Capítulo 3

Verônica

Eu quase infartei quando vi quem sorteou meu nome! Por que tinha que ser ele? Por que justo ele? Eu não queria acreditar que seria obrigada a formar dupla com aquele garoto insuportável e teria que conviver com ele por seis meses. Mas Elliot já havia deixado claro que não permitiria manipulações. Eu não tinha nada a fazer.

Minha insatisfação com certeza estava nítida em meu rosto, e enquanto ele seguia com o tal sorteio, eu só conseguia pensar na minha falta de sorte. Uma sala com mais de vinte alunos e justo eu sou contemplada para estudar com aquele garoto mimado. Drøga!

Emilly pareceu ter gostado de sua dupla. Ela tinha um semblante satisfeito e estava animada. Fiquei feliz por ela, afinal, ao menos uma de nós precisava ter sorte, não é mesmo?!

Com as duplas já formadas, Elliot deu sequência e já no final do segundo horário, passou um trabalho para ser entregue na próxima aula.

— Pessoal, quero que se reúnam com suas duplas e me entreguem na próxima aula, uma pesquisa mais aprofundada sobre o que aprendemos hoje. O trabalho deverá ser apresentado pela dupla, ou não vou considerar. Vale nota, então não faltem! — Ele anunciou e neste momento eu automaticamente revirei os olhos, pois já sabia o que me esperava. Emilly percebeu.

Tivemos mais uma aula e em seguida fomos para o intervalo. Emilly saiu da sala comigo e nós nos sentamos em uma mureta do jardim, ao lado do pátio central.

— Que carinha é essa, Verônica? O que está te chateando? É a sua dupla, não é?!

— Sendo bem honesta, é sim. — Confirmei sem rodeios.

Ela esboçou um breve sorriso e continuou:

— Relaxa, gata! Cadu é bem mimadinho, mas ele é legal e muito inteligente. Você vai ver! Acho que no quesito estudo, vocês vão se dar bem.

Eu sinceramente não acredito nisso, mas também não queria continuar prolongando o assunto. Afinal, eles são amigos e achei chato ficar falando mal dele. Mesmo que eu não o suportasse.

— Assim eu espero, embora duvide. — Falei sem pensar.

Ela riu

— Por enquanto esqueça isso, vamos falar de outra coisa. Fale um pouco sobre você… mora com seus pais?

— Não, eu moro com minha prima em Vale do Silício. Minha mãe ficou no Brasil e meu genitor… esse aí é sem comentários. — Ela me olhou acanhada.

— Não se dá bem com seu pai?

— É uma história um pouco complicada e na verdade eu não gostaria de falar sobre isso. Entende?

— Claro, não se preocupe e me perdoe pela indiscrição.

— Sem problemas! — Eu sorri.

Ela retribuiu da mesma forma.

— Você trabalha ou só estuda?

— Sim, eu tenho um emprego de meio período.

— Que legal! E o que você faz?

Ela mostrou estar interessada no assunto, mas quando eu ia responder, um aluno da nossa turma nos interrompeu.

— Oi Emilly, não vai me apresentar sua amiga? — Indagou aproximando-se.

Ela levantou as sobrancelhas e olhou para mim, falando baixinho:

— Pelo visto você está com sorte…

Acho que notei uma certa ironia nesta frase. Então, Emilly normalizou o tom de voz e completou:

— Claro que sim! Essa é a Verônica, minha nova amiga. Verônica, ele é o Vinícius, mas todos o chamam de Vini.

Eu sorri, e estendi a mão para cumprimentá-lo.

— Muito prazer, Vinícius!

Ele apertou minha mão e me puxou para um beijo no rosto.

— O prazer é meu!

Fiquei um pouco sem graça quando ele se afastou, pois alguns alunos estavam nos encarando, mas logo Emilly continuou o assunto.

— Deu pra notar a diferença? — Perguntou olhando para mim.

Eu fiquei toda confusa. Do que ela está falando?

Percebendo que a única maneira de saber, era perguntando, eu o fiz.

— Como assim? Não entendi.

— A diferença de personalidade. Vini é o irmão mais velho do Cadu.

Ao ouvir aquilo, meus olhos foram parar na nuca — sim, é um costume meu — e só me dei conta do que havia feito, quando os dois começaram a gargalhar.

— O que foi que eu perdi? — Vinícius interrogou, tentando controlar o riso.

Emilly só conseguiu explicar, depois que se recompôs.

— É que o primeiro encontro dos dois não foi muito agradável. — Ela falou. Em seguida olhou para mim. — Verônica, os dois são completamente diferentes. Vini tem a maturidade que falta no irmão. Mas apesar desse jeitinho marrento do Cadu, ele é do bem e você vai comprovar isso. Afinal, ele é sua dupla, né?!

— Por favor, não me lembre disso! — Novamente falei sem pensar e acabei rindo com eles.

Ficamos conversando e para falar a verdade, gostei do Vini. Ele é muito comunicativo e deixou claro sua paixão pela arquitetura, quando nos contou o porquê só ingressou na universidade agora, com vinte e um anos, já que sempre soube o que queria estudar. O motivo é que ele optou por fazer um curso de Técnico em Edificações após o colégio, e a duração do mesmo é de um ano e seis meses. Vinícius também nos explicou que muitas pessoas acreditam que este é um curso para quem deseja fazer engenharia, mas a verdade é que também é excelente para quem pretende se tornar um arquiteto renomado. Ele mostrou ser um rapaz muito centrado, que sabe o que quer para a vida e o futuro, exatamente como Emilly havia dito. Bem diferente daquele imbecil do irmão dele. Aquele garoto se acha.

Desde que nos sentamos ali, o tal Cadu não desviou a atenção de nós. Ele estava parado um pouco mais adiante, junto com aquela outra sem noção, que mais parecia um chaveiro, pendurada no pescoço dele.

Como eles podem ser tão ridículos?!

— Verônica, está tudo bem? — Emilly me chamou, estalando os dedos em minha frente, na tentativa de chamar minha atenção.

Eu bloqueei meus pensamentos e olhei para ela assentindo.

— Sim, está!

— Tem certeza? Você parece incomodada de novo.

— É, eu estou.

— Por quê? O que aconteceu agora? — Ela perguntou.

Eu não queria revelar o real motivo na frente do irmão dele, mas não consegui controlar a língua e falei no impulso:

— Aquele insuportável não parou de nos encarar durante todo o intervalo. Que garoto chato!

Vini me olhou abruptamente no instante em que acabei de desabafar, e quando percebi que havia acabado de xingar o irmão dele em sua frente, já era tarde demais. Pensei que ele fosse me repreender, pedir que eu tivesse mais respeito ou algo assim, mas para minha surpresa, a observação dele foi diferente do que eu imaginava.

— Mas se você viu que ele estava olhando o tempo todo, é porque você também estava.

Os dois me encararam e era nítido que ambos aguardavam ansiosos por um pronunciamento meu, mas graças a Deus o sinal tocou e eu me levantei rapidamente, pois não sabia o que dizer.

— Vamos para a aula logo? Não quero me atrasar. — Caminhei sem olhar para trás e só percebi que eles me acompanharam, quando chegamos na sala.

Passei o resto do período olhando para a lousa. Não queria correr o risco de desviar o olhar e topar com o garanhão de Stanford me encarando de novo. Ele é muito desagradável, e eu ainda não me conformei com essa péssima obra do destino.

Tivemos mais três aulas e quando a última se encerrou, guardamos as coisas e saímos da sala. Emilly, Vini e eu trocamos contato, nos despedimos e então, eu segui caminhando entre os alunos, indo em direção à saída. Quando estava quase chegando no portão, senti alguém segurando meu braço. Olhei para trás e dei de cara com aquele garoto insuportável.

— Verônica, espera!

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