Capítulo 6

Cadu

— Onde você conseguiu meu número? — Ela perguntou, um pouco alterada.

Mesmo que isso fosse custar a vida do meu irmão, ele estava merecendo, depois de ter me feito passar tanta raiva, então eu falei a verdade.

— Meu irmão me passou.

Ouvi uma respiração pesada do outro lado da linha.

— Ah, claro… eu devia ter imaginado!

Pude sentir a raiva no timbre de sua voz. Naquele momento, ela com certeza estava pensando em como iria esconder o corpo do Vini, depois de matá-lo.

Apesar de tudo, ele me ajudou. Então, tentando livrar a barra dele, eu expliquei:

— Eu sei que você está brava, mas não desconta nele. Eu pedi porque era necessário. Esqueci de anotar seu endereço e quando fui tomar banho, apaguei sem perceber.

Não sei se ela acreditou, mas pelo menos parou de reclamar.

— Tá! Vou enviar a localização. — Ela disse.

Nos segundos seguintes meu celular vibrou, indicando uma mensagem.

— Pronto! Vê se não demora, já está atrasado.

— Ok! Chego em cinco minutos.

Encerrei a ligação e abri o GPS. A localização indicava a avenida principal de Vale do Silício, o que me pareceu estranho. Mas ignorei meus pensamentos e segui para o local. Logo cheguei em frente a um edifício de fachada luxuosa, então as interrogações voltaram a perturbar minha mente.

Como Verônica é bolsista, e mora em um edifício deste patamar? Não faz sentido.

Quando eu estava pedindo ao porteiro que anunciasse minha chegada, ela saiu do elevador e disse, enquanto caminhava:

— Tudo bem, senhor Mackenzie, eu cuido disso!

Com uma cintura esbelta e uma postura confiante, Verônica passou por mim e seguiu em direção à saída. Meus olhos não puderam evitar de notar sua elegância e a forma como seu jeans realçava suas curvas. Porém, em um momento constrangedor, ela se virou rapidamente e me flagrou olhando para sua bünda.

Pørra, como eu saio dessa agora?

— O que você está olhando, seu pervertido? Perdeu alguma coisa?

Eu limpei a garganta enquanto pensava no que dizer.

— Não estou olhando nada! Você que é muito desconfiada.

— Hum… sei! — Ela me encarou de canto de olho.

Eu engoli seco e aproveitei para desviar o assunto. Afinal, vê-la indo em direção à rua me deixou confuso.

— Onde você vai? Não íamos fazer o trabalho?

— Sim, nós vamos! Mas não pense que vou te deixar subir. Vamos até a biblioteca que fica a algumas quadras daqui.

— Qual é o problema em me deixar subir? Está com medo de ficar sozinha comigo?

— Medo? Claro que não. Prefiro chamar de precaução. Nem te conheço e não vou levar um estranho para dentro de casa.

Não sei porquê, mas me senti ofendido.

— Eu não sou um estranho, sou seu colega de turma. E não vou te agarrar, se é disso que você tem medo.

Ela me olhou com desdém. Isso feriu meu ego.

— Você nem teria chance. Eu não moro sozinha.

Calei por alguns segundos, processando as palavras dela. Essa informação despertou minha curiosidade, mas decidi não perguntar diretamente sobre os pontos que eu havia ligado. Em vez disso, deixei que os pensamentos invadissem minha mente.

Agora tudo fazia sentido. Verônica, morando em um apartamento tão luxuoso, mesmo sendo bolsista na universidade… Provavelmente, ela tem um namorado que a ajuda financeiramente. Isso explica a sua conduta confiante e a forma como ela parece não se importar com a opinião dos outros. Também explica sua atitude defensiva em relação a mim.

Após concluir meus pensamentos mentalmente, eu respirei fundo, retomando a postura, e falei:

— Você tem razão. No lugar dele, eu também não aceitaria.

Ela esboçou um leve sorriso, debochado, e meneou a cabeça.

— Continue tentando, querido! Agora vamos logo, ou a biblioteca vai fechar.

— Ok, vamos! — Eu subi na moto, esperando que ela me acompanhasse, mas para a minha surpresa, ela começou caminhar na calçada. — Garota, onde você está indo?

— À biblioteca! Ou você está pensando que eu vou subir nessa moto junto com você? — Ela respondeu com um tom sarcástico.

Püta que pariu, ela é muito chata! Mas eu não vou desistir tão facilmente.

Respirei fundo, passando a mão sobre meu cabelo, e retruquei:

— Como você se aguenta, hein? — Soltei, sem tentar esconder a frustração.

Ela, que continuava andando, parou e virou para trás. Seus olhos brilhavam com um misto de ousadia e determinação.

— Olha só, eu disse que iria fazer sozinha. Se quiser ir embora, pode ir. Já disse que coloco seu nome no trabalho.

Meu orgulho se feriu ainda mais. Sua boca não havia dito, mas era com mm o se ela pensasse que eu não era capaz de ajudá-la.

Irritado, eu desci novamente da moto, travei o capacete na suspensão traseira e andei na direção dela, enquanto colocava meu boné.

— E eu já disse que quero fazer minha parte. É por ali? Então vamos.

Enquanto caminhávamos em direção à biblioteca, o perfume doce de Verônica pairava no ar, envolvendo-me em uma nuvem de fragrância irresistível. Cada vez que eu respirava fundo, o cheiro se tornava mais intenso, despertando uma sensação de prazer e fascínio. Era como se sua essência se entrelaçasse com meus pensamentos, tornando impossível ignorar sua presença marcante.

Estudar com uma garota que claramente me rejeitava era um desafio constante para o meu ego, mas, ao mesmo tempo, eu não podia negar a intensidade da minha atração por Verônica. A cada olhar, a cada palavra trocada, eu me sentia mais cativado por sua personalidade forte e seu jeito desafiador.

Chegamos ao nosso destino, um amplo prédio de dois andares. O andar de baixo é composto pela biblioteca, enquanto o andar de cima possui duas salas totalmente feitas de vidro. Uma delas é destinada à leitura e conta com sofás, poltronas e pufes para proporcionar o máximo de conforto e tranquilidade a todos que desejam desfrutar de um bom livro. A outra sala é voltada para estudos, e foi nela que entramos. Nessa sala, encontramos diversas mesas e cadeiras, além de materiais escolares e até mesmo alguns notebooks disponíveis para auxiliar nas pesquisas.

Estar ao lado dela na biblioteca, mergulhados em livros e conhecimento, era uma mistura de prazer e tormento. Enquanto nossos dedos percorriam as páginas e nossas vozes sussurravam discussões acadêmicas, eu me encontrava lutando contra a vontade de me aproximar mais, de sentir sua presença ao meu lado. A cada risada contida, a cada olhar fugaz, a tensão entre nós parecia crescer, alimentando o fogo do meu desejo proibido

Apesar de todas as dificuldades e das incertezas que permeavam nossa interação, eu não conseguia evitar a sensação de que, de alguma forma, estávamos conectados. Era como se nossos destinos estivessem entrelaçados, mesmo que ela não percebesse ou não quisesse admitir. Era estranho até para mim.

Eu fiquei responsável por fazer as pesquisas, e ela, as anotações e a capa. Quando terminou, fiquei deslumbrado com o que vi: em um sulfite na vertical, ela desenhou uma escada em 3D, e nos degraus, escreveu a ARQUITETURA com as letras sombreadas, como se estivessem descendo os degraus.

— Uau! Você é muito boa nisso! — Eu elogie, ao ver a capa pronta.

— Obrigada. — Ela respondeu, claramente envergonhada. Seu rosto corou levemente e ela desviou o olhar, tentando esconder o sorriso espontâneo que se formava em seus lábios.

Percebendo que eu tinha conseguido deixá-la constrangida — o que não é normal, pelo pouco que pude conhecê-la — eu desviei o assunto.

— Mas, enfim… vamos focar no nosso trabalho. Ainda temos muita coisa para fazer.

Verônica assentiu, parecendo aliviada. Ela pegou o seu caderno e começou a folheá-lo, procurando a página onde havíamos anotado nossas ideias iniciais.

— Certo. Vamos focar no trabalho.

As horas que passamos na biblioteca foram bem tranquilas. Na verdade, nem parecia que nosso primeiro encontro havia sido um desastre. Conseguimos manter a paz durante o tempo que passamos juntos, e confesso que o clima já estava até mais agradável.

Assim que terminamos as pesquisas, eu grampeei as páginas, enquanto ela guardava as coisas na mochila.

— Acho que vamos conseguir sobreviver durante os próximos meses. — Eu disse em tom de brincadeira.

— É, eu acho que sim. — Ela concordou.

Acho que esta foi a primeira vez que consegui arrancar um sorriso verdadeiro dela.

Caminhamos para fora da biblioteca, e já na calçada, uma ideia me ocorreu. Por alguma razão que nem eu conseguia explicar, me vi convidando Verônica para comer um hambúrguer.

— Come um hambúrguer comigo? — Perguntei, antes de conseguir controlar minha língua.

Droga!

Verônica pareceu surpresa com o convite. Ela parou por um momento, olhando para mim com uma expressão indecifrável.

— Ah, eu... eu não posso. — Ela disse, parecendo um pouco desconfortável. — Eu tenho que voltar para casa.

Eu assenti, tentando disfarçar minha decepção.

— Tudo bem, sem problemas. — Respondi, forçando um sorriso. — Talvez na próxima vez.

Ela sorriu de volta, mas era claro que o clima tinha mudado novamente. A tensão estava de volta, e eu não pude deixar de me perguntar se tinha estragado tudo com o meu convite inesperado.

Durante todo o percurso até o prédio, ficamos em silêncio, assim que chegamos, nossos olhares se encontram mais uma vez, e ficamos ali, nos encarando, sem saber o que dizer. Para quebrar o clima tenso que havia retornado, tomei uma decisão:

— Bom, eu já vou. Nos vemos amanhã na aula. — Eu disse, lhe entregando o trabalho.

Verônica apenas concordou com um aceno. Seus olhos tinham um brilho indecifrável, mas seu rosto mantinha-se neutro.

— Até amanhã! — Ela murmurou, ao pegar a pasta.

— Até amanhã! — Respondi, enquanto ajustava a presilha do capacete, então acelerei pela avenida movimentada.

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