71. O SEGREDO DE HENRIQUE

No dia seguinte, o sol se infiltrava timidamente pelas cortinas da casa de Dona Lena, tingindo a manhã de tons dourados. O café recém-passado perfumava o ar, e as crianças corriam pela varanda, rindo alto, enquanto Isabela colocava as xícaras na mesa.

Henrique a observava, encostado no batente da porta, com um sorriso sereno — aquele tipo de sorriso que nascia da admiração simples e silenciosa.

— Você parece cada vez mais em casa aqui — comentou ele, cruzando os braços, ainda com o paletó pendendo de um ombro.

Isabela olhou por sobre o ombro, sorrindo de leve.

— Acho que sim. Dona Lena me trata como uma filha... e as crianças amam esse lugar. — Ela ajeitou uma mecha do cabelo atrás da orelha, gesto que Henrique já havia decorado. — Acho que eles nunca foram tão felizes.

Henrique se aproximou e pegou uma das xícaras.

— E você? — perguntou, com a voz baixa, estudando seu rosto. — Está feliz, Isa?

Ela hesitou.

— Acho que sim... — respondeu, sincera, mas cautelosa. — Só me sinto assustada
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