4. QUE REENCONTRO

Ao chegarem, Larissa se apressou para o banheiro, precisando desesperadamente da água quente para aliviar a tensão em seus músculos. Enquanto a água escorria por seu corpo, fechou os olhos e tentou apagar as imagens que insistiam em assombrá-la. Mas não importava o quanto tentasse, aquele olhar — aquele olhar intenso e desconhecido — continuava cravado em sua mente. 

Depois de um longo banho, finalmente desligou o chuveiro e se enrolou na toalha, sentindo um leve calafrio ao sair do banheiro. Antes que pudesse dar mais do que dois passos, ouviu a voz doce e curiosa da mãe ecoando pelo quarto. 

— Larissa, querida, ainda vamos sair? 

A jovem respirou fundo antes de abrir a porta, recompondo-se rapidamente. Já vestida, forçou um sorriso para a mãe, que a observava com expectativa. 

— Claro, mamãe — respondeu, tentando parecer animada. — Eu prometi ao Gustavo frutos-do-mar, não posso voltar atrás agora. 

O rosto da mãe se iluminou com um sorriso genuíno, carregado de uma felicidade rara que aqueceu o coração de Larissa, mesmo que por um instante. Ela retribuiu o sorriso, tentando se agarrar àquele pequeno momento de alegria. 

Mas, no fundo, sabia que a tranquilidade daquela noite era apenas uma ilusão passageira. 

A noite caía suavemente sobre a cidade litorânea, e a brisa salgada do mar misturava-se ao aroma convidativo das comidas servidas nos restaurantes à beira da orla. O céu, pontilhado de estrelas, refletia-se nas águas tranquilas, enquanto o som das ondas quebrando na areia se misturava ao burburinho das pessoas que passeavam por ali. 

Larissa caminhava ao lado da mãe e de Gustavo, sentindo o calor ameno da noite envolver sua pele. O jantar tinha sido agradável. Depois do susto que passaram naquela tarde, tudo o que ela queria era um momento de normalidade, longe da tensão que ainda pesava em seu peito. 

— O que acham de uma sobremesa? — perguntou Larissa, com um sorriso gentil. 

Gustavo pulou de empolgação. 

— Sorvete! Quero sorvete! 

Larissa sorriu, balançando a cabeça diante da animação do irmão. 

— Sorvete, então. 

Atravessaram a rua e caminharam em direção a uma barraca charmosa, iluminada por pequenas luzes penduradas no toldo. O cheiro doce de casquinhas frescas e chocolate derretido pairava no ar. 

Mas assim que se aproximaram, Larissa sentiu o coração dar um leve sobressalto. 

Ali, encostado no balcão da barraca, segurando um sorvete de baunilha, estava o homem que horas antes havia salvado Gustavo. 

Ele parecia distraído, observando a rua à sua frente, sem notar a aproximação deles. A luz amarelada da barraca realçava seus traços firmes, os cabelos castanhos levemente desalinhados pela brisa noturna. Seus olhos cor de mel — intensos, profundos como a solidão da noite — pareciam perdidos em algum pensamento distante. 

Antes que Larissa pudesse reagir, Gustavo correu à frente, com sua alegria natural. 

— Oi, moço! — ele exclamou, com um sorriso de orelha a orelha. 

O homem piscou, saindo de seu devaneio. Olhou para baixo e viu o menino, e um pequeno sorriso — discreto, quase imperceptível — curvou seus lábios. 

— Oi, garoto. 

Ele se virou para Larissa e sua mãe, fazendo um leve aceno de cabeça. 

— Boa noite. 

A mãe de Larissa retribuiu o cumprimento com um sorriso educado. 

— Boa noite. 

Larissa, no entanto, permaneceu em silêncio por um instante. Seus olhos fixaram-se nele, analisando-o mais de perto agora que não estavam em meio ao caos do mar. 

Era um homem bonito. Não de uma beleza óbvia, mas de um jeito enigmático que despertava curiosidade. Seu rosto era marcado por expressões sutis, difíceis de decifrar. Havia algo nele — uma certa reserva, uma aura de mistério — que a fez prender a respiração por um instante. 

E então, como se sentisse seu olhar sobre ele, o homem virou ligeiramente a cabeça e a encarou. 

Larissa engoliu em seco. 

O silêncio entre os dois durou apenas um segundo, mas foi o suficiente para fazê-la perceber que não sabia nada sobre ele. Nem seu nome. Nem o motivo de estar ali naquela praia naquela noite. 

O homem desviou o olhar primeiro. Deu uma última olhada em Gustavo, um aceno breve e quase imperceptível, e então se afastou, caminhando calmamente pela calçada, sumindo entre as sombras das luzes da orla. 

Larissa acompanhou seu caminhar até que ele desaparecesse na multidão. 

“Eu nem perguntei seu nome", pensou. 

Ela franziu a testa. 

"Nem tivemos tempo para isso..." 

Mas algo lhe dizia que aquele não seria o último encontro entre eles.

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App

Capítulos relacionados

Último capítulo

Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App