Camille
O som insistente do monitor cardíaco preenchia o quarto vazio, quase como uma companhia sarcástica para o que eu sentia.
A cada bip, parecia que ele ria de mim, zombando da minha situação, do peso que me prendia à cama. Meu corpo ainda doía, mas não era só físico. A pior dor era a do medo constante, das perguntas sem respostas, da sensação de que eu estava cercada por inimigos invisíveis.
A porta se abriu sem cerimônia, o ranger das dobradiças ecoando pelo quarto. Instintivamente, meus músculos se retesaram. Mas quando ergui os olhos, reconheci as duas figuras que entraram.
Minha mãe, Roberta, com seus saltos altos que ressoavam contra o piso como tiros, atravessou o quarto com a elegância forçada de sempre. Seu perfume inconfundível dominou o espaço em segundos, doce e enjoativo, como uma máscara que ela nunca tirava.
Atrás dela, meu padrasto, Juan Carlos, seguia com passos firmes e calculados. Ele vestia um terno impecável, como sempre, com aquele sorriso que nunca chegava a