Capítulo 4

Cadu

Ao saber que minha parceira seria a princesa estressadinha, um sorriso automático surgiu em meu rosto. Não posso negar que senti uma atração por ela desde o momento que a vi, e quanto mais tempo passarmos juntos, maiores serão as chances de conseguir o que me interessa.

Não entendo porque estou tão focado nisso, ela não é a única garota bonita da universidade e já mostrou que não vai facilitar minha vida. Mas, como diz a minha certidão de nascimento, eu sou brasileiro e não desisto fácil.

Quanto mais ela me evita, mais me atrai. É isso que não compreendo. Eu até gosto de desafios, mas nunca tive que correr atrás de ninguém e com ela não será diferente. Tenho certeza que ela está apenas se fazendo de difícil, mas no final, logo vai ceder, como todas as outras.

Durante o intervalo, vi o "certinho", também conhecido como meu irmão, se aproximando dela e de Emilly. Eles pareciam estar se divertindo, rindo sem parar. Por alguma razão, isso me incomodou.

Várias vezes notei que ela também olhava em minha direção, mas sempre desviava o olhar quando nossos olhares se cruzavam. Sua expressão facial mostrava claramente sua insatisfação ao me ver. Mas com meu irmão, ela estava toda sorridente.

Isso não deveria me incomodar tanto.

Para completar, Madison, que estava cada vez mais grudada em mim, estava começando a me cansar!

Depois que a aula acabou, voltamos para a sala e eu não consegui prestar atenção em nada. Já não gosto deste curso e agora estou tentando entender por que Verônica está agindo de forma tão diferente com meu irmão e comigo, sendo que somos do mesmo sangue. Será que está acontecendo algo entre eles? Não… não pode ser! Eles acabaram de se conhecer. Ou será que já se conheciam?

Mais uma questão para eu me preocupar! Mas vou descobrir.

Por quê?

Não sei. Mas vou.

Quando a aula terminou, todos saímos da sala. Verônica saiu primeiro e como eu precisava falar com ela, apressei o passo até alcançá-la.

Ela me olhou com desprezo, o que só aumentou meu desejo de levá-la para a cama e fazê-la se arrepender por ter me desprezado.

— O que está fazendo? — Ela perguntou, olhando para seu próprio braço e depois para mim.

Percebendo que ainda estava segurando-a, a soltei e disse amavelmente:

— Me desculpe… eu só queria saber que horas vamos fazer o trabalho. Pode ser à tarde?

Ela suspirou profundamente, revirou os olhos e respondeu:

— Pode deixar que eu faço sozinha! — Seu tom de voz estava repleto de arrogância.

Eu poderia deixá-la fazer tudo sozinha e só colher os frutos, mas não vou facilitar para ela. Posso ser bem irritante quando quero.

— Nem pensar! O trabalho é em dupla e eu quero fazer minha parte! — Falei e ela suspirou novamente, abriu a mochila e pegou uma caneta.

— Está bem, já que você insiste! — Ela pegou minha mão, empurrou a manga da minha jaqueta e começou a anotar um endereço em meu antebraço. — Te espero às dezenove e trinta. Antes disso, eu não posso.

Ela simplesmente virou as costas e saiu andando, sem me dar chance de falar nada.

Fui para o estacionamento pegar minha moto e quando ia colocar o capacete, Madison me chamou.

— Ei gato, não ia se despedir de mim?!

Eu cocei a cabeça, irritado, e me virei para ela, deixando claro meu incômodo.

— O que você quer agora, Madison?

— Nossa, não precisa falar assim comigo! — Ela se aproximou para me beijar, mas eu a impedi. — O que houve, Cadu?

Ela reclamou com a voz aguda, como uma criança birrenta quando é contrariada.

— Você já ficou tempo demais em cima de mim hoje. Eu preciso respirar!

— Aí, não fala assim… Eu estava com saudades, bebê! Ficamos quase um mês sem nos ver.

— Tá, mas agora chega, eu preciso ir.

— Ok! Nos vemos à noite?

— Não, eu tenho um compromisso.

Ela me olhou, confusa.

— A galera combinou alguma coisa? Ninguém me disse nada… — Perguntou, intrigada.

Decidi falar o real motivo de uma vez, para ver se ela parava com o interrogatório. Afinal, não tenho nada sério com ela.

— Não é nada disso. Eu tenho que fazer o trabalho do professor Elliot.

O semblante dela se fechou na hora.

— Claro… eu já entendi. Você vai se encontrar com a novata e está afim dela, por isso está me evitando. Não é isso, Cadu?!

Subi na moto sem dizer nada e sorri de lado.

— E se for?

Seu olhar ficou sombrio, mas a expressão de surpresa também estava nítida em seu rosto. Com certeza ficou indignada com minha resposta e nem mesmo eu sei por que disse aquilo, mas gargalhei por dentro ao vê-la sem reação. Como ela não se pronunciou, eu apenas liguei a moto e saí. Cheguei em casa algum tempo depois, guardei a moto na garagem e ao entrar, encontrei minha mãe na sala de estar.

— Filho, já chegou… como foi a aula? — Ela perguntou, vindo me dar um beijo, que eu retribuí.

— Mãe, você sabe que eu odeio esse curso. Para mim, todas as aulas sempre serão horríveis!

— Não fale assim, filho… tenho certeza que você vai acabar gostando.

— Duvido! — Afirmei, então ela perguntou:

— Vini não veio com você?

— Não. Eu fui com a minha moto.

Minha mãe olhou no relógio em seu pulso, e então, eu já sabia o que viria a seguir.

— Carlos Eduardo, o percurso da universidade até aqui leva quase uma hora, e fazem apenas trinta minutos que a aula terminou. Por que não foi de carro com seu irmão? Você vai acabar se matando com essa moto! — Ela me repreendeu.

Eu tentei tranquilizá-la, enquanto subia as escadas.

— Relaxa, mãe… eu sei me cuidar!

— Você acha que sabe, mas não tem a mínima noção do que é juízo! E não vire as costas enquanto eu estiver falando. — No mesmo instante, eu parei e olhei para ela. — Guarde suas coisas e não demore para descer, vou mandar servir o almoço assim que seu irmão chegar.

— Tudo bem, mãe. Posso subir agora?

Ela assentiu.

— Vá, mas não se esqueça do que eu disse.

Eu confirmei com um aceno de cabeça e segui para o meu quarto.

Entrei arremessando a mochila na poltrona, me joguei na cama e fiquei olhando para o teto, pensando em tudo o que aconteceu hoje. Fui tirado dos meus devaneios quando meu celular vibrou, indicando uma notificação. Peguei para ver do que se tratava, mas não era nada importante, apenas uma atualização recente do sistema. Então me levantei, fui até o banheiro, lavei as mãos e desci.

Todos já estavam sentados à mesa, inclusive o "senhor certinho", que eu nem vi chegar. Me acomodei ao lado de minha mãe, como de costume, e o almoço foi servido.

— Como foi o primeiro dia na universidade? — Meu pai perguntou, enquanto começava a se alimentar.

Meu irmão rapidamente se pronunciou, todo empolgado.

— Muito interessante! Aprendemos sobre desenho artístico, desenho técnico e também sobre a história da arquitetura.

— Muito bom, continue com esse entusiasmo, Vinícius! — Ele disse, limpando os lábios e em seguida olhou para mim. — E você, Cadu, o que achou?

— Um tédio!

— Tédio ou não, você vai aprender algo útil. Chega de somente querer saber de farra, bagunça e festas. Já passou da hora de aprender a ter responsabilidades.

Ouvi em silêncio, sabendo que não adiantaria reclamar. Ele já havia decidido por mim. Apesar de não ser segredo para ninguém que eu odiava tudo aquilo, eu faria apenas para agradá-lo.

— Aproveitando o momento… Maurício, converse com ele. — Minha mãe disse, se referindo a mim. — A universidade fica a mais de cinquenta e sete quilômetros daqui e ele anda rápido demais com essa moto. Eu ficaria mais tranquila se os dois fossem de carro. É mais seguro!

Meu pai terminou de engolir a comida e respondeu amavelmente:

— Querida, deixe que ele vá do que quiser, contanto que estude. — Ele bebeu um pouco de suco, e olhou novamente. — Cadu, diminua a velocidade para não preocupar sua mãe. Ok?

— Está bem, pai!

— Ótimo, agora vamos terminar a refeição.

Continuamos nos alimentando em silêncio, e assim que terminamos a sobremesa, voltei para meu quarto, coloquei os fones e deitei na cama para ouvir música.

Como eu havia dormido tarde na noite anterior, o cansaço começou a se apoderar de mim e acabei cochilando. Acordei algumas horas depois e com uma preguiça danada.

Para me despertar, decidi entrar na banheira de hidromassagem. Liguei as torneiras, adicionei bastante espuma e óleos essenciais, e entrei na água morna. Fiquei ali por um bom tempo, permitindo que a sensação relaxante me envolvesse. Quando finalmente me senti revigorado, peguei uma toalha, enrolei na cintura e fui para o closet escolher uma roupa. Ao pegar a camiseta do cabide, acabei derrubando-a no chão. Me estiquei para pegá-la, e então percebi que o tempo que passei na banheira, foi suficiente para apagar o endereço que Verônica havia anotado.

Tentei revirar minha mente em busca de qualquer fragmento da informação que pudesse ter ficado, mas nada. Parecia que a lembrança havia sido apagada junto com a espuma da banheira. Bom, na verdade foi exatamente isso que aconteceu. Frustrado, joguei a camiseta de volta no cabide e me sentei na beira da cama, perdido em pensamentos.

Será que ela vai ficar chateada comigo?

Ela vai pensar que eu não me importo com o trabalho.

Eu realmente queria fazer minha parte e mostrar a ela que posso ser um bom parceiro, mas agora, sem o endereço, como eu vou encontrá-la?

Merda! E agora, o que eu faço?

A ansiedade começou a tomar conta de mim. Eu precisava encontrar uma solução. Talvez, eu pudesse perguntar a alguém da turma se eles sabiam o endereço… ou então…

— Já sei! Como eu não pensei nisso antes?

Vesti uma bermuda às pressas e fui até o quarto do meu irmão. Ele estava tão concentrado na tela do computador que nem me viu entrar.

— Ei, cara, o que você está fazendo? — Indaguei ao me aproximar.

Ele continuou focado, sem sequer desviar o olhar.

— Adiantando o trabalho! — Respondeu, cheio de determinação. — Quero fazer uma pesquisa bem completa. Você deveria estar fazendo o mesmo, não acha?!

Senti uma onda de frustração percorrer meu corpo. Eu precisava da ajuda dele, mas ele parecia mais interessado em suas próprias tarefas.

— É sobre isso que quero falar... Estou precisando da sua ajuda.

Ele finalmente olhou para mim.

— Pode falar!

Respirei fundo, tentando controlar meu arrependimento de ter vindo até aqui.

— Preciso que me passe o contato da Verônica. Sei que você tem.

— E para quê você precisa? — Ele perguntou.

— Marcamos de fazer o trabalho à noite, e acabei perdendo o endereço que ela me passou. Agora não sei como chegar.

Ele arqueou as sobrancelhas, ainda com os olhos voltados para a tela, e disse em um tom debochado:

— Pensei que fosse pagar alguém para fazer sua parte, como sempre fez.

A raiva começou a borbulhar dentro de mim, mas eu me forcei a manter a calma. Não podia deixar que suas provocações me abalassem.

— Não, dessa vez quero contribuir. Tem algum problema com isso? — Respondi, minha voz firme.

Ele gargalhou, como se achasse engraçado o fato de eu querer me envolver mais no trabalho.

— Irmãozinho, você nem gosta deste curso! Só está fazendo porque nosso pai te obrigou. Agora quer que eu acredite nessa sua transformação repentina em um aluno exemplar?! Conta outra, vai... Qual é o seu interesse na Verônica?

Aquela hesitação só me deu a certeza de que sim, há algo entre eles. O problema é que eu não sabia o que responder, porque também não entendia meu interesse nisso.

Disfarcei e engolir seco, pensando no que responder.

— Interesse nenhum! — Eu disse. — Mas como você mesmo acabou de dizer, nosso pai me obrigou, e se eu não aprender, ele vai me matar. Agora me passa logo a pørra do número. — Desbloqueei o celular, tentando me livrar logo daquela situação.

Ele permaneceu vidrado no notebook, como se minha presença fosse completamente irrelevante.

— E o que te faz pensar que eu tenho o contato dela?

Frustração e irritação se misturaram dentro de mim. Ele sabia muito bem que tinha o contato dela. Eu o vi conversando com ela durante o intervalo.

— Ué, porque vi na hora do intervalo como vocês são “amigos”. — Enfatizei sem ao menos perceber.

Desta vez o olhar dele voltou-se para mim, juntamente com uma risada estrondosa.

— O que foi caralhø? Qual é a graça? — Perguntei, já sem paciência.

Ele continuou rindo, como se achasse minha indignação hilária.

— Nossa, não é nada! Que foi? A mocinha está na TPM?

Aquelas palavras foram o estopim para minha explosão de raiva. Meu rosto queimava e minhas mãos transpiravam e tremiam. Eu apertei os punhos para não socar a cara dele.

— Para de brincadeira e passa logo essa droga de número, Vinícius. Eu não estaria pedindo se não fosse importante.

Ele finalmente se recompôs e pegou o celular, enviando o contato pelo W******p.

— Pronto, nervosinho.

Enchi os pulmões de ar e soltei, recompondo-me para não xingá-lo. Então agradeci, com a voz carregada de sarcasmo.

— Valeu.

Me virei para sair, mas antes de fechar a porta, ele me chamou.

— Cadu…

Parei de caminhar e ainda bastante irritado, olhei para trás com o semblante fechado, esperando pela próxima piadinha que ele com certeza faria.

— Não tenho nada com ela, se é isso que te incomoda.

Naquele exato instante senti minha testa relaxar, e não sei porque, os cantos da minha boca tremeram, formando um insistente meio sorriso.

Droga!

Fiquei sem ter o que dizer e ao notar que ele estava me encarando e segurando para não rir, retomei a postura, virei as costas e voltei para o meu quarto.

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