levantando a mão lentamente. — Ele já se foi. O rosnado cessou por um segundo, mas então o lobo se transformou. Não como da primeira vez — suave e hipnotizante. Desta vez foi brutal. Os ossos se moveram rápido demais, os músculos se contorceram, o ar se preencheu com o som seco das articulações mudando de forma. Luiza deu um passo para trás, mas não tirou os olhos dele. Quando terminou, Alex estava de pé diante dela — alto, nu da cintura para cima, o corpo marcado de cicatrizes que pareciam brilhar sob a lua. O peito dele subia e descia com violência. Sua expressão era quase feroz demais para ser humana. — O que ele estava fazendo com você? — A voz dele saiu grave, arranhada, como se a transformação tivesse desgastado tudo dentro dele. Luiza tentou manter a calma. — Ele… só apareceu. Eu não sei quem ele é. Alex deu um passo brusco em sua direção. Ela recuou, e isso pareceu irritá-lo ainda mais. — Ele te tocou? — perguntou entre dentes. — Não. — Luiza respondeu rápido demais, e isso chamou a atenção de Alex. Os olhos rubi-caramelo analisaram cada milímetro dela, como se buscassem qualquer traço da presença de Lucas. — Ele estava perto — disse Alex, mais para si mesmo. — Eu ainda sinto o cheiro dele em você. Luiza estremeceu. — Isso não é culpa minha — retrucou, tentando recuperar o controle da própria voz. Alex cerrou a mandíbula, mas respirou fundo, como se estivesse tentando buscar controle. A maldição pulsava nos olhos dele. O rubi queimava. E a aproximação de Lucas parecia ter piorado tudo. — Você não deveria ter saído de casa à noite — disse ele, a voz grave demais. — Ainda mais depois da noite passada. — Eu precisava de ar — respondeu ela, sem coragem de admitir que sentiu um chamado, um empurrão invisível vindo da própria floresta. Alex aproximou-se mais. Desta vez, Luiza não recuou. Ele ergueu a mão devagar e tocou o queixo dela, exatamente como antes — mas agora o toque dele tremia um pouco. Como se ele estivesse lutando contra algo dentro de si. — Você não faz ideia do perigo que correu — murmurou. — Nem do que ele é. — Então me explica! — Luiza ergueu o rosto, frustrada. — Eu tô perdida aqui, Alex. Ontem eu descobri que lobos viram homens, que existe uma maldição maluca sobre você, e hoje aparece um cara estranho dizendo que eu tenho poderes e que você… que você é um risco pra mim. Os olhos de Alex escureceram. — Lucas disse isso? Ela hesitou. E isso bastou. Alex rosnou — dessa vez como humano. Um som baixo, vibrante, que percorreu a espinha dela. — Você não pode acreditar nele — disse Alex. — Vampiros mentem. É o que fazem. A palavra caiu como um trovão. Vampiro. Luiza piscou, tentando processar. — Ele… ele é…? — Sim. — A voz de Alex era firme, fria. — E não qualquer vampiro. Lucas é antigo, forte e manipulador. Ele não se aproxima de alguém sem motivo. Luiza sentiu o estômago revirar. Não porque estava com medo de Lucas — mas porque agora começava a entender que o mundo ao seu redor era muito maior do que imaginava. — Por que ele viria atrás de mim? Alex não respondeu imediatamente. Ao invés disso, aproximou-se tanto que Luiza pôde sentir o calor do corpo dele. As mãos dele tocaram o rosto dela com firmeza, como se ele precisasse garantir que ela estava ali. — Porque você carrega algo que ele deseja — disse Alex, a voz baixa, quase um sussurro. — Algo que eu não posso deixar que ele tenha. Luiza sentiu o coração pular. — O quê? Alex inclinou a testa contra a dela, respirando fundo. O rubi em seus olhos pulsou mais forte. — O seu poder — disse ele. — O poder que pode quebrar ou destruir a maldição. O poder que só desperta na parceira destinada do Alfa. O sangue de Luiza gelou. — Eu não… eu não tenho poder nenhum. Alex sorriu de forma triste. — Tem. E está começando a acordar. Eu senti ontem… quando você não fugiu de mim. Quando olhou para mim como se me reconhecesse. Luiza desviou o olhar, sentindo o rosto esquentar. Ele percebeu — claro que percebeu — e a segurou com mais firmeza, obrigando-a a encarar seus olhos. — Luiza — disse, num tom que fazia seu corpo inteiro reagir — você é minha. Destinada a mim. E eu juro pela lua que vou proteger você. De vampiros. De bruxas. Do que vier. Ele fez uma pausa. — Até de mim mesmo, se for preciso. O rubi nos olhos dele brilhou. Algo dentro dela respondeu ao brilho — como se uma chama adormecida tivesse estremecido. Luiza abriu a boca para falar, mas uma sombra se moveu na floresta. Alex virou a cabeça de imediato. O instinto Alfa despertou. — Ele está perto — rosnou. — Ele está observando. Lucas. Luiza sentiu a pele arrepiar. Alex se colocou na frente dela, o corpo tenso como uma muralha viva. — Fique atrás de mim — ordenou. E a noite pareceu prender a respiração.






