A janela da cozinha de Hayley havia se tornado um ponto estratégico, uma espécie de tela de cinema silenciosa onde a figura de David se movia em seu cotidiano reservado. Desde o breve encontro com a cesta de ervas, uma nova camada de curiosidade e uma palpitação estranha se instalaram em Hayley. Agora, enquanto preparava o almoço ou lavava a louça, seus olhos invariavelmente buscavam a casa vizinha, ansiosos por qualquer vislumbre de seu enigmático vizinho.Hoje, David estava no jardim, curvado sobre o que parecia ser um conserto na mangueira. Seus músculos se moviam sob a camiseta escura, a concentração franzindo levemente sua testa. Hayley sentia um calor percorrer seu corpo ao observá-lo, uma sensação incômoda misturada com uma admiração inegável por sua fisicalidade. Em sua mente, a cena se transformava em um diálogo silencioso, uma projeção de seus próprios anseios e fantasias. "Ele parece tão focado," pensava Hayley, imaginando-se aproximar. "O que será que o preocupa tanto? Ser
A manhã após o jantar tenso amanheceu com uma atmosfera estranhamente calma na casa de Hayley e Marcos. Talvez impulsionado pela conversa da noite anterior ou por uma genuína vontade de reacender a relação, Marcos estava determinado a ter um dia diferente com Hayley. Ele propôs um "dia de spa em casa", com direito a máscaras faciais, massagens improvisadas e óleos perfumados.— Que tal esquecermos de tudo por umas horas? — Marcos sugeriu, com um sorriso esperançoso enquanto tirava alguns produtos de beleza de uma sacola. — Podemos relaxar, cuidar da gente... como nos velhos tempos.Hayley, sentindo-se um pouco culpada pela sua distância emocional na noite anterior e talvez encontrando um breve alívio na atenção de Marcos, aceitou com um pequeno sorriso. — Pode ser bom — ela concordou, um tom hesitante em sua voz.Passaram algumas horas em uma atmosfera quase nostálgica. Riram enquanto aplicavam máscaras verdes um no rosto do outro, parecendo dois adolescentes em um encontro desajeitad
Assim que chegou em casa, a quietude da casa de Hayley pareceu um contraste gritante com a tensão palpável que havia acabado de deixar na casa de David. Mas, em vez da calma que geralmente encontrava ali, uma agitação incomum fervilhava dentro dela. As palavras de David ecoavam em sua mente, emitindo em um lugar profundo e inesperado. Tão madura... tão forte... O elogio, vindo de alguém que ela sempre vira como reservado e distante, havia acendido uma chama estranha e intensa.Uma onda de desejo a percorreu, surpreendente em sua intensidade. Era como se a validação de David tivesse desbloqueado algo adormecido dentro dela, uma necessidade física que a pegou desprevenida. Marcos estava na sala, absorto em um livro, alheio ao turbilhão que se formava dentro de Hayley.Ela o observou por um instante, a luz suave da luminária banhando seus cabelos. Havia uma familiaridade reconfortante em sua presença, mas seus pensamentos estavam turvos, a imagem de David sobrepondo-se à de Marcos em sua
Na manhã seguinte, a luz suave que entrava pela janela encontrou Hayley acordada, os olhos fixos no teto. A lembrança da noite anterior era um turbilhão de sensações e pensamentos conflitantes. A intensidade do sexo com Marcos, a imagem fugaz de David, a preocupação com Sara... tudo se misturava em sua mente, deixando um resíduo de inquietação. Ela sentia o corpo ligeiramente dolorido, uma lembrança física da paixão da noite anterior, mas o vazio emocional persistia.Marcos ressonava suavemente ao seu lado, um semblante tranquilo no rosto. Hayley o observou por um instante, sentindo uma pontada de culpa por seus pensamentos da noite anterior. Ele estava ali, em sua vulnerabilidade adormecida, confiante no amor que compartilhavam, enquanto ela se debatia com desejos e fantasias que o excluíam.Com um suspiro silencioso, ela se levantou da cama, tentando afastar os pensamentos perturbadores como se fossem moscas insistentes. As crianças voltariam hoje da colônia de férias, e a ideia de
Na manhã seguinte, a atmosfera na casa era palpavelmente tensa. Marcos estava mais quieto do que de costume, seus movimentos carregando uma rigidez incomum. Hayley sentia o peso de sua recusa da noite anterior pairando entre eles como uma nuvem escura. Ela tentou se aproximar, oferecendo um abraço, um beijo mais demorado, mas havia uma certa distância em seus olhos, uma cautela que antes não existia.O celular de Sara tocou no meio do café da manhã, o som repentino quebrando o silêncio carregado. Hayley atendeu rapidamente, esperando ouvir uma voz mais animada, um sinal de que sua amiga estava realmente bem.— Oi, Sara! Como você está hoje? Dormiu bem?— Oi, Hay... Estou... bem. Na verdade, liguei para saber se você poderia vir aqui. No hotel. Preciso conversar com você.O tom de Sara era hesitante, quase urgente, o que alarmou Hayley. A calma forçada da ligação anterior havia desaparecido, substituída por uma ansiedade palpável. — Aconteceu alguma coisa? Está tudo bem mesmo, Sara? Vo
No aconchegante Café das Flores, com o suave aroma de café e bolo pairando no ar, Hayley observava o rosto angustiado de Sara. As mãos da amiga tremiam enquanto segurava a xícara, e seus olhos evitavam o contato direto, fixos em algum ponto incerto da mesa de madeira. A atmosfera tranquila do café contrastava fortemente com a tempestade emocional que claramente agitava Sara por dentro.— Sara, você precisa me contar — Hayley insistiu suavemente, sua voz carregada de preocupação. — O que aconteceu com o David? E por que você disse que não era seguro conversar no hotel? Sara finalmente levantou os olhos, e a dor que Hayley viu neles a atingiu como um soco no estômago. Havia confusão, raiva e uma profunda tristeza misturadas ali.— Eu... eu acho que o David está me traindo, Hay — a voz de Sara era um fio, quase inaudível, como se as palavras fossem dolorosas demais para serem pronunciadas. O choque percorreu Hayley. David? Traindo Sara? A imagem do David reservado e aparentemente dedicado
Na quietude do seu quarto, enquanto Marcos dormia profundamente ao seu lado, Hayley permanecia de olhos abertos, o teto escuro como uma tela onde seus pensamentos conflitantes se projetavam incessantemente. O sono se recusava a vir, sua mente agitada pela conversa com Sara no Café das Flores. As palavras da amiga ecoavam em sua cabeça, a dor em seus olhos, a firme convicção de que David a estava traindo.Uma ponta de irritação começou a surgir em meio à preocupação por Sara. Como ela podia sequer suspeitar de algo assim vindo de David? A imagem dele, a compostura fria e distante que sempre exibia, parecia tão incongruente com a ideia de um caso extraconjugal. Hayley sentia uma estranha necessidade de defender David, uma reação que a pegou de surpresa e a deixou ainda mais confusa.E então, ela se lembrou. Sara a havia chamado de "Hay". Aquela pequena abreviação, tão casual e íntima, nunca havia sido usada antes. Sara sempre a chamara de Hayley, com a formalidade carinhosa de uma amiza
A sirene da ambulância cortou o silêncio da noite, ecoando pela rua tranquila e iluminando as fachadas das casas com luzes vermelhas e azuis pulsantes. Vizinhos curiosos surgiram em suas janelas, espiando a agitação repentina na casa outrora pacata de Hayley e Marcos. Os paramédicos, com seus movimentos rápidos e eficientes, entraram na casa, criando um contraste gritante com a atmosfera de pânico que a envolvia. Hayley, com os olhos vermelhos e marejados, tentava manter a compostura, respondendo às perguntas dos socorristas com a voz embargada.Lily foi cuidadosamente colocada na maca, seu pequeno corpo parecendo ainda mais frágil sob o cobertor de emergência. Hayley e Marcos seguiram de perto, seus passos apressados ecoando no asfalto enquanto acompanhavam a filha até a ambulância, a angústia estampada em cada linha de seus rostos. Chloe, Ruby e Owen, despertados abruptamente do sono, agarravam-se às pernas da mãe, seus rostos infantis carregados de confusão e medo, observando a ir