JavierEnquanto mastigava o spaguete, sentia o sabor inesperadamente bom da comida, e uma pontada de incredulidade me acompanhava. Camille realmente havia preparado o almoço? Claro, o prato era básico, mas ainda assim… Um sorriso irônico se formou no meu rosto enquanto observava cada expressão dela.Nunca pensei que a veria tentando qualquer coisa que soasse como "aproximação". Logo ela, que parecia se esforçar tanto para me manter à distância, havia se encarregado de um dos detalhes que, até então, provavelmente consideraria abaixo dela, logo depois de quase ter me matado. Alguma coisa nesse gesto não fazia sentido para mim — não se encaixava com a garota que preferiu fazer um jantar alérgico só para me irritar.Ela mantinha o olhar fixo no prato, como se estivesse deliberadamente evitando o meu, mas notei que os ombros estavam tensos.Decidi não dizer nada por enquanto, mas minha mente trabalhava a todo vapor. Fosse lá o que fosse que ela estava tentando, ou quem estava por trás da
CamilleO quarto estava silencioso quando entrei, as cortinas levemente abertas deixavam a luz dourada do fim de tarde entrar. Ao fechar a porta atrás de mim, foi então que notei a caixa sobre a cama.Era elegante, prateada, com um laço preto perfeitamente amarrado. Franzi o cenho enquanto me aproximava, deixando minha bolsa de lado. Não havia nenhum bilhete, nenhum indício de quem havia deixado ali, mas eu sabia exatamente de quem era.Minha mão deslizou pela lateral da caixa, sentindo a suavidade do material. Soltei o laço com cuidado e levantei a tampa devagar. Assim que o fiz, um perfume suave e envolvente encheu o ar.A sensação foi quase mágica, como se aquele momento tivesse sido planejado nos mínimos detalhes.No interior, um tecido tão preto quanto a noite estava dobrado com precisão. Peguei o vestido com cuidado, permitindo que o tecido escorresse pelos meus dedos como água.O decote nas costas era ousado, mas ao mesmo tempo elegante, e as linhas do vestido sugeriam que ele
JavierEnquanto o carro avançava sem qualquer sinal de congestionamento, desejei, contra toda a força, que algo surgisse para atrasar nossa chegada.Até aquele momento não tinha sentido essa necessidade, mas ali estava eu, ansioso para prolongar aquele momento com Camille.Não sabia se era o vestido impecável que abraçava suas formas de maneira hipnotizante ou algo mais profundo, algo que ainda não tinha coragem de nomear. A única coisa certa era o incômodo crescente que se formava no fundo da minha mente ao pensar nos olhares que ela atrairia aquela noite. Não suportava a ideia de outros homens a enxergando da mesma forma que eu naquele momento.Quando o carro estacionou diante das escadarias do prédio iluminado, me forcei a esconder qualquer traço de insatisfação. Saí do veículo rapidamente e contornei até o lado dela, abrindo a porta antes que o motorista sequer considerasse fazer isso.Ela hesitou por um momento, seus olhos buscando os meus como se quisesse prever minhas intenções
CamilleO meu rosto estava começando a doer. Meus lábios pareciam presos em uma posição ensaiada, uma máscara de cortesia que estava usando enquanto tentava me manter envolvida nas conversas que pareciam não ter fim. Cada palavra parecia flutuar no ar, desprovida de sentido.As risadas exageradas, as histórias entediantes e a incessante movimentação dos garçons com bandejas impecáveis apenas reforçavam o quanto eu não pertencia ali.Javier, por outro lado, parecia completamente em casa. Ele estava sentado do outro lado da mesa, conversando com dois homens mais velhos que riam como se cada palavra dele fosse uma revelação divina, prestando atenção em cada palavra que saia de sua boca.Suas respectivas esposas estavam perto, devorando os canapés e discutindo algo que envolvia viagens e joias, completamente alheias à minha presença. Tentei me concentrar, captar algum fragmento interessante das conversas, mas tudo parecia uma língua estrangeira.Suspirei discretamente e deslizei os dedo
JavierJá não tinha noção no rumo que a conversa entre os dois homens em minha frente, havia tomado, desde que Camille se retirou da mesa e possivelmente foi até o banheiro.Olhava disfarçadamente para o Rolex dourado em meu pulso, continuando a contabilizar o tempo desde de sua saída, alternando em olhar na direção que havia ido.Não sabia exatamente o que as mulheres faziam ao ir no banheiro, principalmente quando iam em grupo, mas conseguia imaginar algo como retocar o batom, arrumar o cabelo, colocar mais perfume...entretanto, naquele caso, Camille havia ido sozinha e já passará quase dez minutos.O homem à direita falava sobre expansão de negócios, quando desvio o olhar novamente e sinto meu corpo levantar automáticamente quando vejo Camille andar em direção da mesa, com algo pressionando a lateral da testa e só foi preciso encurtar mais um pouco o espaço entre nós, para me dar conta de que havia sangue em seu rosto.Ando em sua direção em passos largos, tentando analisar o ferim
CamilleCarmen já estava à minha espera no momento em que o carro parou na entrada da mansão.Seu semblante, geralmente firme e composto, agora parecia carregado de preocupação. Não houve perguntas, nem explicações. Ela simplesmente se aproximou, envolvendo meus ombros com um gesto acolhedor, e me guiou até o quarto que compartilhava com Javier.O peso daquele dia parecia se dobrar sobre mim a cada passo que dava.Assim que entrei, a figura do Dr. Xavier já estava presente. Era um homem calvo, de feições gentis e um olhar profissional, que me analisava como se eu fosse uma de suas pacientes há anos. Apesar de robusto, seus movimentos eram incrivelmente precisos, quase delicados. A cada toque, fazia questão de ser o mais cuidadoso possível, uma tentativa evidente de minimizar minha dor.— Vai sentir um pouco de desconforto, mas prometo que farei o mais rápido possível — ele disse, em um tom reconfortante.Assenti em silêncio, fechando os olhos enquanto ele trabalhava. O toque frio de s
JavierPela primeira vez desde que nos casamos, Camille não fez questão de criar um abismo entre nós.Ela simplesmente deitou de barriga para baixo na cama, o rosto voltado para o lado oposto ao meu. Vestia um pijama novo, de tecido macio e delicado, que contrastava com os curativos discretos em sua testa. A suavidade de seus movimentos, apesar do que havia passado, era quase desconcertante.Eu me sentei na beirada da cama, ainda vestindo a calça social e uma camisa limpa, mas com as mangas arregaçadas. Não conseguia tirar os olhos dela, incapaz de ignorar o que tinha acontecido. Me perguntei, mais uma vez, se o que vimos no banheiro era real ou fruto de um delírio, um reflexo do caos da noite.— Tem como parar de me olhar? Estou sentindo seus olhos em mim. — A voz dela cortou o silêncio de forma inesperada, um pouco rouca, mas firme.A surpresa me fez sorrir automaticamente. Desviei o olhar por um instante, um gesto que raramente fazia para qualquer pessoa. Era impressionante como el
JavierPela primeira vez desde que nos casamos, Camille não fez questão de criar um abismo entre nós.Ela simplesmente deitou de barriga para baixo na cama, o rosto voltado para o lado oposto ao meu. Vestia um pijama novo, de tecido macio e delicado, que contrastava com os curativos discretos em sua testa. A suavidade de seus movimentos, apesar do que havia passado, era quase desconcertante.Eu me sentei na beirada da cama, ainda vestindo a calça social e uma camisa limpa, mas com as mangas arregaçadas. Não conseguia tirar os olhos dela, incapaz de ignorar o que tinha acontecido. Me perguntei, mais uma vez, se o que vimos no banheiro era real ou fruto de um delírio, um reflexo do caos da noite.— Tem como parar de me olhar? Estou sentindo seus olhos em mim. — A voz dela cortou o silêncio de forma inesperada, um pouco rouca, mas firme.A surpresa me fez sorrir automaticamente. Desviei o olhar por um instante, um gesto que raramente fazia para qualquer pessoa. Era impressionante como el