Cap. 75

Lúcios piscou, engolindo o nó na garganta. Aquela frase parecia ter atravessado seu escudo de raiva. O olhar dele vacilou. Pela primeira vez, ele parecia… humano, com a surpresa da revelação.

— Até quando você ia esconder isso? Esse tempo todo você estava brincando comigo? — ele perguntou, sem reação, mas Ângela não queria falar daquilo agora.

Ângela se ajoelhou diante dele. Com cuidado, apoiou os braços sobre as pernas dele, erguendo os olhos até encontrar os dele.

Ela não chorava. Não mais. O que havia no rosto dela era pura súplica, o desejo de entender o que tinha nesse passado que ela esqueceu.

— Por favor, Lúcios… me conta. Me conta o que aconteceu naquele dia.

Ele desviou o olhar e respirou fundo. Passou a mão pelo rosto, como se buscasse forças para desenterrar algo que preferia manter enterrado. Por longos segundos, não disse nada, ainda digerindo o fato de que ela estava ali com todas as suas memórias — ou quase.

E então, com a voz baixa, firme, mas carregada de uma