Ao chegarem, Larissa se apressou para o banheiro, precisando desesperadamente da água quente para aliviar a tensão em seus músculos. Enquanto a água escorria por seu corpo, fechou os olhos e tentou apagar as imagens que insistiam em assombrá-la. Mas não importava o quanto tentasse, aquele olhar — aquele olhar intenso e desconhecido — continuava cravado em sua mente.
Depois de um longo banho, finalmente desligou o chuveiro e se enrolou na toalha, sentindo um leve calafrio ao sair do banheiro. Antes que pudesse dar mais do que dois passos, ouviu a voz doce e curiosa da mãe ecoando pelo quarto.
— Larissa, querida, ainda vamos sair?
A jovem respirou fundo antes de abrir a porta, recompondo-se rapidamente. Já vestida, forçou um sorriso para a mãe, que a observava com expectativa.
— Claro, mamãe — respondeu, tentando parecer animada. — Eu prometi ao Gustavo frutos-do-mar, não posso voltar atrás agora.
O rosto da mãe se iluminou com um sorriso genuíno, carregado de uma felicidade rara que aqueceu o coração de Larissa, mesmo que por um instante. Ela retribuiu o sorriso, tentando se agarrar àquele pequeno momento de alegria.
Mas, no fundo, sabia que a tranquilidade daquela noite era apenas uma ilusão passageira.
A noite caía suavemente sobre a cidade litorânea, e a brisa salgada do mar misturava-se ao aroma convidativo das comidas servidas nos restaurantes à beira da orla. O céu, pontilhado de estrelas, refletia-se nas águas tranquilas, enquanto o som das ondas quebrando na areia se misturava ao burburinho das pessoas que passeavam por ali.
Larissa caminhava ao lado da mãe e de Gustavo, sentindo o calor ameno da noite envolver sua pele. O jantar tinha sido agradável. Depois do susto que passaram naquela tarde, tudo o que ela queria era um momento de normalidade, longe da tensão que ainda pesava em seu peito.
— O que acham de uma sobremesa? — perguntou Larissa, com um sorriso gentil.
Gustavo pulou de empolgação.
— Sorvete! Quero sorvete!
Larissa sorriu, balançando a cabeça diante da animação do irmão.
— Sorvete, então.
Atravessaram a rua e caminharam em direção a uma barraca charmosa, iluminada por pequenas luzes penduradas no toldo. O cheiro doce de casquinhas frescas e chocolate derretido pairava no ar.
Mas assim que se aproximaram, Larissa sentiu o coração dar um leve sobressalto.
Ali, encostado no balcão da barraca, segurando um sorvete de baunilha, estava o homem que horas antes havia salvado Gustavo.
Ele parecia distraído, observando a rua à sua frente, sem notar a aproximação deles. A luz amarelada da barraca realçava seus traços firmes, os cabelos castanhos levemente desalinhados pela brisa noturna. Seus olhos cor de mel — intensos, profundos como a solidão da noite — pareciam perdidos em algum pensamento distante.
Antes que Larissa pudesse reagir, Gustavo correu à frente, com sua alegria natural.
— Oi, moço! — ele exclamou, com um sorriso de orelha a orelha.
O homem piscou, saindo de seu devaneio. Olhou para baixo e viu o menino, e um pequeno sorriso — discreto, quase imperceptível — curvou seus lábios.
— Oi, garoto.
Ele se virou para Larissa e sua mãe, fazendo um leve aceno de cabeça.
— Boa noite.
A mãe de Larissa retribuiu o cumprimento com um sorriso educado.
— Boa noite.
Larissa, no entanto, permaneceu em silêncio por um instante. Seus olhos fixaram-se nele, analisando-o mais de perto agora que não estavam em meio ao caos do mar.
Era um homem bonito. Não de uma beleza óbvia, mas de um jeito enigmático que despertava curiosidade. Seu rosto era marcado por expressões sutis, difíceis de decifrar. Havia algo nele — uma certa reserva, uma aura de mistério — que a fez prender a respiração por um instante.
E então, como se sentisse seu olhar sobre ele, o homem virou ligeiramente a cabeça e a encarou.
Larissa engoliu em seco.
O silêncio entre os dois durou apenas um segundo, mas foi o suficiente para fazê-la perceber que não sabia nada sobre ele. Nem seu nome. Nem o motivo de estar ali naquela praia naquela noite.
O homem desviou o olhar primeiro. Deu uma última olhada em Gustavo, um aceno breve e quase imperceptível, e então se afastou, caminhando calmamente pela calçada, sumindo entre as sombras das luzes da orla.
Larissa acompanhou seu caminhar até que ele desaparecesse na multidão.
“Eu nem perguntei seu nome", pensou.
Ela franziu a testa.
"Nem tivemos tempo para isso..."
Mas algo lhe dizia que aquele não seria o último encontro entre eles.
A manhã estava clara e ensolarada, com uma brisa fresca soprando do mar. O movimento na pequena cidade litorânea era tranquilo, turistas começavam a sair para suas atividades matinais, e os moradores locais seguiam sua rotina habitual. Larissa, sua mãe e Gustavo já estavam no carro, prontos para ir embora depois de um fim de semana inesquecível. Mas antes de pegarem a estrada, pararam em um pequeno mercado na esquina da avenida principal. — Vou comprar algumas garrafas de água. Não demoro. — disse Larissa, destravando o cinto e saindo do carro. O sininho da porta tilintou assim que ela entrou. O ar fresco do ar-condicionado contrastava com o calor do lado de fora, e o cheiro de café recém-passado se misturava ao aroma dos produtos expostos. Ela caminhou entre as prateleiras distraída, pegou algumas garrafas de água e seguiu para o caixa. Foi então que parou abruptamente. Ali, à sua frente na fila, estava ele. O homem misterioso que salvara Gustavo. Por um instante, Larissa hesi
O sol começava a se esconder atrás dos prédios altos da cidade quando Larissa estacionou o carro diante do velho edifício de concreto cinzento que chamavam de lar. Era pequeno, com pintura descascando e uma portaria quase sempre vazia, mas ainda assim era o refúgio que ela havia reconstruído com esforço e coragem.Assim que o carro parou, Gustavo soltou o cinto num pulo e saiu correndo, como se estivesse participando de uma maratona.— Ei, rapazinho! — a voz firme e carinhosa de Larissa ecoou logo atrás dele. — Volta aqui e pega as sacolas. Você não vai me deixar carregar tudo sozinha, vai?Gustavo fez uma careta, bufou, mas voltou, pegou sua própria mala e correu outra vez, dessa vez em direção ao elevador.Larissa sorriu, balançando a cabeça diante da energia incansável do irmão. Em seguida, abriu a porta traseira e, com todo cuidado, ajudou a mãe a sair do carro. Giovana estava mais frágil do que nunca, a pele fina como papel, os olhos serenos, porém cansados. Mesmo assim, ainda in
A manhã passou com uma tranquilidade incomum. Larissa mergulhou em tarefas rotineiras, revisando arquivos, ajustando prazos, e trocando e-mails com o grupo de design. Seus dedos deslizavam rápidos pelo teclado, mas sua mente estava em outro lugar — no misterioso convite de William. A reunião da empresa estava marcada para as 16h, e ela tentava manter o foco, mesmo com o relógio se arrastando, como se cada minuto carregasse uma tensão silenciosa.Quando o ponteiro tocou o 11H, Larissa se levantou da mesa com precisão cirúrgica. Organizava seus materiais com a elegância natural que a acompanhava mesmo nos gestos mais simples. Penteou com os dedos uma mecha de cabelo solta, respirou fundo e seguiu pelos corredores da empresa, ignorando o burburinho sobre a chegada do novo chefe.Caminhou até o café habitual, o “Lugar de Sempre”, como William gostava de chamar. Era um cantinho discreto e elegante, onde já haviam se encontrado tantas outras vezes. Como de costume, ela chegou antes, sentand
Larissa ainda sentia o coração aos pulos quando entrou no carro. Suas mãos tremiam levemente no volante, mas o sorriso em seu rosto era impossível de conter. Uma alegria diferente vibrava em seu peito, um tipo de felicidade que fazia tempo que ela não sentia. O peso da vida, das perdas, das responsabilidades... por um momento, tudo parecia ter desaparecido. Era como se o universo tivesse, enfim, lhe devolvido algo.A chave da antiga casa. A promessa cumprida. O carinho silencioso de William. Tudo pulsava dentro dela com a mesma intensidade de um sonho que se torna real. Dirigia distraída pelas ruas movimentadas, os pensamentos voando para lembranças da infância: o jardim florido, as paredes com desenhos feitos por ela e seu pai, a cozinha onde sua mãe assava bolos nos finais de semana...Estava tão imersa em suas lembranças que não viu o semáforo mudar.O som do impacto foi seco e imediato.O carro deu um tranco para frente, o cinto de segurança a segurou com força contra o banco.
Jacob inclinou levemente a cabeça, seus olhos deslizando lentamente pelo rosto de Larissa, como se estivesse memorizando cada traço com uma precisão quase poética. O olhar dele parou por um instante em sua boca, depois subiu de volta até os olhos dela, e então um pequeno sorriso se formou em seus lábios — não um sorriso comum, mas aquele tipo que surge quando alguém sabe exatamente o que está fazendo.— Mas seu carro vai precisar de um reparo, — ele disse, com a voz baixa, grave, carregada de uma calma que parecia proposital. — Se algum guarda te parar dirigindo com as luzes assim, quebradas… você pode acabar sendo multada.Ele falava com uma tranquilidade perigosa, como se cada palavra fosse uma isca lançada em direção a ela. E Larissa... não conseguiu se concentrar no que ele dizia. Suas palavras soavam distantes, abafadas pelo som abafado de seu próprio coração acelerado.Porque, na verdade, tudo o que ela sentia era a mão dele.Aquela mão quente ainda repousava sobre seu ombro — u
Larissa retornou ao trabalho com o coração aos pulos e uma sensação curiosa revirando dentro de si — borboletas no estômago, ansiosas, agitadas, como se cada batida do coração fosse um aviso: algo está mudando. Ela tentou focar no que restava do expediente, mas os pensamentos se negavam a cooperar. A imagem de Jacob — seu olhar, sua voz, o toque quente e seguro em seu ombro — voltava à sua mente como um eco doce e perturbador. Ela mal acreditava no que tinha acontecido. Um jantar? Hoje à noite? Como assim?A reunião das 16h, para a qual ela tanto havia se preparado, acabou não sendo sobre o novo chefe, como todos imaginavam. Em vez disso, foi algo ainda mais surpreendente: a Imperium Beauty estava firmando uma nova parceria com uma renomada agência de propaganda, especializada em campanhas de impacto com modelos selecionadas a dedo para representar grandes marcas. A ideia era ousada: trazer novos rostos para dar vida aos produtos da Imperium, tornando-os ainda mais desejados no merc
Antes de sair, Larissa se inclinou e depositou um beijo leve na testa da mãe. Foi um gesto suave, cotidiano, mas que carregava um carinho imenso. Ela sempre foi assim: inteira nas pequenas coisas. Um toque, um olhar, um sorriso.— Não volta tarde, meu bem — disse a mãe, ajeitando uma mecha do cabelo da filha como fazia quando ela era criança.— Prometo, mamãe — respondeu com um meio sorriso, mas seu olhar estava distante, já projetado em outro lugar... em outro alguém.Ao atravessar a porta, Larissa sentiu o ar da noite tocar sua pele, e foi como se o mundo lá fora a chamasse para algo novo, algo que ela ainda não entendia completamente. Caminhou com passos leves, quase dançantes, como se o corpo soubesse algo que a mente ainda não havia traduzido.Havia uma sensação vibrando dentro de si. Ela não sabia se era ansiedade, desejo ou apenas aquele impulso quase inconsciente de finalmente ser vista — não como a filha dedicada, nem como a irmã preocupada, tampouco como a mulher que segura
Ao entrarem no restaurante, Jacob transformou cada gesto em um ritual de elegância e atenção. Caminhava ao lado de Larissa com uma postura impecável, seus olhos atentos a cada movimento dela, como se quisesse guardar cada instante na memória. Assim que chegaram à mesa, ele puxou delicadamente a cadeira para que ela se sentasse e, com um sorriso discreto, lhe ofereceu o cardápio, seus dedos roçando levemente os dela no processo — um toque quase imperceptível, mas que fez o coração de Larissa bater um pouco mais rápido.Ela agradeceu com um sorriso tímido, e enquanto folheava o cardápio, tentando se concentrar entre entradas e pratos principais, sentia o olhar dele pousado sobre si. Jacob a observava com uma doçura contida, como quem admira algo raro, especial. Seus lábios desenhavam um leve sorriso no canto da boca — um sorriso que não era proposital, era instintivo, nascido da satisfação genuína de estar ali com ela.Logo o garçom se aproximou, os pedidos foram feitos, e quando ficara