Camilly
O meu aniversário chegou e depois do que ouvi no escritório do meu pai, um mês atrás, as coisas em casa pioraram. Eram brigas todos os dias, minha mãe já não falava mais comigo, o meu pai parecia uma barata tonta de tanto que falava ao telefone ou ficava trancando dentro do escritório. Mas hoje, eu estava muito feliz, já tinha combinado tudo com Nina, que iria embora daqui a uma semana, sem ninguém ver, só estava esperando a documentação que viria da faculdade para isso. Deixei Nina responsável por qualquer correspondência no meu nome, para que os meus pais não a pegasse e descobrissem o que eu pretendia. Estava em meu quarto quando minha mãe entrou, pela primeira vez em anos, me surpreendendo.
— Hoje é seu aniversário, vamos fazer uma comemoração entre alguns amigos de seu pai.
— Por que hoje? Se nunca se lembraram do meu aniversário.
— Por que sempre tem que questionar tudo?
— Não estou questionando nada, há dezoito anos vocês nunca se lembraram de mim e hoje do nada resolvem fazer uma comemoração.
— Não é todos os dias que a nossa filha faz dezoito anos.
— Não! Não é.
— Comprei um vestido para você usar, deve estar chegando.
— Não era necessário, eu tenho um monte que nunca usei, por não ter para onde ir, já que nunca pude sair.
— Você não imagina os perigos que tem aí fora.
— Não posso imaginar, já que só saio para ir ao colégio e volto para casa — eu disse. — Mãe! Posso te perguntar uma coisa?
— Sim!
— Por que você e o papai me odeiam tanto? O que foi que eu fiz?
— Não odiamos você!
— Não foi isso que eu percebi todos esses anos, mas agora não me importo mais, me tornei dona de mim.
— Não! Enquanto estiver dentro da minha casa, não é dona de si, e sempre fará o que quisermos, pois, fazemos as coisas para o seu bem, é isso que sempre tem que ter em mente.
— Se está dizendo.
— Esteja pronta às 20h00min, não me faça vir buscá-la.
— Não será necessário.
Ela sai e fecha a porta, caio sentada na cama, não sei o que ela pretende, mas não estou gostando disso, ela nunca nem sequer entrou no meu quarto ou mesmo quis comemorar nenhum aniversário meu.
Passei o dia todo dentro do meu quarto e quando estava na hora de me arrumar, peguei o vestido que ela tinha comprado, era preto, com um decote em V na frente, seu cumprimento ia até o joelho, ele ficou perfeito em meu corpo, não ficou vulgar, peguei meu escarpin preto, de salto alto, eu já sou uma mulher alta, mas com ele, fico da altura do meu pai que tem quase 1,88. Não sou tão magra, tenho algumas curvas, os meus seios não são grandes como os da minha mãe, mas combinam com a minha estrutura.
Depois de pronta, resolvi sair do quarto, era um pouco antes das 20 horas, eu não queria que ela viesse novamente aqui e assim que cheguei à escada, pude ver uma movimentação, fui descendo devagar, assim que cheguei ao último degrau, o meu coração parou, tinha um homem vestido todo de preto conversando com o meu pai, que quando me viu, falou alguma coisa para ele, que o fez se virar e me olhar.
O homem em minha frente me olhou como se eu fosse um pedaço de carne, seus olhos examinaram todo o meu corpo e quando parou em meu rosto, pude sentir um frio na espinha, seu olhar era frio, sem sentimento algum. Ele era bonito, elegante, mas, algo nele me dava medo, não sei bem o que era, término de descer e vou até eles.
— Camilly, eu quero que conheça o Sr. Carter Draw Sanders.
— É um prazer conhecê-lo, senhor.
— Com certeza você terá muito prazer em me conhecer — diz ele, ainda segurando a minha mão.
— Vamos todos para a mesa, o jantar já deve estar sendo servido — falou o meu pai, que parecia muito nervoso.
Eles deram passagem para que eu fosse à frente deles. Sentei-me ao lado do senhor Carter, como minha mãe indicou, o meu pai na cabeceira da mesa e minha mãe ao seu lado, não sei bem o porquê, mas não era como ela tinha me dito, só tinha ele aqui, não havia mais ninguém.
— Senhor Carter, espero que goste do jantar, eu mandei fazer especialmente para o senhor.
— Vamos ver se vai estar do meu agrado — ele fala com uma cara de poucos amigos.
— Espero que sim — diz ela, contrariada, sempre teve muitos elogio em tudo que fez, as pessoas achavam que ela era perfeita em tudo, só que pelo visto ele não vai fazer isso.
Não sei por que falar que era um jantar, estava mais para um funeral, no ambiente só se ouviam o tilintar dos talheres no prato.
Tive a nítida impressão de que todos tinham medo até de respirar na presença daquele homem desconhecido. Quando terminamos, o meu pai foi com o senhor Carter para o escritório, a minha mãe fez com que eu ficasse na sala com ela, não gostei disso. Depois de quase uma hora, a porta do escritório foi aberta, meu pai saiu e veio até nós, me dizendo:
— Filha, precisamos conversar, pode, por favor, ir até o meu escritório?
— Qual o problema, pai?
— Por favor, venha, vou te contar tudo lá.
— Não desobedeça ao seu pai e vá logo, não o questione — minha mãe fala ríspida, se levantando, mas o meu pai fez um sinal e ela se senta novamente.
Levantei-me e o segui até seu escritório, assim que passei pela porta, senti um calafrio tomar todo o meu corpo e quando olhei para a mesa do meu pai, lá estava ele, sentado com um sorriso de canto, mais uma vez me olhou estranho, estava com um copo em sua mão, com um líquido âmbar, deduzi ser de alguma bebida. Sentindo-me subitamente nervosa, fui até o sofá e me sentei, o meu pai se sentou ao meu lado de cabeça baixa.
— Você vai contar Carlos ou eu conto?
— Eu mesmo falo senhor.
— Muito bem, então ande logo que eu não tenho a noite toda.
— Sim senhor.
— Filha, me perdoe, mas essa foi à única maneira que encontrei de livrar a minha empresa da falência, fiz alguns investimentos que não deram certo e perdi tudo, mas, o senhor Carter se ofereceu para comprar a empresa, mas, para manter os empregos dos funcionários, ele exigiu algo em troca.
— O quê?
— Você! — foi direto. — Ele só iria comprar a empresa se eu a vendesse junto.
— Pai! Por que fez isso? Eu não sou um objeto, sou sua filha, mesmo que nunca tenha me amado, não pode fazer isso comigo.
— Desculpe-me, por favor, mas, eu não tive outra saída a não ser lhe entregar em troca.
— Você me vendeu para salvar seus funcionários?
— Por favor, filha, compreenda, não é só a nossa vida que está em jogo, tem muitos outros.
— E terei que pagar pelo seu erro, pai?
— Prefiro sacrificar um, a sacrificar vários, não pretendo viver na pobreza, eu não nasci para isso — foram suas palavras duras.
— Não posso acreditar que foram tão baixo a esse ponto, nunca imaginei que fariam isso comigo.
— Podemos marcar o casamento para daqui a um mês e nem um dia a mais — disse o desconhecido se intrometendo.
— Eu não vou me casar com ninguém, muito menos com você.
— Filha, por favor, não tem mais o que fazer, eu já assinei o contrato.
— Filha? Nunca fui sua filha, não venha com essa agora, é melhor que arrume outro jeito de quitar sua dívida, porque eu não vou pagar por algo que não fiz.
— Espero que o seu temperamento mude depois do casamento ou eu juro que você vai se arrepender — diz o homem, já de pé ao meu lado.
— Eu não vou me casar com você, nem com ninguém, já disse isso, não ouviu? Fique sabendo, o meu pai fez a dívida, então é ele que tem que pagar.
Assim que terminei de falar, eu senti o tapa em meu rosto, coloquei a mão onde estava ardendo, olhei para o meu pai que não disse nada.
— Camilly, suba para o seu quarto agora!
— Pai, ele me bateu e você não vai fazer nada? Como pode deixar um estranho entrar em nossa casa e fazer isso, com que direito você o deixar me bater sem fazer nada? Eu não sabia que tinha um pai covarde a esse ponto.
— Seu pai não tem mais poder sobre você, lembre-se que você pertence a mim e não vou aceitar desobediência, faça como ele mandou e suba.
— Eu nunca vou pertencer a você, nem que para isso eu tenha que dar um fim em minha vida.
— Pois, então tente fazer isso, que me poupará o trabalho de eu mesmo a destruir.
Não respondi, saí do escritório ignorando completamente a mulher que permanecia sentada na sala e subi para o meu quarto, logo Nina entrou e pela sua cara, pude ver que o meu rosto não estava bem.
— Menina, eu escutei tudo, nunca imaginei que seus pais fossem capazes de fazer isso com você.
— Nina! — exclamo. — O que vou fazer da minha vida agora? Os meus pais foram longe demais.
— Eu não sei menina, ainda não entendo o porquê de eles estarem fazendo isso com a própria filha.
— Eles nunca me viram como sua filha, Nina, e, você sabe disso, agora sou apenas um meio para eles conseguirem o dinheiro, acho que foi sempre isso.
— Como podem forçá-la a casar com um estranho? Eles estão loucos, isso não acontece mais, sinceramente eu não sei o que te dizer ou o que fazer para te ajudar nessa situação.
Não a respondi, porque eu mesma não entendia o quanto eles eram ruins, mas chegar a esse ponto foi demais, até mesmo para eles, ela ficou no quarto comigo, pedi para que trouxesse gelo para o meu rosto, eu nem quis olhar no espelho para não ver a marca que ficou, só espero que não fique como as minhas costas, que graças a Deus não posso ver, minha mãe é cruel quando não faço as suas vontades.
CarterOntem, depois de um jantarzinho de merda e de mostrar para a minha futura noiva quem é que manda, resolvi voltar para casa, sei que terei muito trabalho com aquela menina desobediente, mas, eu vou com certeza ter muito prazer em mostrar para ela, quem está no comando.— Jessica!— Sim senhor.— Quero que arrume um dos quartos de hóspede no andar de cima.— Para quem senhor?— Que eu saiba não lhe devo satisfação, faça o que eu mandei e tem mais, me casarei daqui um mês, não se esqueça do seu lugar, nunca deve me tratar diferente na frente da minha esposa. — Vai casar-se novamente, senhor?— Sim! Por que a pergunta?— Pensei que depois da morte de sua mulher, não fosse se casar novamente, não foi isso que sempre disse?— Isso quem decide sou eu, não você, não esqueça o seu lugar nessa casa.— Sim senhor.— Agora suma da minha frente, vá fazer seu trabalho, peça para que o Hernandes venha até o meu escritório.— Sim senhor.Vou para o meu escritório, preciso resolver alguns assu
CamillyDepois de tudo, acabei pegando no sono e não ouvi a porta sendo aberta, só quando escutei a voz do meu pai, foi que despertei.— Saia Nina! — disse com autoridade.— Camilly, quero que me escute porque eu só vou falar uma vez, quase me fez perder tudo essa noite com sua malcriação, ainda bem que ele não desistiu do contrato, porque se ele tivesse feito isso, eu não sei o que eu seria capaz de fazer com você, se estou fazendo isso, é porque não achei alternativa, e quando ele me fez a oferta, não pensei em recusar. Você um dia teria que se casar e nada melhor do que fazer isso com um homem que vai poder lhe dar tudo que sempre lhe dei ou achou que iria casar com qualquer um, o meu nome não vai para a lama. Eu só pensei em manter a nossa vida como sempre foi, mas nunca viu isso não é mesmo? Nunca deu valor para nada que lhe demos.— Você me vendeu como uma mercadoria barata para um homem que eu nunca vi, não pensaram que eu tenho planos para a minha vida, que não quero viver no
CarterAcordo com uma tremenda dor de cabeça, ontem depois que cheguei, destruí todo o meu quarto. Eu não posso e não vou deixar que o meu passado voltasse. Aquela vida miserável tem que ficar onde está. Se Victor pensa que eu tenho medo dele, está muito enganado. Ele parece ter esquecido quem eu fui naquele inferno e do que eu passei para chegar aonde cheguei.Levanto-me para ir tomar o meu banho, assim que coloco o pé fora da cama, olho para onde estou, não me lembro de ter vindo parar no quarto de hospede, pelo visto bebi demais.Assim que saio do quarto, vou para o meu, quando eu abro a porta, vejo que está todo arrumado, com certeza foi a Jessica quem fez isso, vou para o banheiro, deixo que a água fria banhe o meu corpo, mas, minha cabeça lateja, quando eu fecho o chuveiro, me enrolo na toalha e saio, assim eu entro no closet, escuto a porta sendo aberta.— Senhor!— O que quer Jessica?— Trouxe seu café e um remédio, sei que com certeza deve estar com dor de cabeça, depois de q
CamillyDepois que voltamos, fui direto para o meu quarto, mas não demora muito e alguém entra, me viro, mas a pessoa que está na minha frente não me agrada muito.— O senhor Carter ligou, ele vai mandar o motorista vir buscá-la às 21h00min, disse que não quer atraso.— E por que eu tenho que ir até ele?— Não esqueça que ele é seu futuro marido e já tem direito sobre você, eu já avisei que você irá, esteja pronta.— Não pretendo ir, ele que venha, não posso imaginar o porquê disso agora, o contrato já foi assinado.— Você irá, de qualquer jeito, nem que eu tenha que arrastá-la desse quarto e entregá-la para ele pessoalmente.Ela se vira e sai, me jogo na cama revoltada, o que esse homem pode querer comigo? Tenho vontade de não ir, mas, sei que a minha mãe é capaz de fazer o que falou, respiro fundo, sei que nada de bom pode sair desse encontro.Como previsto, no horário combinado, eu estava pronta e vi quando um carro preto parou frente à minha casa, resolvi descer antes que ela vies
CamillyQuando entrei no carro, não conseguia parar de chorar, como ele foi capaz de fazer aquilo? Eu ainda sou virgem. Depois que passamos pelo portão, o motorista para o carro e me entrega um lenço.— Tome senhorita, limpe suas lágrimas, não pode chegar desse jeito em sua casa, seus pais não vão gostar de vê-la assim.— Os meus pais são iguais a ele ou pior.— Não fale isso senhorita, os pais amam seus filhos, lógico que existem alguns que nunca deveriam ter filhos, mas os seus com certeza vão ficar preocupados quando a vir desse jeito.— Com certeza não irão — respondo.Voltei o meu rosto para o outro lado, estava uma noite linda, sem nuvem, o céu estava cheio de estrelas, como eu gostaria de sumir e nunca mais encontrar com eles, todos são iguais, só queria entender o porquê estou passando por isso, já não basta tudo que passo com os meus pais, ainda tem esse homem tão cruel.Assim que o carro para em frente à minha casa, me despeço do motorista e desço, quando entro em casa, vejo
CarterEstou em meu escritório, quando Hernandes entra.— Senhor, bom dia.— O que foi?— Aqui está o relatório sobre a família Barrett.— Deixe aqui que depois vou olhar.— Eles já compraram uma casa, senhor, irão se mudar.— Isso é muito bom, quero-os bem longe.Ele só me olha e não fala nada, sei muito bem o que deve esta pensando, com certeza imagina o que eu fiz com a Camilly ontem, em silêncio, ele saiu da sala.Depois que termino de analisar o contrato da minha nova aquisição, pego o relatório que o Hernandes deixou na mesa e começo a ler, as coisas que leio não me agradam em nada, essa família tem muita sujeira, principalmente a mãe, que é uma mulherzinha imunda, uma verdadeira puta, e o trouxa do marido, sempre foi corno e não sabe, mas, eu vou acabar com eles depois, se acham que vão viver felizes para sempre, estão bem enganados, ligo para o Hernandes que me atende no segundo toque.— Senhor...— Hernandes, venha até a minha sala.— Já estou indo senhor.Não demora muito e
CamillyQuando o motorista me deixou na porta do colégio, assim que desci do carro, fui até o meu amigo que me esperava, depois de cumprimentá-lo, seguimos para dentro da instituição.— Que cara é essa Camilly? — pergunta Ryan. Não faço rodeio e conto que irei me casar. — Como assim se casar? Que eu saiba nem namorado tem, desistiu da faculdade assim?— Não vou mais, em menos de um mês estarei casada, e não sei se o meu marido me deixará estudar.— Então não se case, não pode deixar que seus sonhos mudem por causa de um casamento?— Foram os meus pais, eles estão me obrigando a isso, não tem como eu me livrar.— Os seus pais? Eles não podem fazer isso, em que século eles vivem? Não pode aceitar o que eles querem assim sem fazer nada.— A empresa do meu pai teve problemas e para não falir, teve que vender e o comprador pagou um valor bem maior, mas com uma condição, que eu me casasse com ele, e o meu pai aceitou, então, tecnicamente, eu fui vendida, para que as outras pessoas não perd
CamillyAssim que paramos na porta da igreja, as minhas mãos estavam geladas e minhas pernas tremiam, eu sabia que depois que passasse dessa porta, não teria mais volta. Olho para o meu pai, que está sério, e sem me olhar, segura firme o meu braço.— Vamos que ele está esperando, não quero que imagine que você desistiu.— Como eu poderia fazer isso tendo os pais maravilhosos que tenho, jamais poderia desistir de salvar a empresa que tanto eles lutaram para manter em pé, ou melhor, como eu poderia deixar que mandassem tantos funcionários embora por sua culpa.Ele me olha sem falar nada, as portas se abrem, o meu olhar vai direto para o homem de terno preto no altar, seu olhar frio analisa as minhas feições, vejo que ele fica mais sério, enquanto eu vou andando pelo corredor da igreja, não consigo olhar para os lados, como se tivesse ficado hipnotizada. Quando chegamos perto dele, ele vem até nós e segura a minha mão, paramos em frente ao padre, que começa a cerimônia.— É de livre e es