CAPÍTULO 02 - CAMILLY

Camilly

O meu aniversário chegou e depois do que ouvi no escritório do meu pai, um mês atrás, as coisas em casa pioraram. Eram brigas todos os dias, minha mãe já não falava mais comigo, o meu pai parecia uma barata tonta de tanto que falava ao telefone ou ficava trancando dentro do escritório. Mas hoje, eu estava muito feliz, já tinha combinado tudo com Nina, que iria embora daqui a uma semana, sem ninguém ver, só estava esperando a documentação que viria da faculdade para isso. Deixei Nina responsável por qualquer correspondência no meu nome, para que os meus pais não a pegasse e descobrissem o que eu pretendia. Estava em meu quarto quando minha mãe entrou, pela primeira vez em anos, me surpreendendo.

 — Hoje é seu aniversário, vamos fazer uma comemoração entre alguns amigos de seu pai.

— Por que hoje? Se nunca se lembraram do meu aniversário.

 — Por que sempre tem que questionar tudo?

— Não estou questionando nada, há dezoito anos vocês nunca se lembraram de mim e hoje do nada resolvem fazer uma comemoração. 

— Não é todos os dias que a nossa filha faz dezoito anos.

 — Não! Não é.

— Comprei um vestido para você usar, deve estar chegando.

 — Não era necessário, eu tenho um monte que nunca usei, por não ter para onde ir, já que nunca pude sair. 

— Você não imagina os perigos que tem aí fora. 

— Não posso imaginar, já que só saio para ir ao colégio e volto para casa — eu disse. — Mãe! Posso te perguntar uma coisa?

 — Sim!

 — Por que você e o papai me odeiam tanto? O que foi que eu fiz?

 — Não odiamos você! 

— Não foi isso que eu percebi todos esses anos, mas agora não me importo mais, me tornei dona de mim.

 — Não! Enquanto estiver dentro da minha casa, não é dona de si, e sempre fará o que quisermos, pois, fazemos as coisas para o seu bem, é isso que sempre tem que ter em mente.

— Se está dizendo.

 — Esteja pronta às 20h00min, não me faça vir buscá-la. 

— Não será necessário.

Ela sai e fecha a porta, caio sentada na cama, não sei o que ela pretende, mas não estou gostando disso, ela nunca nem sequer entrou no meu quarto ou mesmo quis comemorar nenhum aniversário meu.

Passei o dia todo dentro do meu quarto e quando estava na hora de me arrumar, peguei o vestido que ela tinha comprado, era preto, com um decote em V na frente, seu cumprimento ia até o joelho, ele ficou perfeito em meu corpo, não ficou vulgar, peguei meu escarpin preto, de salto alto, eu já sou uma mulher alta, mas com ele, fico da altura do meu pai que tem quase 1,88. Não sou tão magra, tenho algumas curvas, os meus seios não são grandes como os da minha mãe, mas combinam com a minha estrutura. 

Depois de pronta, resolvi sair do quarto, era um pouco antes das 20 horas, eu não queria que ela viesse novamente aqui e assim que cheguei à escada, pude ver uma movimentação, fui descendo devagar, assim que cheguei ao último degrau, o meu coração parou, tinha um homem vestido todo de preto conversando com o meu pai, que quando me viu, falou alguma coisa para ele, que o fez se virar e me olhar. 

O homem em minha frente me olhou como se eu fosse um pedaço de carne, seus olhos examinaram todo o meu corpo e quando parou em meu rosto, pude sentir um frio na espinha, seu olhar era frio, sem sentimento algum. Ele era bonito, elegante, mas, algo nele me dava medo, não sei bem o que era, término de descer e vou até eles.

 — Camilly, eu quero que conheça o Sr. Carter Draw Sanders.

— É um prazer conhecê-lo, senhor.

 — Com certeza você terá muito prazer em me conhecer — diz ele, ainda segurando a minha mão.

— Vamos todos para a mesa, o jantar já deve estar sendo servido — falou o meu pai, que parecia muito nervoso.

Eles deram passagem para que eu fosse à frente deles. Sentei-me ao lado do senhor Carter, como minha mãe indicou, o meu pai na cabeceira da mesa e minha mãe ao seu lado, não sei bem o porquê, mas não era como ela tinha me dito, só tinha ele aqui, não havia mais ninguém.

— Senhor Carter, espero que goste do jantar, eu mandei fazer especialmente para o senhor.

 — Vamos ver se vai estar do meu agrado — ele fala com uma cara de poucos amigos. 

— Espero que sim — diz ela, contrariada, sempre teve muitos elogio em tudo que fez, as pessoas achavam que ela era perfeita em tudo, só que pelo visto ele não vai fazer isso.

 Não sei por que falar que era um jantar, estava mais para um funeral, no ambiente só se ouviam o tilintar dos talheres no prato. 

Tive a nítida impressão de que todos tinham medo até de respirar na presença daquele homem desconhecido. Quando terminamos, o meu pai foi com o senhor Carter para o escritório, a minha mãe fez com que eu ficasse na sala com ela, não gostei disso. Depois de quase uma hora, a porta do escritório foi aberta, meu pai saiu e veio até nós, me dizendo:

 — Filha, precisamos conversar, pode, por favor, ir até o meu escritório? 

— Qual o problema, pai?

— Por favor, venha, vou te contar tudo lá.

 — Não desobedeça ao seu pai e vá logo, não o questione — minha mãe fala ríspida, se levantando, mas o meu pai fez um sinal e ela se senta novamente.

Levantei-me e o segui até seu escritório, assim que passei pela porta, senti um calafrio tomar todo o meu corpo e quando olhei para a mesa do meu pai, lá estava ele, sentado com um sorriso de canto, mais uma vez me olhou estranho, estava com um copo em sua mão, com um líquido âmbar, deduzi ser de alguma bebida. Sentindo-me subitamente nervosa, fui até o sofá e me sentei, o meu pai se sentou ao meu lado de cabeça baixa. 

— Você vai contar Carlos ou eu conto?

 — Eu mesmo falo senhor. 

— Muito bem, então ande logo que eu não tenho a noite toda.

 — Sim senhor. 

— Filha, me perdoe, mas essa foi à única maneira que encontrei de livrar a minha empresa da falência, fiz alguns investimentos que não deram certo e perdi tudo, mas, o senhor Carter se ofereceu para comprar a empresa, mas, para manter os empregos dos funcionários, ele exigiu algo em troca.

— O quê?

— Você! — foi direto. — Ele só iria comprar a empresa se eu a vendesse junto.

— Pai! Por que fez isso? Eu não sou um objeto, sou sua filha, mesmo que nunca tenha me amado, não pode fazer isso comigo.

 — Desculpe-me, por favor, mas, eu não tive outra saída a não ser lhe entregar em troca.

 — Você me vendeu para salvar seus funcionários? 

— Por favor, filha, compreenda, não é só a nossa vida que está em jogo, tem muitos outros.

 — E terei que pagar pelo seu erro, pai?

— Prefiro sacrificar um, a sacrificar vários, não pretendo viver na pobreza, eu não nasci para isso — foram suas palavras duras.

 — Não posso acreditar que foram tão baixo a esse ponto, nunca imaginei que fariam isso comigo. 

— Podemos marcar o casamento para daqui a um mês e nem um dia a mais — disse o desconhecido se intrometendo.

 — Eu não vou me casar com ninguém, muito menos com você.

 — Filha, por favor, não tem mais o que fazer, eu já assinei o contrato. 

— Filha? Nunca fui sua filha, não venha com essa agora, é melhor que arrume outro jeito de quitar sua dívida, porque eu não vou pagar por algo que não fiz.

 — Espero que o seu temperamento mude depois do casamento ou eu juro que você vai se arrepender — diz o homem, já de pé ao meu lado.

 — Eu não vou me casar com você, nem com ninguém, já disse isso, não ouviu? Fique sabendo, o meu pai fez a dívida, então é ele que tem que pagar.

Assim que terminei de falar, eu senti o tapa em meu rosto, coloquei a mão onde estava ardendo, olhei para o meu pai que não disse nada.

 — Camilly, suba para o seu quarto agora!

 — Pai, ele me bateu e você não vai fazer nada? Como pode deixar um estranho entrar em nossa casa e fazer isso, com que direito você o deixar me bater sem fazer nada? Eu não sabia que tinha um pai covarde a esse ponto.

 — Seu pai não tem mais poder sobre você, lembre-se que você pertence a mim e não vou aceitar desobediência, faça como ele mandou e suba.

— Eu nunca vou pertencer a você, nem que para isso eu tenha que dar um fim em minha vida.

— Pois, então tente fazer isso, que me poupará o trabalho de eu mesmo a destruir.

Não respondi, saí do escritório ignorando completamente a mulher que permanecia sentada na sala e subi para o meu quarto, logo Nina entrou e pela sua cara, pude ver que o meu rosto não estava bem.

 — Menina, eu escutei tudo, nunca imaginei que seus pais fossem capazes de fazer isso com você.

— Nina! — exclamo. — O que vou fazer da minha vida agora? Os meus pais foram longe demais. 

— Eu não sei menina, ainda não entendo o porquê de eles estarem fazendo isso com a própria filha. 

— Eles nunca me viram como sua filha, Nina, e, você sabe disso, agora sou apenas um meio para eles conseguirem o dinheiro, acho que foi sempre isso.

— Como podem forçá-la a casar com um estranho? Eles estão loucos, isso não acontece mais, sinceramente eu não sei o que te dizer ou o que fazer para te ajudar nessa situação.

Não a respondi, porque eu mesma não entendia o quanto eles eram ruins, mas chegar a esse ponto foi demais, até mesmo para eles, ela ficou no quarto comigo, pedi para que trouxesse gelo para o meu rosto, eu nem quis olhar no espelho para não ver a marca que ficou, só espero que não fique como as minhas costas, que graças a Deus não posso ver, minha mãe é cruel quando não faço as suas vontades.

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