OBSESSÃO: ATÉ ONDE VOCÊ IRIA POR ALGUÉM?
OBSESSÃO: ATÉ ONDE VOCÊ IRIA POR ALGUÉM?
Por: Caroline Vargas
CAPÍTULO 1 - O ENCONTRO ÀS CEGAS

POV: HANNAH SIMMONS

Eu jurei que não me colocaria mais em situações como essa.

Se alguém me dissesse que eu estaria correndo, sob uma chuva fria de março, para um encontro às cegas que claramente eu não pedi, eu diria que essa pessoa certamente me odiava. Mas cá estou eu, Hannah Simmons, atrasada exatamente... trinta e quatro minutos. Saindo de um taxi, tentando não ficar completamente enxarcada pela chuva e tropeçando com elegância em saltos que eu usei pela última vez num enterro. E adivinha só? Acho que ainda preferiria o enterro.

Claire vai me matar se eu for embora? – Eu jurei tentar. Uma noite. Um vinho. Uma conversa. Depois, o universo pode seguir girando e eu posso voltar a odiar todo tipo de romance inventado para mulheres como eu.

Mas é tão difícil acreditar que eu realmente estou fazendo isso. Absolutamente tudo nessa história parece ridiculamente deslocado da realidade. O hotel parece saído de um filme da máfia. Brilhoso demais. Sofisticado demais. Pessoas demais, sorrindo com taças demais. Tudo exageradamente exuberante para mim, que se pudesse, estaria de pijama e pantufas, tomando um bom vinho na companhia – ora quem diria? – dos meus livros!

O restaurante é pior: perfume de trufas, toalhas de linho e uma luz romântica demais para uma mulher que não planejava estar aqui. E só quer terminar esse jantar em silêncio.

A mesa está logo ali. Um homem sozinho. Alto. Ombros largos. Jaqueta escura pendurada na cadeira. E uma aura de tédio tão profunda quanto a minha!

– Só pode mesmo ser ele! – Ok, vamos acabar com isso.

Ele parece bastante relaxado, lendo, distante de tudo e sem dar a mínima pra qualquer pessoa ao redor. Sequer me percebe aproximar. Com isso tenho bastante tempo de dar uma boa olhada ao redor e é surpreendente o quanto ele se destaca no ambiente. Ele é um homem que, mesmo sentado, tem uma postura bem imponente. Imagino que tenha cerca de 1,86m de estatura. Os cabelos tem um tom castanho claro, perfeitamente cortado nas laterais e levemente bagunçados no topo. A barba rente ao rosto tem aquele charme desalinhado-controlado. Mesmo vestido é possível observar seus ombros largos e a musculatura dos braços bem marcadas. Pelo menos posso dizer que, dessa vez, Claire teve um bom gosto!

– Desculpa o atraso… você é o Daniel, certo? – Pergunto já me sentando para garantir que não vou sair daqui correndo. – Sou a Hannah. Hannah Simmons, amiga da Claire. Me desculpa pelo atraso.

– Depende. Não sei se estou esperando há tanto tempo! – Perguntou e eu não pude ignorar o meio sorriso que se formou em seu rosto. Eu preciso admitir, ele é ainda mais impressionante pessoalmente.

– Honestamente, não sabia nem como começar essa conversa. Acho que estou um pouco enferrujada. – Porque eu disso isso? Pelo amor de Deus Hannah, se controla.

– Então vamos fingir que isso aqui é fácil. Começamos pelo vinho? – disse ele enquanto abre um sorriso largo e me entrega o cardápio.

Escolhemos o vinho, fizemos o pedido e não demora muito para tudo chegar.

Ele parece tão relaxado. Como consegue?

Seus braços estão agora levemente encostados na mesa, seus olhos fixos em mim, como os de um predador tentando encontrar a oportunidade certa de atacar sua presa, seus olhos tem um tom de verde-musgo e são extremamente intensos, sombrios e expressivos. Mas não me dão nenhuma pista do que ele está pensando.

— Então… Hannah com H mudo no fim ou com o H barulhento?

— H barulhento. Mas não me importaria se sumisse. – Ergo a taça tentando descontrair — O nome sempre soa mais sério do que eu.

— E o que você diria que você é?

— Alguém que prometeu não fazer mais encontros como esse. Mas… estou considerando reconsiderar. Quem sabe? – Respondo e bebo um gole do vinho sentindo o rubor no meu rosto aumentar.

— Boa! Eu também nunca imaginei que estaria em um encontro às cegas. Mas às vezes… a vida nos surpreende com boas razões para fazer o que não queremos.

Não acredito que vou dizer isso, mas não tem como não gostar de ouvir algo assim vindo de um homem tão atraente. De qualquer forma, tento disfarçar um sorriso escondido atrás da taça pronta para o próximo gole do vinho e um pequeno silêncio confortável se instala por alguns minutos enquanto comemos.

— Não sabia exatamente o que esperar dessa noite, estava bastante tensa para dizer a verdade. – Admito já sentindo que a sinceridade foi motivada muito mais pelo vinho do que pela minha própria vontade – Mas que bom que aceitei vir aqui hoje!

— Admito que essa noite também não está sendo nada do eu esperava. Eu venho aqui sempre que quero ficar sozinho, mas depois de hoje, acredito que esse restaurante vai ter um novo significado pra mim.

Ele me olha fixamente e de repente parece que o tempo para ao nosso redor.

— E o que você faz da vida, além de ir a encontros em restaurantes? – me arrependo no minuto que as palavras deixam minha boca, mas ele me entrega um sorriso, com um ar levemente enigmático.

— Administro algumas empresas. E evito responder perguntas diretas. Mas posso dizer que meu trabalho me consome mais do que deveria. E você?

— Engenharia da computação. Segurança de dados. – falo e percebo um olhar surpreso – Trabalho invisível, mas essencial. Tipo colete à prova de balas. Se você vê, é porque já deu ruim.

— Isso foi... poético. E prático. – Novamente ele me lança aquele olhar de predador e sinto que ele está analisando cada pedacinho da minha alma e então, pra minha surpresa, ele completa –Você parece alguém que gosta de ver antes de confiar.

— E você parece alguém que observa demais!

— Profissão de risco.

Mal percebo e já terminamos uma garrafa inteira de vinho! Sinto minha mente rodar, meu corpo aquecer e por alguns minutos me sinto relaxar. Então percebo que essa noite não está nada sob meu controle. Me pego girando o anel no dedo — um gesto que só faço quando estou tentando decidir se fujo... ou fico.

Em pouco tempo de conversa e já sinto que não preciso me proteger, me defender ou me esconder.

Como isso está acontecendo tão rápido?

A última vez que confiei assim, acordei com meu mundo de cabeça para baixo. E ainda estou tentando juntar os pedaços.

Algumas horas atrás eu estava jurando que nunca mais daria espaço para um desconhecido, e agora… estou me esquecendo de me proteger.

Será o vinho? Será o jeito como ele me olha, como se me enxergasse além do que mostro? Ou será que uma parte de mim está desesperadamente querendo confiar em alguém de novo — mesmo que seja só por uma noite?

Mas isso é perigoso. Eu sei que é perigoso. E ainda assim... estou aqui.

Preciso parar de beber, agora!

Como se ouvisse meus pensamentos e determinada a me contrariar, a mulher que nos atendeu durante todo o jantar se aproxima com uma nova garrafa e se direciona ao meu companheiro o chamando pelo nome pela primeira vez.

— O Senhor deseja mais uma garrafa do vinho, Sr Nicholas?

A mão dele apertou o copo com tanta força que ouvi o gelo estalar.

Seus olhos não desviaram dos meus, mas algo neles... afundou. Como se ele também soubesse que o encanto tinha acabado.

Ele assente e em questão de segundos sinto a sobriedade voltar a minha mente. Eu ouvi corretamente? Do que ela o chamou? — Nicholas? — Pergunto em voz alta, completamente confusa.

— Hannah, preciso dizer uma coisa – Ele diz, sério e calmo, completamente oposto ao meu coração que, nesse momento, sinto subir pela minha garganta e querer sair pela boca. – Meu nome é Nicholas Blackwell e eu... bem... eu estava jantando sozinho. Você sentou na minha mesa e eu decidi não te impedir.

De tudo que eu esperava desse jantar, certamente isso não estava na lista!

Após alguns segundos em silêncio, tentando organizar uma linha lógica de pensamentos na minha cabeça, abro a boca para dizer alguma coisa sobre tudo o que aconteceu e a única coisa que consigo organizar e permitir sair é: Você tá brincando comigo, né?

— Não. E sei que foi errado. Mas… eu só queria ver até onde essa conversa podia ir. Você parecia desconfortável com a possibilidade do seu encontro, mas ao mesmo tempo incrível demais pra deixar passar.

— Incrível? E enganar uma mulher na primeira conversa te parece um bom começo?

Sinceramente eu acho que depois disso ele até tentou falar alguma coisa, mas a essa altura já não conseguia ouvir absolutamente nada do que saía da boca desse homem e a única coisa que podia fazer era acabar com isso — De falsos e mentirosos, já tive o suficiente na minha vida. Obrigada pelo jantar. – Me levantei e saí o mais rápido que consegui, tentando manter o pouco controle que me restava para sair daquele lugar.

Por sorte, encontro um táxi deixando um passageiro na porta do Hotel e mal espero ele sair para embarcar. Um nó na garganta toma conta de mim, sinto minha cabeça girar, incerta se foi pelas várias taças de vinho ou se é simplesmente o meu cérebro tentando repassar tudo o que acabou de acontecer pra tentar me convencer de que nada disso foi real.

Mas basta eu vacilar por 1 segundo e olhar para trás e ver ele, meu maldito mentiroso, atravessando as portas do hotel levemente ofegante, olhando em volta perdido, sem perceber que eu já estava virando a esquina no taxi.

Seu rosto não combinava com a calma que ele sustentou durante o jantar.

Ele parecia... confuso. Perdido. O olhar varrendo ao redor como se temesse ter sonhado a noite inteira e agora procurasse vestígios de que eu estive mesmo ali.

A chuva molhava os cabelos dele, pingava no colarinho da camisa aberta e escorria pelo maxilar marcado que até minutos atrás estava me fazendo sorrir à toa. Agora, tudo que eu via era mentira.

E mesmo assim… por um mísero segundo… eu quis que ele me encontrasse.

Mas ele não viu. E isso foi melhor assim.

Ainda não consigo acreditar que novamente eu me afundei em mentiras e que, por alguns minutos, me permiti relaxar ao lado desse homem.

— Cretino! — Solto em voz baixa junto com o ar que estava preso no meu peito desde o momento em que ouvi o nome dele, sem nem perceber.

DOIS DIAS DEPOIS DO JANTAR

Se passaram dois dias desde o meu encontro desastroso com mais um canalha mentiroso. Dois dias completamente alheia ao mundo, desconectada de mim! Já se passaram metade de um dia e eu ainda não consegui nem sair da cama, deitada aqui num domingo cinzente, vendo a chuva bater na janela do meu quarto enquanto eu tento encontrar um motivo para esquecer o que aquele homem me fez sentir.

Eis que meu telefone toca, pela milésima vez. Claire! Ela tem me ligado o final de semana inteiro querendo saber o que aconteceu e eu ainda não tive coragem de responder a ela.

— Humm! – atendo ao telefone num gemido, como quem não queria falar ao telefone, mas não teve a opção.

— Querida, você está bem? Estava pronta pra registrar seu desaparecimento na delegacia.

— Quem dera eu tivesse desaparecido realmente!

— Você não apareceu no encontro e depois sumiu! Daniel me mandou mensagem achando que você morreu. O que houve?

Suspiro fundo encontrando formas de dizer o absurdo que passei sem parecer ridícula e patética.

— Encontrei o homem errado. Literalmente. Me sentei com o cara errado e mesmo assim… tive uma das noites mais agradáveis da minha vida.

— E...?

— E ele me deixou acreditar que era o cara certo – e como eu queria que fosse! – Mas eu já tive mentiras demais na minha vida pra dar risada disso de novo.

— Amiga, você sabe que nada do que você está dizendo faz sentido, né?

— Eu sei, mas nada faz sentido Claire! Ele era lindo, engraçado, inteligente. Pela primeira vez me senti segura para abaixar a guarda. Conversamos e em pouco ele me deixou tão curiosa para conhecer aquele homem! Por que ele não disse que não era o Daniel?

— Espera! Agora eu fiquei ainda mais confusa. Do que você está falando?

— Eu achei que era o Daniel, me sentei, nós pedimos vinho, conversamos, tivemos um jantar incrível, para no fim o “DANIEL” ser na verdade o “NICHOLAS”.

Claire permanece em silêncio por alguns segundos antes de dar uma gargalhada da minha história e me fazer sentir completamente patética.

— Claro! Que bom que está se divertindo! Mas você sabe tudo pelo o que passei. Ele poderia despertar um mundo dentro de mim, mas jamais permitir outro mentiroso de fazer parte da minha vida.

— Desculpa amiga, mas você tem noção que acabou de me contar a trama de uma comédia romântica e quer que eu leve a sério? – Ela disse e eu não pude deixar de achar graça, mesmo com a minha vida parecendo muito mais um conto de manicômio.

E foi aí que ela me trouxe de volta, me arrasando com a verdade — Eu sei que você se fechou, Hannah. E você tem todo o direito. Mas... às vezes a vida erra o timing, mas acerta a pessoa.

— Esse é o problema. Eu realmente gostei dele! – as palavras saem da minha boca contra minha vontade e sinto que parece que estou enlouquecendo. – Como posso ter me interessado por alguém que nem conheço?

— Essa é a graça dos encontros às cegas! Pelo menos agora você sabe que está pronta para conhecer alguém.

— Na verdade isso só me mostrou que eu NÃO ESTOU PRONTA para conhecer ninguém! – digo e sinto Claire bufar do outro lado – Vou focar em terminar de embalar minhas coisas porque me mudo na próxima semana e ainda nem comecei empacotar nada.

Quando recebi a proposta de Londres, parecia mais fácil voar quilômetros de distância e simplesmente deixar os fantasmas que me amedrontavam pra trás.

— Está certa! Emprego novo e cidade nova... novo começo!

POV: NICHOLAS BLACKWELL – O ENCONTRO ÀS CEGAS

Algumas noites eram feitas para o silêncio. E para mim, poucas coisas eram mais valiosas do que o silêncio escolhido na tranquilidade de um restaurante onde eu sei que ninguém ousaria me interromper. A menos que queira perder o emprego.

La Perle Noire passou a pertencer a minha família depois que o antigo dono do Hotel Bellevue, em que ele funciona, perdeu tudo em dívidas de jogo para o meu avô. O conveniente foi que o Hotel foi passado ao meu avô depois do suicídio dele com uma carta dizendo falando sobre a dívida e como os bens dele deveriam ser usados para quitar a dívida.

Apesar de sinistra, essa com certeza não é a pior história que minha família guarda na gaveta. De todo modo, frequento esse restaurante desde criança e definitivamente todos aqui me conhecem bem o bastante para entender que não devem se aproximar a menos que eu permita.

E tudo que eu precisava nesse momento era de um bom vinho, alguns relatórios e o silêncio, até que ela sentou à minha frente.

Molhada da chuva, visivelmente incomodada com os sapatos ridiculamente altos, num vestido ridiculamente justo marcando cada curva do seu corpo perfeitamente proporcional, cabelos negros e grandes olhos dos quais certamente nunca vou esquecer. Tudo nela parecia gritar que ela não estava certa se deveria estar ali. Mas mesmo assim… ali estava ela, bem na minha frente, como um sonho materializado.

Ela chegou sem eu perceber e entrou como quem não quer ficar, ainda assim ocupou todo o espaço ao meu redor, como se o ar entrasse pela primeira vez no ambiente.

— Desculpa o atraso… você é o Daniel, certo? Sou a Hannah, amiga da Claire. Me desculpa pelo atraso.

A voz dela foi como uma faísca. Firme e hesitante ao mesmo tempo.

Eu sei que deveria ter dito que ela estava na mesa errada. Mas não disse.

Por quê?

Porque algo no jeito como ela parecia incomodada e impaciente, como desviava o olhar, como parecia implodir por dentro... tudo naquela mulher me prendeu.

Hannah! Ela claramente não queria estar ali.

Tentei olhar só para o vestido apertado, para o salto, para a curva dos lábios. Mas era impossível. O que me prendia era a tensão nos ombros, o jeito como ela parecia odiar estar ali — e ainda assim não ia embora.

E, pela primeira vez em muito tempo, eu senti vontade de ficar, não só no silêncio, mas mergulhado no âmbar de seus olhos.

Ela falou sobre estar “enferrujada”. Riu de si mesma. Tentou soar despretensiosa, mas cada palavra dela carregava uma história não contada.

Cada gesto parecia dizer: “eu já me machuquei mais do que devia”.

E, talvez, por egoísmo…

Talvez por necessidade…

Talvez só por curiosidade…

Eu decidi fingir que também estava ali por ela. Eu estava ali pra ela!

Ela me analisava. Sei disso porque já fui analisado por muita gente. Mas diferente dos investidores, dos jornalistas, dos inimigos políticos do meu avô… ela me observava com um tipo raro de atenção. Como se não se importasse com meu nome, mas quisesse algo mais e eu deixei.

O tempo foi desaparecendo.

Ela me fez rir. E mais do que isso: me fez baixar a guarda com um simples olhar. Como, depois de tanto tempo, alguém consegue fazer isso com tão pouco?

Hannah! A mulher do nome com “H barulhento”. A mulher que odiava encontros, mas sabia rir de si mesma. A mulher que carregava tristeza nos olhos e fogo na voz!

Ela me disse que trabalhava com segurança de dados.

Eu disse que evitava perguntas diretas.

A verdade é que, naquele momento, ela poderia me perguntar qualquer coisa e que eu responderia. O desejo de saber mais sobre essa mulher, de descobrir todos os segredos que esses olhos escondem. Estou completamente perdido! Daria a ela qualquer coisa que me pedisse.

Mas preferi me manter distante. Não por jogo, mas porque eu sabia que, se ela soubesse... quem eu era… o que significava ela estar ali... talvez fosse embora.

E eu não queria que ela fosse embora.

Mas então, claro, a realidade entrou em cena. A mesma atendente que me servia todos os dias. – Claro que ela não resistiria em me chamar pelo nome. Tudo desabou ali, bem na minha frente e o ar ficou frio e pesado.

Hannah congelou.

A transformação no rosto dela foi imediata: da leveza para a confusão, da confusão para a raiva. E eu, idiota, ainda tentei consertar com palavras que não seriam suficientes nem em mil jantares.

— Nicholas? — ela disse, como se o nome fosse uma faca afiada no seu peito.

Eu confessei. Sem floreios. Ela merecia ao menos isso.

Mas quando a vi levantar e sair — sem hesitar, sem olhar para trás, sem considerar nada — por algum motivo estranho aquilo me atingiu como um soco no estômago

Eu já menti muitas vezes na vida. Por contratos, por negócios, por conveniência. Mas nenhuma delas me deixou com essa maldita sensação de que destruí algo que nem tive tempo de construir.

Mal tive tempo de pensar, apenas corri atrás dela que a essa altura já desaparecera pelo saguão do hotel. Corri mais por instinto do que por lógica, porque por lógica, eu não deveria permitir que ela se aproximasse e eu não deveria querer ela na minha vida.

Por um segundo, achei que ela ainda pudesse estar ali. Que eu poderia chamá-la. Mas tudo que encontrei foi o cheiro do perfume dela se dissipando no ar gelado. E o som do silêncio... que, pela primeira vez, parecia hostil.

Ainda assim, quando atravessei as portas do hotel, na expectativa de alcança-la, mas tudo que encontrei foi uma rua molhada e fria, um taxi virando a esquina e o vazio que ela deixou.

A única mulher que me fez esquecer quem eu era e todo peso do meu sobrenome…

Tinha ido embora sem saber quem eu realmente era. E talvez fosse melhor assim.

Talvez.

O problema é que desde que ela saiu… e eu fiquei ali. Um homem com tudo. Sem ela.

O lugar que sempre me deu paz agora só me lembrava dela — molhada, furiosa, encantadora.

Nada mais estava silencioso dentro de mim.

Sigue leyendo este libro gratis
Escanea el código para descargar la APP
capítulo anteriorcapítulo siguiente
Explora y lee buenas novelas sin costo
Miles de novelas gratis en BueNovela. ¡Descarga y lee en cualquier momento!
Lee libros gratis en la app
Escanea el código para leer en la APP