Camille 1 semana depoisQuando Javier mencionou que tinha algo em mente para "ocupar minha mente", a última coisa que imaginei foi estar sentada em uma tarde tediosa com as esposas dos homens mais influentes do México. Sequer me ocorreu questionar sua decisão, já que ele parecia determinado a me tirar da rotina de tensões e incertezas — ou talvez apenas estivesse tentando me moldar a algo que ele considerava ideal.O pouco que sabia sobre chás da tarde vinha de histórias que Roberta adorava contar. Segundo ela, eram encontros animados, repletos de fofocas, discussões sobre moda, viagens e as últimas extravagâncias. Na prática, o ambiente era completamente diferente.As mulheres ao meu redor estavam em completo silêncio. Cada uma parecia imersa em seus próprios pensamentos, mas não completamente desconectada. Pelo contrário, elas trocavam olhares carregados de significados — algo entre zombaria e curiosidade velada. Era desconfortável.Todas seguravam xícaras de chá ou taças de champa
JavierNão tinha ideia de quanto tempo havia se passado desde que entrei no escritório com Marco.O relógio na parede marcava algo próximo das dez da noite, mas eu não confiava mais na noção de tempo, ocupado como estava decidindo as melhores rotas para Veracruz. A tarefa parecia simples, mas os últimos acontecimentos adicionavam camadas de complexidade e tensão.— Precisamos considerar os bloqueios nas estradas principais. As informações que chegaram indicam atividade incomum perto de Córdoba — disse Marco, sua voz carregada de cansaço. Ele esfregou o queixo, o olhar fixo no mapa estendido sobre a mesa.Assenti, ajustando a cadeira e olhando para os papéis espalhados.— O desvio pela rodovia 180 parece mais seguro, mas também mais longo. Isso significa mais exposição.Marco soltou um suspiro pesado, inclinando-se para o lado da mesa.— Exatamente. E o risco aumenta com o tempo na estrada. Temos que decidir entre segurança e agilidade.Fiquei em silêncio por um momento, os dedos tambo
CamilleLiteralmente estive no lugar errado e na hora certa.Ouvi o que precisava para que Juan Carlos parasse com suas ameaças ou tentasse mais alguma coisa.A manhã parecia mais silenciosa do que de costume, embora soubesse que a ausência de Javier não significava liberdade.Ele era meticuloso demais para deixar algo ao acaso, especialmente quando se tratava de mim. Ainda assim, eu precisava testar os limites.Enviei uma mensagem rápida para Roberta, pedindo que se encontrasse comigo. Apesar de seu habitual ódio por manhãs, ela respondeu com um “só se você pagar o café” que me fez sorrir.Depois de garantir que Roberta estava a caminho do local, fui atrás de Carmen. Já sabia o que viria: objeções, controles e, inevitavelmente, os seguranças.— Vou encontrar minha mãe para um café e... talvez depois vou às compras — disse, tentando soar casual.Carmen arqueou as sobrancelhas, surpresa com a última palavra da frase. Ela parecia estar decidindo se isso era uma oportunidade de ouro para
JavierJá fazia algum tempo desde a última vez que eu acompanhara pessoalmente os carregamentos. Sentia que, de certa forma, havia perdido o ritmo, mesmo que continuasse lidando com isso diariamente. A estrada parecia infinita sob o céu azul e o silêncio dentro do carro só era quebrado pelo ruído constante dos pneus no asfalto. Estávamos próximos do destino. Em menos de uma hora, venderíamos uma carga milionária que garantiria mais um ciclo de operações bem-sucedidas.— Como estão as coisas em casa? — perguntei a Marco, que estava sentado ao meu lado, revisando um relatório no tablet.Ele levantou os olhos rapidamente, sem parecer surpreso com a pergunta.— Fui informado de que Camille foi se encontrar com a mãe mais cedo em um daqueles cafés caros demais para o que oferecem.— E os seguranças? — Minha voz saiu firme, mas o leve franzir das sobrancelhas denunciava minha preocupação.Marco suspirou, fechando o tablet e apoiando os braços no joelho.— Todos em seus postos. Não há com o
CamilleA cena diante dos meus olhos parecia saída de um pesadelo.Corpos estirados no chão do pátio, o som ensurdecedor dos tiros ainda ressoando em meus ouvidos, e o cheiro de pólvora misturado à terra úmida me deixavam nauseada. Eu queria me mover, queria gritar, mas minhas pernas estavam trêmulas demais para me sustentar. Tentei me agarrar em algo, só encontrando o vazio, ao sentir o chão começar a girar sob meus pés.— Senhora Herrera! — A voz de Carmen cortou a névoa em minha mente enquanto ela tentava chamar a minha atenção. Até que me segurou pelos ombros, os olhos cheios de preocupação. — Você está muito pálida. Vamos sair daqui agora.Deixei que ela me guiasse, incapaz de oferecer qualquer resistência. O mundo ao meu redor parecia borrado, cada passo um esforço monumental. Subimos as escadas, e eu mal percebi quando entramos no quarto.Carmen me ajudou a sentar na cama, sua voz firme tentando me tranquilizar.— Respire fundo, senhora. Pode ser sua pressão, às vezes acontece
JavierEncostei na poltrona do escritório, com os cotovelos apoiados nos braços da cadeira e as mãos cruzadas diante do rosto, encarando fixamente um ponto invisível. A cena do pátio ainda estava fresca em minha mente, mas não era o sangue ou o som dos tiros que me incomodavam. Era Camille.Sabia que Marco lidaria com a confusão do carregamento e encontraria uma maneira de reverter o prejuízo. Era eficiente, sempre foi. Ele lidaria com o comprador, daria uma explicação aceitável e acertaria os detalhes necessários para garantir que algo assim não acontecesse novamente.Mas eu não podia simplesmente delegar Camille a alguém.Ela havia visto mais do que deveria, mais do que eu jamais quis que ela visse. Enquanto eu estava no meio do caos, sentia sua presença como uma chama tímida atrás de mim, e quando me virei, vi o olhar dela.Aquele olhar.Era um misto de horror, incredulidade e... decepção.Soltei um longo suspiro, passando as mãos pelo rosto. Como eu poderia explicar? Como poderia
CamilleAntes mesmo de abrir os olhos na manhã seguinte, uma leve dor latejava em minha cabeça, e meu corpo parecia pesado, como se ainda não tivesse se recuperado completamente do mal-estar do dia anterior.Não queria abrir os olhos, mas o incômodo me manteve alerta. Ainda assim, decidi permanecer na cama, temendo que qualquer movimento piorasse a situação.Com um suspiro lento, me virei para o lado, sentindo a maciez dos lençóis contra minha pele. Foi então que notei algo diferente. O som de respiração controlada e a presença de alguém próximo.Abri os olhos devagar, e lá estava Javier. Sentado na poltrona ao lado da janela, banhado pela luz suave da manhã.Ele parecia calmo, um contraste perturbador com o homem que eu vira na noite anterior, ensanguentado e brutal. Seus olhos brilhavam de uma forma quase estranha, e a expressão serena em seu rosto me deixou desconcertada.— Como está se sentindo? — ele perguntou, sua voz baixa, mas carregada de algo que não consegui identificar.De
JavierO clima no salão era completamente diferente do habitual.Em vez da tensão que geralmente pairava no ar durante nossas reuniões, desta vez, tudo estava tomado por risadas, vozes animadas e o som de copos se chocando em brindes constantes.O cheiro de charutos e whisky impregnava o ambiente, misturado com o barulho de conversas altas e gargalhadas que ecoavam pelas paredes.Estava sentado à cabeceira da longa mesa, uma taça de whisky na mão, observando meus homens celebrarem com um entusiasmo raro. Marco estava ao meu lado, um sorriso no rosto que eu não via há meses. Ele levantou sua taça, chamando a atenção de todos.— Um brinde ao chefe! — anunciou, a voz forte e clara o suficiente para silenciar momentaneamente os outros. — E, é claro, à futura mãe de seu herdeiro. Que essa criança traga sorte e prosperidade para todos nós!Os homens levantaram suas taças, gritando palavras de congratulação, e eu sorri de lado, aceitando o brinde com um aceno de cabeça. Bebi um gole do whisk