JavierJá não tinha noção no rumo que a conversa entre os dois homens em minha frente, havia tomado, desde que Camille se retirou da mesa e possivelmente foi até o banheiro.Olhava disfarçadamente para o Rolex dourado em meu pulso, continuando a contabilizar o tempo desde de sua saída, alternando em olhar na direção que havia ido.Não sabia exatamente o que as mulheres faziam ao ir no banheiro, principalmente quando iam em grupo, mas conseguia imaginar algo como retocar o batom, arrumar o cabelo, colocar mais perfume...entretanto, naquele caso, Camille havia ido sozinha e já passará quase dez minutos.O homem à direita falava sobre expansão de negócios, quando desvio o olhar novamente e sinto meu corpo levantar automáticamente quando vejo Camille andar em direção da mesa, com algo pressionando a lateral da testa e só foi preciso encurtar mais um pouco o espaço entre nós, para me dar conta de que havia sangue em seu rosto.Ando em sua direção em passos largos, tentando analisar o ferim
CamilleCarmen já estava à minha espera no momento em que o carro parou na entrada da mansão.Seu semblante, geralmente firme e composto, agora parecia carregado de preocupação. Não houve perguntas, nem explicações. Ela simplesmente se aproximou, envolvendo meus ombros com um gesto acolhedor, e me guiou até o quarto que compartilhava com Javier.O peso daquele dia parecia se dobrar sobre mim a cada passo que dava.Assim que entrei, a figura do Dr. Xavier já estava presente. Era um homem calvo, de feições gentis e um olhar profissional, que me analisava como se eu fosse uma de suas pacientes há anos. Apesar de robusto, seus movimentos eram incrivelmente precisos, quase delicados. A cada toque, fazia questão de ser o mais cuidadoso possível, uma tentativa evidente de minimizar minha dor.— Vai sentir um pouco de desconforto, mas prometo que farei o mais rápido possível — ele disse, em um tom reconfortante.Assenti em silêncio, fechando os olhos enquanto ele trabalhava. O toque frio de s
JavierPela primeira vez desde que nos casamos, Camille não fez questão de criar um abismo entre nós.Ela simplesmente deitou de barriga para baixo na cama, o rosto voltado para o lado oposto ao meu. Vestia um pijama novo, de tecido macio e delicado, que contrastava com os curativos discretos em sua testa. A suavidade de seus movimentos, apesar do que havia passado, era quase desconcertante.Eu me sentei na beirada da cama, ainda vestindo a calça social e uma camisa limpa, mas com as mangas arregaçadas. Não conseguia tirar os olhos dela, incapaz de ignorar o que tinha acontecido. Me perguntei, mais uma vez, se o que vimos no banheiro era real ou fruto de um delírio, um reflexo do caos da noite.— Tem como parar de me olhar? Estou sentindo seus olhos em mim. — A voz dela cortou o silêncio de forma inesperada, um pouco rouca, mas firme.A surpresa me fez sorrir automaticamente. Desviei o olhar por um instante, um gesto que raramente fazia para qualquer pessoa. Era impressionante como el
JavierPela primeira vez desde que nos casamos, Camille não fez questão de criar um abismo entre nós.Ela simplesmente deitou de barriga para baixo na cama, o rosto voltado para o lado oposto ao meu. Vestia um pijama novo, de tecido macio e delicado, que contrastava com os curativos discretos em sua testa. A suavidade de seus movimentos, apesar do que havia passado, era quase desconcertante.Eu me sentei na beirada da cama, ainda vestindo a calça social e uma camisa limpa, mas com as mangas arregaçadas. Não conseguia tirar os olhos dela, incapaz de ignorar o que tinha acontecido. Me perguntei, mais uma vez, se o que vimos no banheiro era real ou fruto de um delírio, um reflexo do caos da noite.— Tem como parar de me olhar? Estou sentindo seus olhos em mim. — A voz dela cortou o silêncio de forma inesperada, um pouco rouca, mas firme.A surpresa me fez sorrir automaticamente. Desviei o olhar por um instante, um gesto que raramente fazia para qualquer pessoa. Era impressionante como el
JavierEnquanto subia os degraus, Camille mantinha os ombros retos e os passos firmes. Meu olhar permaneceu nela até que desapareceu no topo da escada, me deixando sozinho no hall. Mas minha “solidão” não durou muito, pois logo ouvi o som inconfundível dos saltos de Suzu se aproximando.Ela para na minha frente, e pelo semblante severo, percebi que vinha carregada de reclamações.— Posso saber por que a segurança redobrou? — Suzu perguntou, cruzando os braços enquanto me encarava.Eu suspirei, já esperando por essa conversa.— Sofremos ataques ontem, separadamente. — Disse, sem rodeios. — Não conseguiram nada muito grave, mas não vou correr o risco de haver outras tentativas.Suzu arqueou as sobrancelhas, sua expressão oscilando entre surpresa e irritação.— Tinha um segurança na porta do meu quarto essa manhã. Ele me seguiu pela casa inteira. Não acha que deveria fazer isso com a mulher que chama de esposa? — Seu tom carregava ironia, e ela forçou um sorriso sarcástico.Soltei o ar d
CamilleA ingestão da segunda pílula deveria ser antes do jantar. Organizei mentalmente o que faltava enquanto ajustava os últimos detalhes da casa que exigia minha atenção . Assim que terminei de verificar tudo, subi para o quarto, pronta para cumprir a recomendação médica e, quem sabe, encontrar um pouco de alívio para o peso que sentia nos ombros.Assim que entrei no quarto, fui direto até a gaveta onde havia guardado a pílula. Meu coração começou a disparar quando, ao abrir, percebi que ela não estava ali. A gaveta estava vazia, limpa, como se nunca tivesse guardado nada ali."Não pode ser…" murmurei para mim mesma, começando uma busca frenética pelo quarto. Revirei as outras gavetas, olhei debaixo da cama, chequei até o chão ao redor do móvel. Nada.A inquietação se transformava rapidamente em desespero, até que um som atrás de mim chamou minha atenção. Eu não estava mais sozinha. Virei-me devagar e encontrei Javier parado à porta, me observando com uma expressão que era impossív
Camille 1 semana depoisQuando Javier mencionou que tinha algo em mente para "ocupar minha mente", a última coisa que imaginei foi estar sentada em uma tarde tediosa com as esposas dos homens mais influentes do México. Sequer me ocorreu questionar sua decisão, já que ele parecia determinado a me tirar da rotina de tensões e incertezas — ou talvez apenas estivesse tentando me moldar a algo que ele considerava ideal.O pouco que sabia sobre chás da tarde vinha de histórias que Roberta adorava contar. Segundo ela, eram encontros animados, repletos de fofocas, discussões sobre moda, viagens e as últimas extravagâncias. Na prática, o ambiente era completamente diferente.As mulheres ao meu redor estavam em completo silêncio. Cada uma parecia imersa em seus próprios pensamentos, mas não completamente desconectada. Pelo contrário, elas trocavam olhares carregados de significados — algo entre zombaria e curiosidade velada. Era desconfortável.Todas seguravam xícaras de chá ou taças de champa
JavierNão tinha ideia de quanto tempo havia se passado desde que entrei no escritório com Marco.O relógio na parede marcava algo próximo das dez da noite, mas eu não confiava mais na noção de tempo, ocupado como estava decidindo as melhores rotas para Veracruz. A tarefa parecia simples, mas os últimos acontecimentos adicionavam camadas de complexidade e tensão.— Precisamos considerar os bloqueios nas estradas principais. As informações que chegaram indicam atividade incomum perto de Córdoba — disse Marco, sua voz carregada de cansaço. Ele esfregou o queixo, o olhar fixo no mapa estendido sobre a mesa.Assenti, ajustando a cadeira e olhando para os papéis espalhados.— O desvio pela rodovia 180 parece mais seguro, mas também mais longo. Isso significa mais exposição.Marco soltou um suspiro pesado, inclinando-se para o lado da mesa.— Exatamente. E o risco aumenta com o tempo na estrada. Temos que decidir entre segurança e agilidade.Fiquei em silêncio por um momento, os dedos tambo