TRÊS

Melinda

Faz cinco meses que estou trabalhando no restaurante, nunca estive tão feliz. Estou realizada. Essa semana não estamos trabalhando. A senhora Raíssa está fazendo uma pequena reforma, porém quando voltar ela fará uma festa de inauguração de novo. Ela percebeu que os ricos gostam de ser convidados para esse tipo de coisa.

Com o dinheiro que venho recebendo do restaurante, pude fazer um exame para fazer um cursinho na área de contabilidade. Isso foi há dois meses, ou seja, estou a três meses estudando. Ainda não é uma faculdade, mas ainda chego lá. O dinheiro está dando para me manter, ainda sobra uma merreca, guardo para emergências futuras.

Olho no relógio e vejo que já são 05h00, o que quer dizer que está na hora da minha corrida matinal. Faço meus alongamentos de leve para não me machucar. Olha gosto de correr e muito, não corro para emagrecer, corro por minha saúde, e para  ter mais disposição no meu dia a dia. Começo com um trote leve, nada exagerado, depois de dois minutos aumento a velocidade. Estou tão focada na minha corrida que sinto algo estranho. Os cabelos da minha nuca se arrepiaram, experienciei uma sensação boa, de estar sendo observada. Parei por alguns segundos e olhei para todos os lados. Meus olhos pararam em um homem no carro. Ele disfarçava, no entanto, vi quando olhou para mim, e logo em seguida mexeu a boca como se tivesse falando com alguém.

— Deus, que não seja ele, não aquele maldito! — Pedi, quer dizer, implorei. Lágrimas grossas já mancharam minha face. Não consigo nem raciocinar. Escolho voltar para casa, minha corrida acabou, tudo que construí se foi. Aumentei minhas passadas, tudo foi muito rápido, um  minuto estava correndo e no outro bato em uma parede de concreto que me derrubou no chão. Vejo uma voz ao longe, mas não consigo compreender. Sugo o ar para os meus pulmões, pois até isso foi tirado de mim quando cai. Quando me recupero ainda no chão, olho para cima. Vejo um homem lindo olhando-me sem nenhuma paciência. Sentir o cheiro do seu perfume, e pela fragrância é o homem que passou por mim naquele dia. Não é fácil esquecer esse cheiro. 

— Você está surda, porra? — Perguntou. Nossa, a sua voz é magnífica. Espere aí, ele me chamou de surda? Levantei correndo encarando aquela muralha de músculos.

— Não olhar para onde anda? — Questionou grosseiramente. Mas é um grosso viu. O que tem de bonito, tem o triplo da arrogância.

— Você me derrubou, então deveria pelo menos me pedir desculpas!  — Rebati contrariada. Devido à raiva, nem percebi falar português com o troglodita, vim perceber depois. Deus ele olhou-me como se fosse me matar. Dei alguns passos para trás como se isso fosse me proteger dele.

— Eu não peço desculpas, caralho! — Proferiu também em português, com um sotaque delicioso. Puta merda!

— Percebe-se endiabrado! — Falei baixinho, porém o homem escutou. Santo Deus, estou cavando minha própria cova.

— O que você disse?

— Foi o que você ouviu, mal-educado de merda. —  Informei. Se é para morrer, não  será sendo uma covarde. Nunca fui de insultar estranhos. O que está acontecendo comigo?

O homem desconhecido chegou tão perto de mim que faltaram poucos centímetros para seus lábios encostarem no meu. Por instinto passei a língua nos meus lábios, chamando sua atenção para eles, quando voltou a olhar para meus olhos, vi algo familiar. Ódio! Engoli seco me preparando para ser agredida, afinal já estou acostumada com isso.

— Você vai se arrepender de tudo que disse, sua vadia! — Preveniu. Escondi o medo com sarcasmo.

— Como quiser! Agora saia do meu espaço, seu arrogante. Nem vou lhe dizer quem é vadia. Filho de satanás!

— O quê?

— Moço não repetirei, falo apenas uma vez. Sabe de uma, tenho mais o que fazer. — Anunciei voltando a correr. Voltei a olhar para trás e o vi no mesmo lugar, porém falava ao telefone. Sua raiva era latente, no entanto, estava lá. Posso ver.

— Meu Deus, espero nunca mais ver esse homem na minha vida.

Com a trombada com aquele rude, filho do capeta, acabei esquecendo do homem no carro. Senhor, não deixes aquele desprezível me encontrar, pois algo me diz que dessa vez não sairei viva. Ainda sinto dor pela trombada, pois foi violenta.  Foi como se tivesse batido em uma parede de concreto. O que custava ele pedir desculpas? 

Aproveitei minhas folgas e limpei a casa, lavei minhas roupas e cuidei de mim, claro. Minha juba merecia isso sem dúvidas. Olho meu telefone que coitadinho já está caindo aos pedaços, a tela está toda rachada. Há duas chamadas perdidas da Nat. Quando resolvo retornar, ele toca de novo, porém é Lara. Atendo no terceiro toque.

— Oi, Larinha! 

— “Oi, Melzita! O que está fazendo?” — Sondou. Imagino até o que se trata. Com certeza ela quer sair Conheço a minha amiga. Sempre que deseja algo começa assim, sondando. Pelo menos é assim comigo. Deve ser porque eu sempre digo não.

— Nesse exato momento estou descansando. Tirei o dia para limpar a casa.

— “Há, nem vem Mel, hoje nós sairemos!”

— Estou só o trapo mulher… Eu não… — Tentei negar, mas acho que dessa vez não tenho escapatória. 

— “Não aceito um não como resposta.” — sorriu vitoriosa — “Nos encontramos em frente à boate Kaos.”

— Essa boate é caríssima! — Falo em um tom preocupado. Não posso gastar meu dinheiro com algo tão supérfluo, pelo menos não por agora.

— “Nat tem um amigo que trabalha na segurança, ele vai nos liberar.” —  Explicou não me dando outra opção.

— Que horas, sua insistente?

— “Eeeeeeee!” —  celebrou — “Às 21h00min nos encontramos na porta da boate!”

— Até mais tarde! Beijos!

— “Beijos gata” —  Desligou, ainda comemorando. Joguei-me no sofá disposta a tirar um longo cochilo. Faltam quatro horas para o horário que preciso sair, tenho tempo de sobra.

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