"Com você e Depois de você..." Aiyra e Ethan eram inseparáveis, até que o namoro de Aiyra com o irmão de Ethan os afasta. Quando Aiyra descobre a traição de seu noivo, ela se sente traída também por Ethan, por nunca ter revelado a verdade. Anos se passam sem contato, até que as dívidas do pai de Aiyra com um perigoso bandido a forçam a pedir ajuda a Ethan. Enquanto fogem do vilão que os persegue, Aiyra e Ethan reacendem sua antiga amizade e descobrem sentimentos mais profundos. Contudo, quando tudo parece estar se ajeitando entre eles, um acontecimento inesperado coloca tudo a perder. Aiyra se lança em uma busca por justiça e por um novo começo, mas o destino a leva de volta a Ethan, onde eles precisam enfrentar seus demônios do passado para um futuro juntos.
Leer másAperto o botão do elevador com um sorriso bobo nos lábios. Nem acredito que consegui. Vendi minha primeira letra. Não renderá tanto quanto eu gostaria, mas ainda assim é um sonho. Mal vejo a hora de poder contar para ele.
August e eu temos estado distantes a alguns meses. Depois do anúncio do noivado, não sei… parece que tudo se tornou real demais para nós. O relacionamento é longo, acho que é normal passar por isso. Pelo menos, é o que repito para mim mesma.
Hoje, entretanto, será diferente. Contagiada de alegria como estou, sei que poderemos passar um tempo legal juntos. Nos perder um no outro, sempre fomos bons nisso.
A porta do elevador se abre e saio por ela, apressada. Pego a chave em minha bolsa e destranco a porta do apartamento. Deixo minhas botas na entrada, junto ao meu casaco. Passo pela sala em tons de verde-claro, estranhando o silêncio. É raro eu vir aqui a essa hora, mas sei que ele geralmente só trabalha a tarde.
Minha mão segura a maçaneta, mas paro, meu sorriso esmorecendo devagar. Gemidos roucos, vindo lá de dentro. Abro a porta, mesmo querendo correr dali.
O quarto com as cortinas escuras, bem espaçado, me lembra das diversas noites que passamos aqui. Juntos, nos amando. A cama grande no centro do quarto, mostra o que eu tanto temia.
A mulher loira, com a cintura fina e quadris largos, se movimenta frenética sob o corpo de August. Essa expressão dele... quantas vezes, eu já não a vi?
O maxilar forte tensionado, os olhos castanhos semifechados, perdidos no próprio prazer. Os cabelos escuros estão revoltos. De seus lábios, um rouco gemido sai, enchendo o quarto. A mulher manobra o meu noivo, como tantas vezes, eu mesma o fiz.
Levo a mão aos lábios. Minha visão se tornando turva pelas lágrimas. Mais um gemido preenche o ambiente, mas dessa vez é angustiado, sofrido e é meu.
August abre os olhos e seu rosto se desvia para o ponto do quarto, onde estou.
— Aiyra... — ele pausa, se levantando e jogando a mulher para o lado.
Seu corpo alto e esguio vem em minha direção, a ereção morrendo.
Dou um passo para trás, enojada com sua imagem.
— Você não tinha o direito… — murmuro, a raiva suplantando as lágrimas — Como pode estragar o que tínhamos desse jeito? Como pode me destruir, desse jeito?
August paralisa, o rosto sendo tomado pela culpa.
— Não era para ser assim… — Ele diz, o olhar se desviando para o chão.
— Isso é o máximo que consegue? — rosno, me aproximando de seu rosto.
Nossos olhares se cravam um no outro. O que quer que ele esteja vendo em meu rosto, o faz se retrair, com lágrimas enchendo os olhos. E isso é o máximo que aguento. Estou cheia dessas decepções. De ser ferida por quem eu mais amo. August, foi uma doce ilusão por um tempo.
— Me escute bem. Eu vou passar por essa porta e você não virá atrás de mim, não me ligará e em hipótese alguma, vai tentar me achar depois de hoje. Se o fizer, eu juro que irá se arrepender. — Lhe digo, as palavras sendo despejadas devagar.
August abre os lábios, mas os fecha em seguida. Meu olhar o cala. Ele me conhece e sabe que eu digo a verdade. Passo a mão no rosto, secando as lágrimas e observo seus traços uma última vez.
Viro-me indo em direção a porta do quarto, mas paro antes de passar pelo limiar.
— Eu teria ido até o inferno por você. — Sussurro para ele, antes de sair.
Meus passos apressados ecoam pelo apartamento. Não vejo mais nada, pois agora as lágrimas descem com vontade. Calço minhas botas, as mãos trementes as derrubando. Termino e pego meu casaco, tentando me acalmar. Abro a porta do apartamento e quase trombo com Ethan, que iria bater à porta.
Seus olhos âmbar descem por meu rosto, a expressão passando por surpresa e depois ficando enfurecida. E é por seu olhar que percebo. Ele sabia. Claro, é irmão de August, como não saberia?
— A quanto tempo, Ethan? — lhe pergunto, a voz estrangulada.
Ele passa a mão por seu cabelo negro, o maxilar se tensionando. Ethan sempre fora um dos caras mais lindos que já vi, tanto por fora, quanto por dentro. Ele era meu amigo, meu confidente e me deixou acreditar nessa farsa.
— A alguns meses. — Ele me responde, direto como sempre foi.
— Por que não me contou? Alertou… qualquer coisa… — um soluço irrompe em minha garganta.
Ethan se aproxima de mim, os braços grandes e reconfortantes tentando me aparar. Afasto-me com brusquidão, fechando os punhos ao ponto de doer as articulações.
— Eu tentei Aiyra… Deus sabe o quanto eu tentei. — Sua voz forte, se eleva.
— Deveria ter tentado mais. Se fosse o oposto, eu preferia você com raiva de mim, a te ver sendo enganado como eu fui. — O repondo.
— Por favor, Dakota… — ele usa meu apelido, tão usado desde crianças, seu rosto ficando pálido.
— Não. Nunca mais me chame assim. Pra mim já deu, Ethan! Quero que você e seu irmão vão para o inferno. — grito e passo por ele, com brutalidade.
Sua mão envolve meu pulso, me parando. Seu toque tão conhecido, traz lembranças dos anos em que éramos só adolescentes, passando pelas dificuldades juntos. De alguma forma, saber que Ethan mentiu para mim, dói mais do que saber que August estava transando com outra. Ethan era meu amigo. Ele e Lavínia estavam lá quando perdi minha mãe. Não importava o que acontecesse, o quanto, crescidos estávamos, nós sempre apoiávamos, mutualmente.
— Por favor, não me afaste. Sei como você age quando está magoada. Não faça isso comigo. — Ele pede, a voz oprimida pela emoção.
— Eu não posso, Ethan. — Eu o encaro, minha voz nada mais que um sussurro — Quando olho para você agora, só o que sinto é esse sentimento de traição. Eu… sinceramente não posso.
Muitas coisas passam por seu olhar. Dor, raiva, afeto e finalmente aceitação. Ethan me solta, dando um passo para trás.
— Vou estar aqui Aiyra, como sempre estive. Passe o tempo que for. Me perdoe por não ter dito, mas saiba que vou sempre estar aqui por você. — Ele me diz, um sentimento poderoso se revelando em seu olhar.
Afasto-me afoita e confusa. Ele nunca me mostrou essa parte de si e não sei bem como entendê-lo agora, a dor em meu peito me impede de sequer tentar.
Saio, os sentimentos, meros pedaços do que já foram, mas com a certeza de que vou me levantar. Já passei por coisas piores e não deixarei esse sentimento enganoso me derrubar de novo. Jamais.
AiyraUm ano depoisLevanto de minha cadeira no escritório, a partitura em minhas mãos soando como um sino em minha cabeça. Pego meu violão com um pouco mais de avidez que o necessário, minhas chaves e saio do escritório com pressa.Passo pela cozinha, vendo as crianças brincarem com Isobell e deixo um beijo em cada um, saindo logo em seguida.Nem Isobell ou Heiko nunca mais tocaram no assunto do fim de Farrey e isso foi uma gentileza sem limites da parte deles. Existem noites em que eu sinto a culpa me corroer como ácido, mas logo Ethan está lá por mim, me enjaulando eu seu abraço e eu me aconchego na única prisão da qual eu nunca quero sair.Não importa o quanto machuque ou o que eu tenha que pagar por isso, sempre valerá a pena saber que minha família está bem.Heiko tem voltado com cada vez menos frequência aos Estados Unidos e Isobell tem ficado mais por aqui. Sinto que algo aconteceu entre eles e isso me preocupa, mas enquanto ela não estiver disposta em dividir, não serei eu a
AiyraO silêncio da casa quando retorno é total. Ethan me disse que levaria as crianças para ficar com meu pai mais cedo e isso talvez seja o motivo para tanta calma.Caminho pelos corredores, indo direto para o quarto. Abro a porta, vendo Ethan lá sentado, as duas mãos juntas na frente do corpo e olhar perdido.Ele me vê e se levanta. Me envolvo em seus braços antes de sequer dizer qualquer coisa. Há uma parte em mim aliviada por ter me livrado da minha maior ameaça, mas há também um gosto ruim, como se uma parte boa de mim, estivesse faltando.— Acabou. — Digo e ele me aperta em seus braços.— Eu sinto muito por isso. Quem deveria ter estado lá era eu. Você merecia paz e eu não pude te proporcionar isso. — Ethan confessa. Esfrego meu rosto em seu peito, seu cheiro me enviando uma onda de puro prazer.— Você me proporciona muito mais do que imagina. Não deixe seus pensamentos irem por esse caminho, querido. Farrey era meu dilema e é algo que agora está definitivamente no passado. —
AiyraSinto as palmas de minhas mãos suarem um pouco, sentindo o conhecido sabor do medo em minha boca.O carro que Ethan me deu tem um motor potente e acelero sem pena, a estrada parcialmente deserta a minha frente me disponibilizando isso. Já estou a duas horas nessa viagem e por todo esse tempo o veículo cinza, um conversível simples, não sai da minha cola. No início ele tentava ser mais discreto, se mantendo a algumas quadras de distância, mas à medida que deixamos a cidade movimentada e entramos em áreas mais isoladas, ele ficou mais ousado e eu diria até que se diverte cada vez que eu acelero para me manter mais distante.É ele. Tenho certeza.Nenhum outro, iria ser tão idiota ao ponto de arriscar ser revelado.Farrey quer me caçar, como o grande filho da puta que ele é.Respiro fundo e firmo bem minhas coxas, impedindo que elas tremam ainda mais.Foi arriscado pegar o carro e vir até o interior, mas era preciso.Faz menos de uma semana que enterramos Kiler. Não foi um enterro
Aiyra — O que mudou, Klaus? — Pergunto, minha voz tremendo com o panorama que se ilumina a minha frente.Eu posso morrer agora. Nunca mais verei os rostos dos meus filhos ou poderei dizer a Ethan o quanto eu o amo.Nós poderíamos ter nos entregado ao desejo mais cedo, ter nos envolvido nos braços um do outro ... Por Deus, como eu queria ter o feito.Eu não estaria aqui agora, temendo pela própria vida e me arrependendo de não ter aproveitado o contato do homem que amo.Klaus parece hesitar, algo em seu olhar se torna muito perturbador de se ver.— Eu realmente não a odeio Aiyra, mesmo que tenha ficado muito irritado por você ter levado Isobell de mim. Por sua causa ela voltou pra aquele lugar maldito e isso nem é o pior nessa bagunça toda. — Ele abaixa um pouco a mão com a pistola — Quando soubemos da sua morte, eu estava pronto para deixar para lá e seguir com merda que se tornou minha vida, eu imaginava que Isobell teria fugido e que em algum momento ela me procuraria, mas não. Ela
AiyraAperto meus olhos na direção do endereço que Kiler me enviou, minha moto parada no acostamento. No geral parece ser só um estacionamento. Não sei o motivo de tanta cautela com relação ao que Kiler quer de mim, mas sinto como se eu estivesse prestes a entrar em um vespeiro.A sensação só piora conforme me aproximo.Decidida a acabar com tudo isso eu ligo a minha moto novamente e paro no estacionamento, ao lado do de um carro que se assemelha muito ao de Kiler.Desço da minha moto, retiro meu capacete e ando até a janela do carro. Dou uma breve batida no vidro e me encosto no carro, vendo Kiler sair dele. Sua altura, postura rígida e cabelos escuros são os mesmos, mas há algo em seu olhar que não estava lá antes. É doloroso, primitivo e carregado de culpa.Kiler olha para mim, não da forma fria que ele sempre fazia, mas de verdade. Ele também se deixa mostrar e isso me confunde, pois eu já estava me habituando a ideia de ficar enojada por ele.— Você realmente veio. — Ele diz, um
AiyraA animação dentro do carro é contagiante. Yana fica dando pequenos pulinhos no acento as minhas costas ao ritmo da música alegre que toca nos autofalantes. Ben se contenta em balançar a cabeça algumas vezes, mais concentrado em prestar atenção no que a letra se refere.Tento não ficar eufórica ao imaginar que um deles pode acabar optando pela carreira musical, até mesmo porque eles são muito novos para estar os pressionando com isso agora, mas que seria interessante ter um de meus filhos seguindo os mesmos passos que eu, seria.Enquanto eles ainda podem eu vou preservar suas infâncias, deixa-los serem inocentes e despreocupados o quanto puderem.A música termina e outra começa, uma que eu conheço muito bem, pois ajudei a compor com Vangory.Olho para Ethan, que dirige, seus olhos capturando os meus com um sorriso no canto dos lábios.— É a voz da tia Van! — Yana diz, a animação em pessoa.— É sim filha e advinha quem escreveu essa música? — Ethan a pergunta, seus olhos fixos na
Último capítulo