JavierO restaurante estava silencioso, exceto pelo som suave de talheres e conversas baixas ao fundo. Eu me sentia desconfortável, ainda tentando digerir o que havia acontecido nas últimas horas.Cada passo fora de casa parecia ser um campo minado, e eu sabia que nada seria mais do que uma distração momentânea. Mas aquela reunião, com Sandoval, era algo que não podia adiar.A mesa estava iluminada suavemente pela luz amarelada das luzes, criando uma atmosfera quente e íntima. A presença de Sandoval era algo que ainda não conseguia identificar completamente. Ele parecia confiável, mas sua natureza reservada sempre me deixava em alerta. Não sabia se podia confiar plenamente nele.Sandoval entrou no restaurante com sua postura característica, elegante e segura, o olhar sempre atento. Ele acenou levemente, indicando que havia me visto, e caminhou até a mesa onde eu estava sentado, como se fosse uma rotina. Sem mais palavras, ele se sentou à minha frente e pediu um copo de vinho, mais par
CamilleO sol já começava a se pôr, pintando o céu com tons avermelhados e dourados quando as duas mulheres apareceram, suas vozes suaves me arrancando do estado de torpor em que eu me encontrava.— Você está bem? — A primeira perguntou, a voz carregada de preocupação genuína.Eu me virei lentamente em direção às duas, ainda um pouco atordoada, sentindo o coração disparado no peito. A outra mulher inclinou a cabeça, os olhos estreitos enquanto me analisava.— Você parecia desnorteada quando saiu daquele carro — ela comentou, baixinho, como se tivesse medo de ser ouvida.Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, a primeira se aproximou um pouco mais, o rosto ganhando um ar curioso e quase animado.— Ei! — exclamou. — Você não é a esposa do Javier?Pisquei algumas vezes, surpresa com a pergunta. Só então me dei conta de que ela era mais baixa que eu, esguia, com cabelos na altura do queixo e ondulações perfeitas que emolduravam seu rosto delicado.— É... Eu sou — respondi, hesitante.E
JavierA noite estava fria, mas o calor da fogueira improvisada no pátio central irradiava com intensidade suficiente para fazer suor brotar nas testas dos que estavam reunidos. Mantive meus olhos fixos nas chamas, que dançavam ferozmente enquanto consumiam a madeira. O crepitar ecoava pelo silêncio absoluto que se instalara entre os funcionários da casa. Ninguém ousava falar ou sequer se mexer sem que fosse necessário.Marco estava ao meu lado, como sempre, atento e inabalável. Ele, assim como os outros, aguardava que eu explicasse por que todos haviam sido convocados.— Devem estar se perguntando por que estão aqui — comecei, minha voz firme cortando o ar noturno.Os olhares estavam fixos em mim, carregados de expectativa e uma pitada de medo. Podia sentir a tensão no ar, tão densa que quase podia tocá-la. Dei um passo à frente, ajustando o paletó, e olhei para a grande panela de ferro cheia de água fervente sobre a fogueira. O vapor subia em espirais sinuosas, desaparecendo na esc
JavierO silêncio na sala era absoluto, quebrado apenas pelo som ritmado dos meus passos. Caminhava de um lado para o outro, os olhos fixos na cadeira de metal no centro da sala. Era ali que os funcionários eram levados, um por um, para interrogatório.A iluminação fraca lançava sombras alongadas contra as paredes de concreto. A atmosfera estava carregada, densa. O cheiro de suor e medo impregnava o ar.O primeiro a ser trazido foi o jovem jardineiro. Ele parecia ainda mais frágil sob a luz dura da sala, seus olhos arregalados enquanto tremia visivelmente na cadeira.— Sabe por que está aqui? — perguntei, minha voz baixa, mas carregada de intenção.Ele balançou a cabeça rapidamente, negando, enquanto seu olhar passava de mim para Marco e depois para a porta, como se calculasse a distância até a saída.— Não quero perder meu tempo, garoto. Quem está ajudando Juan Carlos? — continuei, cruzando os braços.— Eu... eu não sei, senhor! Eu juro!Marco se aproximou, apoiando as mãos nos ombro
CamilleOs primeiros raios de sol invadiam o campo de treinamento improvisado enquanto eu ajustava as faixas em volta dos pulsos. Estávamos em um armazém abandonado, um espaço amplo e isolado que Eleonora garantiu ser seguro.O lugar tinha um cheiro de madeira velha e ferrugem, com o piso de concreto rachado em alguns pontos, mas era perfeito para o que pretendíamos fazer.Lúcio estava parado no centro do espaço, os braços cruzados, esperando pacientemente enquanto Eleonora e Lola organizavam as recém-chegadas. Ele era um homem robusto, com uma postura intimidadora e um olhar que parecia enxergar através de você. Ele não dizia muito, mas quando falava, a autoridade em sua voz era inegável.— Vamos começar com o básico hoje — ele disse, cortando o silêncio, sua voz ecoando pelo galpão. — Autodefesa, percepção de ameaças e, para as mais avançadas, talvez o uso de facas e armas.Eu ergui uma sobrancelha, intrigada com o último ponto, mas mantive minha atenção nele. As outras mulheres ao
CamilleAinda sorrindo, ele me ofereceu a mão. Era um gesto cortês, mas não pude evitar o arrepio que correu pela minha espinha quando vi o brilho familiar nos olhos castanhos. Ele parecia novamente um anjo sombrio, com a beleza sublime maculada por uma sombra maligna.Engolindo em seco para me livrar do nó na garganta, coloquei a mão na dele e deixei que ele me levasse para o andar de cima. Era melhor assim, mais civilizado. Permitia que eu fingisse por mais alguns momentos, que me agarrasse à ilusão de ter opção.Quando entramos no quarto, ele fez com que eu tirasse a roupa e deitasse de bruços na cama.Em seguida, ele amarrou firmemente meus pulsos atrás das costas. Depois, colocou uma venda sobre meus olhos e travesseiros sob meus quadris.Quando senti o lubrificante gelado entre as nádegas, tentei relaxar e deixar que ele fizesse o que quisesse. Um brinquedo foi inserido em mim. A invasão me assustou, mas não foi particularmente dolorosa. Ele deixou o brinquedo dentro de mim ao m
JavierEstava tudo planejado. Não era uma decisão fácil, mas era necessária.Camille havia se tornado parte de minha vida de forma inevitável, e precisava que ela compreendesse, ao menos em parte, o que moldou quem sou. Talvez fosse egoísmo de minha parte, mas o fardo que eu carregava havia se tornado insuportavelmente solitário.Seus olhos, curiosos e levemente cansados, buscaram os meus. Eu sabia que estava envolvida em tantas coisas que a exauriam, mas isso era inevitável. Ainda assim, havia algo diferente nela naquela manhã.— Quero levar você a um lugar — disse, em vez de me prender às formalidades habituais.Não expliquei mais nada. Sabia que ela não insistiria em perguntar, e, em poucos minutos, estávamos no carro.Dirigir novamente depois de tanto tempo trouxe uma sensação agridoce.Era uma ação simples, quase mundana, mas que eu não fazia há anos. Ficar no controle do volante me dava uma estranha sensação de liberdade. Por outro lado, me lembrava do motivo pelo qual eu havia
CamilleA manhã de treinamento havia sido mais intensa do que eu imaginava.Minhas pernas ainda estavam tensas dos exercícios, e minhas mãos doíam levemente dos golpes que Lúcio insistia que repetíssemos à exaustão. No entanto, saí da sessão com uma estranha satisfação, como se estivesse mais próxima de recuperar algo que havia perdido: meu controle.Lola e Eleonora eram minha companhia perfeita. Elas não apenas compartilhavam das mesmas frustrações que eu, mas também transformavam qualquer momento em algo divertido. Por isso, quando sugeriram uma pausa para um café, aceitei prontamente.— Depois dessa manhã, acho que merecemos um café bem forte — comentou Eleonora, ajeitando o cabelo enquanto caminhávamos pela calçada.— E um pedaço generoso de bolo de chocolate — acrescentei, arrancando risadas de ambas.Lola apontou para uma cafeteria charmosa na esquina, com mesas na calçada e um aroma irresistível de café fresco. Entramos e logo escolhemos uma mesa. O ambiente era acolhedor, e o